O arqueólogo João Cascalheira, investigador de pós-doutoramento no Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behaviour (ICArEHB) da Universidade do Algarve, é o primeiro vencedor de um projeto inserido no programa Ellen and Charles Steinmetz Endowment Fund for Archaeology, que apoia a utilização inovadora de tecnologias em âmbito arqueológico.
O projeto vencedor foca-se na evolução das pontas de projétil em pedra durante o Paleolítico Superior, no sudoeste europeu.
As tecnologias de projéteis de longo alcance, como o arco e flecha ou o propulsor, terão sido um importante fator na expansão dos Humanos Modernos a partir de África até ao Oeste eurasiático. As pontas de pedra utilizadas neste tipo de armas de caça têm sido tradicionalmente classificadas com base na sua forma e funcionalidade, permitindo pôr em evidência alterações significativas na sua morfologia ao longo do tempo, mas sem revelarem quais as razões por detrás dessas mudanças e como é que elas beneficiaram essas comunidades nas práticas de caça.
Este projeto vai dotar o ICArEHB com um scanner 3D, o que permitirá construir modelos 3D de peças arqueológicas, que poderão ser impressos a três dimensões, posteriormente.
«Esta nova tecnologia permitirá, ainda, que sejam feitas análises em computador, permitindo visualizar características das peças que não são visíveis a olho nu», explica a UAlg.
Numa primeira fase, o projeto irá permitir criar uma base de dados digital de modelos tridimensionais dos vários tipos de pontas de seta que terão existido há cerca de 30 mil a 10 mil anos, que irá ficar disponível online, livre de custos.
Já numa segunda fase, os modelos 3D irão ser utilizados para realizar testes à performance balística, através do uso de um software de dinâmica de fluidos. Estas análises irão permitir ao investigador construir um perfil balístico para cada um dos tipos de pontas e com isso explorar as potenciais diferenças, vantagens e desvantagens desses elementos enquanto projéteis cinegéticos.
Deste modo, o principal objetivo da análise será tentar compreender melhor o porquê de determinadas morfologias ou tecnologias terem sido preferencialmente escolhidas, em detrimento de outras, ao longo do tempo.
Este projeto é financiado pelo Archaeological Institute of America (AIA).