Imagine uma normal lata de refrigerante, com um satélite no seu interior, construído por si, que consiga, durante uma queda de 1000 metros (com paraquedas), recolher informações de temperatura e pressão. Parece difícil? Há duas equipas de alunos de escolas algarvias a fazê-lo: a Can3E3, da Escola Secundária João de Deus, em Faro, e a CanSat Bus A380, da Escola Secundária Francisco Fernandes Lopes, em Olhão. E ambas até já fazem parte das 15 finalistas portuguesas de um projeto a nível internacional: o CanSat.
Gonçalo Oliveira e Mariana Grenhas são membros da Can3E3. Em conjunto com mais quatro colegas de turma, do 12ºG, com a ajuda de um professor, estão a construir este satélite, que tem de integrar bateria, antena e sensores dentro da lata. O objetivo da equipa é, inclusive, fazer algo diferente na construção do objeto.
«Há duas maneiras de o fazer: usando um arduino ou um raspberry. A maior parte tem usado o arduino, mas nós vamos tentar usar o raspberry, por ser a solução mais simples e fácil», explica Gonçalo Oliveira, ao Sul Informação.
Sendo alunos da área de Ciências e Tecnologias, a participação neste projeto surgiu como natural. «O professor de Aplicações Informáticas propôs às turmas o projeto e descobrimo-lo assim. A vontade de participar veio logo, porque isto está relacionado com a área das engenharias, na qual todos devemos enveredar para o ano, na universidade», conta Mariana Grenhas.
A isto junta-se outro fator: a equipa da Escola Secundária João de Deus ficou, o ano passado, em terceiro lugar neste projeto. E agora a nova equipa quer manter ou até melhorar a performance.
Por agora, ainda não se sabe qual será a classificação da Can3E3, uma vez que a competição, a nível nacional, decorre apenas de 4 a 7 de Maio, na ilha de Santa Maria, nos Açores. Lá, todos os satélites serão lançados por um foguete e, depois, cairão com o paraquedas.
Para serem selecionadas, tanto a equipa de Faro, como a de Olhão, tiveram de enviar, numa primeira fase, «o paraquedas e um relatório a explicar as missões».
Ambiciosos, Gonçalo e Mariana revelam que «se não tivessem esperança» de ganhar, nem tinham concorrido a este Cansat. Apesar disso, «temos noção de que estamos a competir com os melhores», acrescentam.
Nesta competição, há escolas de Lisboa, Porto, Setúbal, Covilhã ou Almada e todas serão avaliadas pelos mesmos parâmetros: divulgação, trabalho de equipa, projeto em si e valor educacional. A vencedora vai disputar uma prova, a nível internacional, na Alemanha, de 28 de Junho a 2 de Julho.
E o tempo de trabalho escasseia para as equipas algarvias. «Temos até 27 de Abril para entregar o relatório final e até 4 de Maio para ter tudo tudo pronto», explicam Mariana e Gonçalo.
Ainda assim, neste momento, esta morosa construção vai avançada. «Temos o paraquedas montado e já medimos a pressão e a temperatura. Só falta ter a lata com tudo lá dentro arrumado e encomendar o sistema de transmissão de vídeo», explica Gonçalo. Isto porque outros dos objetivos da jovem equipa farense é «filmar a queda do satélite».
O nome da equipa, cujo logotipo é mesmo uma lata de refrigerante, tem uma história associada. Can3E3 não é, de todo, algo fácil de decifrar, mas Gonçalo, entre risos, explica.
«Eu e outro membro da equipa – o João – fomos às Olimpíadas da Física no ano passado e nosso nome também tinha “3E3”. E porquê? Porque o “e” é o exponencial. Assim é uma espécie de piada, porque há muitos produtos que acabam em 3000, o que também acontece aqui, porque o 3 com o exponencial “e3” fica 3000». Assim surge o Can3E3… ou Can3000.
Toda a equipa tem dedicado várias horas de trabalho ao projeto, mas o «desafio é interessante e muito prazeroso», dizem Gonçalo e Mariana. E se o tudo isto é para este ano, os louros a retirar da participação no Cansat podem estender-se no tempo.
«As empresas ficam de olhos postos em quem ganhar o Cansat, pelo que é muito bom para o currículo, além da experiência que dá», revela Gonçalo.
Mesmo com os exames à porta, numa altura crucial para a entrada no Ensino Superior, os dois membros da equipa confessam conseguir conciliar tudo com os estudos. «Até temos professores que nos fazem perguntas sobre como vai o projeto», conclui, sorridente, Gonçalo.
Fotos: Pedro Lemos|Sul Informação