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A voz é uma ferramenta muito poderosa, quando amplificada por um microfone e os comunicadores, «seja em que rádio for», têm de ser responsáveis nas mensagens que transmitem e ter a consciência que precisam de «ser verdadeiros e não encarar esta como uma profissão levezinha». A jornalista da Antena 1 Madalena Balça é uma comunicadora bem conhecida, acumulou ao longo de quase 30 anos uma audiência fiel e considera que um dos segredos do seu sucesso é, precisamente, basear aquilo que transmite no princípio da Verdade.

Foi esta a «mensagem principal» que a responsável pelo programa «Rede da Rádio» da Antena 1 transmitiu esta quarta-feira numa palestra na Universidade do Algarve, no âmbito das comemorações dos dez anos da Rádio Universitária do Algarve RUA FM. Visão repetida pouco depois na emissão da RUA, no programa radiofónico Impressões, dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela rádio universitária. Conversa que pode voltar a ser ouvida na íntegra no sábado às 12 horas em 102.7 FM ou no site da RUA FM.

A preocupação com a verdade e em apresentar um produto final o mais autêntico possível pode parecer uma declaração politicamente correta, mas é levada a sério por Madalena Balça. Ao longo da sua carreira foram diversas as situações mais ou menos caricatas por que passou, por insistir neste ponto.

«Já tenho feito figuras muito tristes (risos). Uma vez fui fazer uma reportagem para o “1001 Escolhas” nos Açores e tive de descer por meio de umas pedras e de uns penedos para tirar o som do mar. E quando voltei a subir, o senhor que me tinha levado ali estava rir-se e, no fundo, a gozar comigo e com a minha figura. Ele perguntou-me se eu não tinha lá na rádio sons do Mar e eu disse que sim, tinha, mas não eram do mar dos Açores», contou.

Esta preocupação em captar sons genuínos, mesmo que sejam de situações genéricas do dia-a-dia, que se encontram facilmente no arquivo da RDP ou mesmo na Internet, tem a ver com a convicção da jornalista de que «temos de assentar na verdade». «E só a verdade nos pode garantir credibilidade», acredita.

O poder da voz e da mensagem por ela transmitida acaba por ter outra dimensão na rádio, onde não se comunica apenas, mas também se cria um profundo elo de ligação com o ouvinte. «Quando falamos de som na rádio falamos de palavra, de música, do ambiente sonoro que vaipintando as imagens que transmitimos. Para um profissional, o expoente máximo é, apenas com o som, conseguir a maravilha de colocar um cego a ver», considerou.

E quando usa esta imagem, a comunicadora fala também da sua experiência pessoal. «O 1001 Escolhas esteve no ar 5 anos e a determinada altura passou do domingo para o sábado. Mas a mudança de horário não foi bem publicitada», enquadrou. «Entretanto, eu recebi um telefonema de uma senhora muito indignada, porque o programa não podia acabar e a querer saber para quem podia escrever a reclamar. Depois de ela falar eu informei-a que apenas tinha mudado de horário. E ela disse-me: ainda bem que me diz uma coisa dessas, por que eu sou cega de nascença e com este programa eu vejo. Tive que me sentar para não cair para o chão quando ouvi isto e ainda hoje me arrepio sempre que falo disso», contou Madalena Balça

 

Rádio também pode ser uma rede social

O desafio era criar um programa que «transportasse o conceito das redes sociais para o meio rádio». E nasceu «A Rede da Rádio», programa que Madalena Balça dinamiza sozinha, responsabilizando-se por tudo (ou quase) necessário para o levar para o ar, desde a realização à sonoplastia. Os conteúdos, esses, têm muitas proveniências.

«Quando se fala de interatividade como uma coisa muito moderna, isso é inerente ao nascimento da rádio», considerou. No «A Rede da Rádio», esse conceito é levado ainda mais longe, numa lógica muito inspirada na «novidade da web colaborativa». «O meu mural do facebook é feito por mim, mas também por aqueles que eu permito que entrem. Os conteúdos são produzidos pelos utilizadores e este é um conceito que cada vez mais tem de ser transportado para os meios de comunicação social», disse.

No programa semanal que realiza, Madalena Balça deixa que haja uma «entrada direta» dos ouvintes no programa. «Quem quiser entrar na Rede da rádio só tem de mandar o trabalho e vai para o ar, a menos que tenha conteúdos completamente absurdos. Em quase dois anos de programa só houve uma peça que não entrou e foi por causa de ter demasiadas referências publicitárias. Expliquei isso à autora, que continuou a colaborar com outras peças. O programa é aberto, mas a ”página”, digamos assim, é gerida por mim», disse.

«Há muitos jovens estudantes de comunicação social a aproveitar esta janela que a Rádio Pública lhes abre. Mas também devo dizer que há pessoas que fizeram rádio há muitos anos atrás, que a vida os levou para outro caminho, que usam os novos meios técnicos ao dispor para colaborar e voltar a sentir o prazer de fazer rádio. Também há os que nunca experimentaram e têm curiosidade», acrescentou.

«Não há razões para ter qualquer tipo de inibição. Eu não estou ali para destruir ninguém, antes pelo contrário, estou lá para ajudar, incentivar, promovê-los e trazê-los para este vício que é fazer rádio», concluiu Madalena Balça.

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