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Desfile dos Caloiros FaroAntónio Branco, reitor da Universidade do Algarve (UAlg), considera que a atual geração de alunos nunca participaria em praxes se tivesse outra representação do que é ser-se jovem, assim como «da naturalização da hierarquia e dos jogos em torno das estruturas simbólicas do poder e da humilhação». Estas palavras foram proferidas pelo reitor na apresentação do livro «Praxe e Tradição Académica», de Elísio Estanque, que decorreu na passada semana no Campus de Gambelas da UAlg, em Faro.

António Branco completou esta ideia dizendo que a representação que a sua geração, a «dos anos 60», tem destes fenómenos identifica o jovem como sendo o cidadão responsável por denunciar estas estruturas do poder e humilhação.

Ainda assim, o reitor da UAlg realçou que «a praxe reflete a sociedade». «Os jovens que participam nela não são extraterrestres, mas membros desta», acrescentou. Quanto ao livro – o tema central da sessão – António Branco considerou que  espelha a maneira como a Universidade «deve olhar para estes fenómenos, produzindo conhecimento».

A ideia que o reitor da UAlg tem da praxe ficou bem patente numa conversa que o responsável máximo pela academia algarvia teve com os jornalistas, no final de Outubro.«Eu tenho dito publicamente que a minha posição não é nada favorável às praxes, antes pelo contrário», disse.

Ainda assim, nessa entrevista conjunta, que pode ser ouvida na íntegra aqui, António Branco fez um balanço positivo das praxes na instituição, em 2016, ano marcado pela imposição de diversas regras, pela reitoria, ao processo de acolhimento de novos alunos.

«Em consequência dos acontecimentos do ano passado, nós percebemos que a sociedade é cada vez mais intolerante em relação a comportamentos que interpreta como desviantes, abusivos, excessivos ou irresponsáveis. Como reitor da UAlg, competia-me dar uma resposta tanto para o interior da universidade, como para o exterior», enquadrou.

António Branco_2Para aquele responsável, havia três hipóteses em cima da mesa, duas delas diametralmente opostas: não fazer nada ou proibir totalmente as praxes. António Branco optou pela 3ª via, «provavelmente assumindo alguns riscos, a de proibir determinados comportamentos, em vez da praxe em si».

«O resultado disso foi a necessidade de adaptação muito rápida dos alunos a essas normais, que são normas sociais, morais e legais. Portanto, senti em determinados setores da comunidade estudantil que isso era uma alternativa credível à proibição das praxes. Ainda assim, o balanço é muito satisfatório. Não tivemos sobressaltos e não houve uma queixa, ao contrário do ano passado, em que houve mais do que uma», assegurou.

No livro que escreveu e apresentou há dias no Algarve, Elísio Estanque, que é professor em Coimbra, cidade-mãe deste fenómeno, procurou mostrar os lados bons e maus da praxe. Para tal,  o autor recolheu depoimentos tanto de jovens que gostaram da experiência, como de outros com a opinião contrária. «Não sou a favor da proibição da praxe. Sou, ao invés, a favor da reflexão e da compreensão do que isto significa do ponto de vista sociológico e cultural», disse.

Confessando que já assistiu a situações mais problemáticas, Elísio Estanque também disse que as chamadas «praxes alternativas», podem «ter propósitos humanitários». Na época de praxe do atual ano letivo, o Sul Informação foi conhecer um destes casos.

Também presente nesta apresentação, Filipa Braz da Silva, anterior presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, reconheceu, no seguimento das palavras de António Branco, que a atual geração de jovens «aceita melhor a autoridade».

Já Pedro Vitorino, membro da comissão de praxes do curso de Engenharia Civil, disse que «a culpa das praxes estarem na ordem do dia é nossa». O aluno da UAlg considerou, ainda assim, que, na Universidade do Algarve, as praxes estão «a correr bem melhor, também devido ao apoio desta reitoria».

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