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IMG_2124Quando se pensa em biodiversidade marinha, pensa-se em peixes ou algas, mas há muito mais para descobrir nos oceanos. Para mais porque, apesar de serem responsáveis por 80% da vida existente na Terra, os cientistas estudaram menos de 5% deste ecossistema.

Para conhecer um pouco mais sobre os oceanos e sobre os micro-organismos que lá habitam, foi criado o Ocean Sampling Day, um projeto a nível mundial, que, no dia 21 de junho, à mesma hora, recolheu amostras de água do mar em locais tão distantes como o Ártico ou a Praia de Faro.

No Algarve, o Microbial Ecology and Evolution Laboratory do CCMAR da UAlg participou na experiência. André Soares, Tina Keller e Telma Franco explicaram ao Sul Informação no que consiste este projeto e qual foi a sua colaboração, recolhendo amostras na Praia de Faro e na Ria Formosa.

«O objetivo geral é, entre os oceanos no Mundo inteiro, perceber não só o que lá está, mas também as funções. Nós sabemos que os microrganismos no oceano fazem a maior parte da reciclagem dos nutrientes, o chamado biochemical cycling», explicou Tina Keller.

«A ideia é fazer uma amostragem no mesmo dia, à mesma hora, em todo o mundo, com o mesmo protocolo. Isso permite comparar todos os locais, saber o que lá está e a sua função», acrescentou.

Em todo o Mundo, participaram na iniciativa 191 laboratórios que recolheram amostras desde o Ártico até, neste caso, à Ria Formosa. «É um esforço mundial incrível!». O primeiro OSD foi feito no ano passado e o objetivo é continuar a realizá-lo, para que se possa conhecer a evolução dos oceanos.

IMG_2137«Esperamos que continue, porque era interessante comparar durante um período grande para conseguir ver as mudanças. Falamos muito de alterações climáticas e é importante fazer estas recolhas durante 10 ou 20 anos, para ver o que está a mudar, até porque as recolhas não tiram apenas dados sobre a biodiversidade microbiana, mas também sobre a salinidade, a temperatura da água, os nutrientes, ou o ph» refere Tina Keller.

Os primeiros resultados de 2014 saíram recentemente e começam agora a ser analisados, até porque os dados recolhidos são enviados para a Alemanha, onde são interpretados e “devolvidos” para análise aos laboratórios. «O que acontece é que participamos gratuitamente, damos os bocadinhos do nosso ambiente, eles sequenciam e dão-nos a informação», explica André Soares.

«A análise leva tempo, é uma organização enorme. Todas as amostras vão para a Alemanha, onde é feita uma extração do ADN, depois é preciso sequenciar tudo, segue para o Reino Unido e depois é que saem os resultados. Há um core team para fazer análise mundial, depois todos os laboratórios envolvidos recebem os resultados que podem ser usados para analisar, ou fazer artigos», acrescenta Tina Keller.

IMG_2142Mas como se processa a recolha da amostragem de água? Bastará enviar garrafas cheias de água para a Alemanha? Tina Keller explica que não: «recolhemos cinco amostras em cada local, temos um filtro pelo qual a água passa, e todas as células microbianas ficam presas. Por cada filtro passam cerca de cinco litros de água».

No entanto, o OSD não está aberto apenas a cientistas. Qualquer pessoa pode participar na recolha destes dados através do projeto paralelo MyOSD. Os interessados recebem um kit, também com um filtro e com uma seringa. André Soares coordenou uma amostragem deste género na Ilha da Armona e o Centro de Ciência Viva de Faro recolheu amostras em frente às Portas do Mar. Neste caso, os dados são primeiro enviados para o Porto e depois enviados para a Alemanha.

Se é fácil assumir que há diferenças entre água recolhida no Sri Lanka e em Portugal, também há diferenças grandes entre a água recolhida na Praia de Faro e na Ria Formosa, a poucas centenas de metros?

«As condições são diferentes, a temperatura da água é diferente. A Praia de Faro tem areia, há mais turbulências. Com base nos resultados do ano passado, já descobrimos que há uma diferença na abundância de seres, de um lado para outro», dentro da zona lagunar e no mar aberto, responde André Soares.

IMG_2146Para além do conhecimento científico, há avanços que podem surgir de um maior aprofundamento sobre o que habita o mar. «Podemos ver quais os compostos que podem ser produzidos. Vemos o que estão a produzir estes microrganismos e isto pode ser levado para outro nível. Eventualmente, podemos testar genes e moléculas descobertas, para questões biomédicas e biotecnológicas. A este nível é muito exploratório, podemos não encontrar nada aqui, mas, em princípio, encontramos sempre. Vai é demorar algum tempo», conclui André Soares.

O Ocean Sampling Day and MyOSD são financiados pela União Europeia como parte do Micro B3 Project. Os projetos são coordenados pela Jacobs University de Bremen, na Alemanha, e pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

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