No mesmo dia 17 de janeiro em que a Estação Meteorológica da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, registou uma rajada de vento com o valor record de 175 km/h, houve uma tromba de água ao largo da Praia da Luz e ainda um possível tornado a Norte de Estômbar, revela Bruno Gonçalves, do site Meteofontes.
Quanto à rajada de 175 km/h em Portimão, o valor pareceu muito elevado na altura, mas, entretanto, a situação já foi devidamente analisada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e existe já um artigo sobre o caso no Meteoglobal.
Em resumo, existiram duas supercélulas na zona, uma que deu origem à tromba de água e outra que passou por Portimão, sendo que Paulo Pinto, autor do artigo no Meteoglobal, não fala em Downburst, como é avançado pelo grupo de professores de Geografia da Escola Secundária de Portimão, mas inclina-se para a hipótese de ter ocorrido um “lowering” ou “Wall cloud” (abaixamento da base das nuvens, apresentando alguma rotação, e que pode ser um percursor de tornados), ou um pequeno vórtice de sucção, embebido na precipitação intensa que se fazia sentir na altura e que, sem se saber se chegou a tocar no solo, poderá ter afetado o anemómetro daquela escola, localizado a 20 metros do solo.
Entretanto, nesse mesmo dia, Bruno Gonçalves avistou uma “Wall cloud“, por volta das 11h50, a partir de Lagoa e na direcção W-SW.
Depois, em conversa com algumas pessoas, chegou ao conhecimento do Meteofontes que, numa zona a Norte de Estômbar, teria ocorrido «um fenómeno mais extremo, possivelmente um tornado, dados os danos causados numa pequena propriedade».
Na altura, não foi possível a deslocação ao local, o que apenas sucedeu na passada semana, onde o meteorologista amador do Meteofontes falou com o casal residente na propriedade, que contou o que ali se passou, bem como mostrou alguns dos danos provocados, essencialmente algumas árvores com ramos partidos.
A senhora, que estava em casa na altura, relatou: «Estava a sair de casa e, ao abrir a porta, comecei a ouvir um barulho cada vez maior e a sentir o vento com mais força…só tive tempo para entrar em casa e fechar a porta, ficando a segurá-la no lado de dentro. O barulho foi ensurdecedor e só se ouvia as coisas a bater nas paredes da casa».
O senhor, que estava numa propriedade vizinha, relatou: «Estava a falar com o meu vizinho e, na altura, não se sentia vento nenhum. Olhei na direção do mar [para W-SW] e comecei a ver as nuvens a vir muito depressa na nossa direção e a subirem também rapidamente…disse-lhe logo que vinha aí temporal e refugiamo-nos em casa, por precaução…».
Além dos estragos verificados, sobretudo em árvores, também a viatura do casal ficou danificada (“picada”) pelos pequenos detritos que andaram no ar e levou com uma telha em cima, causando um pequeno dano, entretanto já reparado.
O galinheiro ali existente também ficou parcialmente destruído, enquanto uma das telhas de zinco voou cerca de 50 metros para Leste. «E um outro aspeto interessante, uma cobertura/telhado em plástico, existente na zona mais a Leste da propriedade, voou para Oeste, ficando encostada à parede de casa».
O meteorologista apurou que a zona afetada terá sido principalmente esta propriedade. Os estragos foram causados em alfarrobeiras que ficaram com ramos partidos e em amendoeiras tombadas pela raiz. Na envolvente, não parecem existir mais árvores afetadas.
Na opinião de Bruno Gonçalves, tendo em conta os estragos observados e os relatos do casal tratou-se de um tornado de fraca intensidade.
Com base também em imagens de radar cedidas pelo IPMA (onde está representada a “Storm Relative Velocity”, a partir da qual se consegue identificar o campo da velocidade que mostra as circulações contornantes de uma Supercélula), verifica-se que a supercélula que afetou a zona de Portimão, 10 minutos depois, estava localizada sobre o local agora em análise, a norte de Estômbar, «suportando ainda mais a tese da ocorrência de um tornado de intensidade correspondente ao início da escala Fujita», acrescenta.
«O curioso, aqui, é constatar que a mesma estrutura convectiva tem potencial para, de um modo recorrente, produzir formas de tempo severo (neste caso, tornado) ao longo do respetivo ciclo de vida. Não se sabendo exatamente se se tratou da mesma circulação que terá afetado a Escola, parece evidente, tratando-se da mesma circulação ou não, que a escola terá sido afetada por um “lowering”, enquanto a Norte de Estômbar houve mesmo contacto com o solo e, por isso, um tornado (embora passageiro, ao que se sabe)».
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