De um lado, ultimam-se os preparativos para o primeiro showcooking sobre Dieta Mediterrânica. Do outro, estão em plena fase de montagem da curta-metragem «A Corda». Estas são as últimas novidades das empresas dos dois empreendedores que, no mês passado, foram os convidados para mais uma conversa da série Beta Talk, em Portimão.
O showcooking vai ter lugar na sexta-feira, no espaço da Tertúlia Algarvia, em Faro, empresa da qual João Amaro é um dos sócios e fundadores.
O filme em fase de montagem é a nova «aventura» da jovem produtora We Make Productions, que tem Pedro Águas como um dos sócios e fundadores.
Ambos estiveram no café-concerto do Teatro Municipal de Portimão, para apresentar os seus projetos, os seus percursos de vida e, sobretudo, para debater com o público o que é isto de ser empreendedor. E o que se descobriu foi que, para ser empresário neste país, é preciso juntar ao espírito empreendedor uma boa dose de persistência.
A Tertúlia Algarvia, situada nas traseiras da Sé e de frente para o largo do Museu Municipal, na Vila-Adentro de Faro, é o mais recente projeto de João Amaro, que veio para o Algarve estudar e jogar basquetebol, se licenciou em engenharia alimentar, fundou diversas empresas, trabalhou no IAPMEI, foi diretor do CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve.
O novo espaço gastronómico e cultural de Faro foi criado numa antiga casa do século XVIII, que chegou a pertencer ao Cabido da Sé. Depois do projeto de adaptação, é agora um restaurante, uma casa de petiscos, mas também um espaço para workshops, cursos, exposições, serões culturais, eventos variados, que abriu no dia 26 de agosto, depois de um processo atribulado que se prolongou ao longo de anos.
Ao todo, a Tertúlia Algarvia vai permitir criar 16 novos postos de trabalho permanentes, 12 na área da restauração e eventos e quatro no setor administrativo.
Para dar corpo à Tertúlia, os materiais – a pedra, a madeira, os tijolos – são provenientes «quase todos de fornecedores locais», enquanto o mobiliário interior, em cortiça, foi concebido por designers algarvios e produzido por artesão da região.
É que, explica o empresário, «o conceito passa por privilegiar e mostrar o que de bom temos no Algarve, quer ao nível da comida, quer das artes e ofícios».
Ambição maior que a carteira
João Amaro, que se apresenta como o «sonhador executivo» do projeto, salienta que, nisto de criar empresas e dar corpo a projetos, «a ambição é sempre maior que a nossa carteira».
Com a experiência que os vários anos a viver no mundo dos negócios lhe dá, Amaro salienta que «empreender tem a ver com a gestão da frustração e dos defeitos, muitos defeitos. Isso só não acontece a quem não faz nada, porque o nada não tem defeitos. Mas quem faz tem que saber que há coisas que vão, naturalmente, correr mal, há defeitos. Por isso, para se ser empreendedor, é preciso ter estofo. Isto é como ter um filho – a gente lê os livros todos, vê como deve ser, mas quando o filho nasce, não dorme, não come. Mas quando ele dá um grande sorriso é a felicidade!».
A Tertúlia Algarvia, que já começou a receber exposições, apresenta, neste momento e até dia 7 de novembro, a mostra «Design&Ofícios», com os resultados da terceira edição do projeto com o mesmo nome.
«Já tivemos, no âmbito dessa exposição, um workshop de empreita para crianças», acrescenta João Amaro. Na sexta-feira, e depois de ficar pronto o espaço para os showcookings, a Tertúlia Algarvia promove um evento para a Fundação Portuguesa de Cardiologia, apenas aberto a convidados, sobre a Dieta Mediterrânica. «O ensaio geral é este evento de sexta-feira, para depois começarmos a promove workshops de gastronomia com periodicidade semanal».
Um mau aluno que se torna empreendedor
É também de muita teimosia e persistência que se faz o percurso de Pedro Águas, da produtora de vídeo We Make Productions. Licenciado em Design de Comunicação pela Universidade do Algarve, Pedro Águas começou o seu percurso empreendedor ainda quando estudava na Escola Secundária Poeta António Aleixo (ESPAA), de Portimão, com um projeto chamado “PC Fix”.
«Eu não gostava muito da escola, por isso puseram-me numa turma de CEF. São pessoas que os outros pensam que não fazem nada, que são mais ou menos delinquentes. Mas foi nessa turma, no 12º ano, que eu me tornei empreendedor. A Dra. Isabel Quirino [psicóloga da ESPAA, presente na Beta Talk], desafiou-nos a criar a nossa própria loja dentro da escola, uma loja de reparação de computadores e periféricos. E foi o que fizemos, criando a PC Fiz. Aquilo levou-nos quase o ano letivo todo, acabámos por só funcionar durante mês e meio, mas mesmo assim ganhámos 200 euros. Foi um êxito!».
Sempre com vontade de fazer algo mais, no 2º ano da licenciatura, desafiado por um colega, o Ricardo, Pedro Águas dá início à We Make Productions. Com o desenrolar do tempo, este projeto ganhou forma e entrou no mercado regional da publicidade.
Porque o financiamento é sempre a grande dificuldade de quem está a começar, a We Make recorreu ao crowdfunding, o financiamento coletivo através da internet, e teve sucesso, porque muita gente acreditou no projeto e contribuiu.
Ao longo dos seus ainda curtos dois anos de existência, a We Make Productions já conta, entre os seus clientes, com a APPC, Ativar Tavira, Projeto Querença, Sagres Surf Culture, Câmara de Monchique, Algarve Women’s Business Network, as bandas algarvias Killing Electronica ou Monology, entre outras. Tem ainda parcerias estratégicas com outras empresas algarvias, como a Niobo ou a Dominios.pt/Flesk Telecom.
A aventura do cinema
Mas este ano, a empresa meteu-se em nova «aventura» e entrou no mundo do cinema, como produtora executiva da curta metragem “A Corda”, do realizador Luís Caracinha. E é na fase de montagem que o filme está agora.
Também aqui as peripécias têm sido muitas, com o orçamento primeiro a aumentar, enquanto estavam na fase de pré-produção e tudo parecia possível, e depois a diminuir, na fase de produção, com os pés assentes na realidade.
Também aqui a We Make lançou uma campanha de crowdfunding, embora não tão bem sucedida como a primeira. Mas o dinheiro obtido está a ser vital para terminar a curta metragem que a empresa quer agora apresentar em festivais por todo o mundo. «Com o apoio da Algarve Film Comission, queremos levar o filme a Cannes».
«Nestas coisas do cinema, são sempre os mesmos que conseguem os apoios do ICA. Quem está a começar, como nós, praticamente tem as portas fechadas», lamenta Pedro Águas. Para o seu projeto do filme «A Corda» foi fundamental também o apoio do realizador André Badalo, também ele algarvio e jovem.
O filme, agora em fase de pós-produção, vai estrear em 2014. Quando estrear e depois dos festivais, conta ainda Pedro Águas, «vamos fazer um leilão do guarda-roupa e de outros adereços, e com esse dinheiro vamos oferecer a uma instituição, neste caso a APPC de Faro, um plasma com home cinema».
Pelo meio de tudo isto, com a sua namorada Inês Vargem, o Pedro ainda se meteu num outro negócio, o dos «Beliscos d’Açúcar». Mas este é um tema a que o Sul Informação voltará depois.
«Eu sou mais empreendedor para além da We Make, porque ser empreendedor não é só criar uma empresa, é ser inovador».
Apesar de todas as dificuldades que já enfrentou na sua ainda curta vida de empresário, Pedro Águas recomenda: «não desistam!». «Empreender é a coisa mais difícil do mundo, mas não desistam, porque o desafio é precisamente superar as coisas más». Aqui fica o conselho!
Hoje há mais uma Beta Talk
Jorge Luz, diretor geral da Itelmatis Control Systems, e Nuno Bernardino Vieira, presidente da Teia D’Impulsos – Associação Social, Cultural e Desportiva, são os convidados de outubro de mais uma Beta Talk, marcada para dia 16, às 19 horas, desta vez, e excecionalmente, na Black Box do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão.
Como é habitual, a participação é totalmente grátis, embora seja necessária inscrição em http://betatalk-outubro.eventbrite.com/ , ficando o wine-break por conta de quem vem, pelo que os participantes são convidados a trazer vinho (ou sumo) e snacks para partilhar.
Fotos de: Duarte Costa/Etic_Algarve