Vou agora sair de casa para ir comprar os jornais, mas até me custa ir a Lagoa…No fim do ano, fechou a Papelaria Celinha, onde eu comprava, desde há muitos anos, os jornais.
Segundo o senhor Vítor, dono da Papelaria Celinha, nos últimos tempos já quase ninguém comprava jornais ou revistas…e o facto de, só no ano passado, ter sido assaltado três vezes, duas delas em plena luz do dia, para lhe roubarem os parcos lucros e o tabaco, não deve ter ajudado muito à boa saúde da sua casa.
Esta foi apenas mais uma loja do comércio tradicional a fechar na moribunda “cidade” de Lagoa (reparem nas aspas).
Também no fim do ano fechou, em Lagoa, o restaurante Lótus, junto à bomba da GALP, certamente o restaurante mais antigo da terra, ainda em funcionamento.
Abriu há cerca de 40 anos, como restaurante chinês/oriental (daí o nome), nos tempos em que não havia nada do género na região. Mas não vingou.
E depressa foi transformado em restaurante português, algarvio, onde se comia boa comida regional. Não sei há quanto tempo o senhor Borges estava à frente do Lótus, mas o seu restaurante chegou a ser uma referência da boa gastronomia algarvia.
Nos tempos de maior sucesso, nos anos 70/80, o Lótus e a cervejaria ao lado (que servia a mesma comida, mas em doses mais pequenas e petisqueiras) chegavam a ter filas à porta!
Nos últimos tempos, as coisas andavam muito paradas, quase sem movimento em alguns dias…e o senhor Borges resolveu fechar a casa e reformar-se. E assim Lagoa deixou de ter o seu único bom restaurante.
Sei bem que esta agonia dos negócios tradicionais não é exclusiva de Lagoa. Em Portimão, basta dar uma volta pelas ruas do centro antigo e logo se vê a quantidade de lojas, cafés, quiosques e outros pequenos comércios que estão de portas fechadas…
Aqui há tempos reparei que em Tavira estava para fechar a Papelaria Quinito, casa com muitas tradições…
Esta agonia é o resultado de muita coisa, desde a mudança dos hábitos à proliferação explosiva dos centros comerciais, ou mesmo à falta de capacidade da maioria dos comerciantes para se modernizarem – em horários, em aspeto das lojas, em produtos – e se adaptarem aos novos tempos.
Mas, sejam quais foram as razões, a verdade é que, com esta agonia, está também em causa a sobrevivência das nossas vilas e cidades, cada vez mais desertificadas, mais às escuras, mais inseguras, mais feias e menos atrativas.
No caso de Lagoa, que é a minha terra, o que me faz mais impressão é que ninguém pareça pensar nisto… Então, lagoenses, o que têm a dizer sobre o rumo da nossa terra?