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Uma fábrica de transformação de alfarroba que estava abandonada, em Faro, é hoje uma “Fábrica de Sentidos”. A ideia de criar um sítio onde os artistas se pudessem reunir, mostrar e vender a sua arte já estava na cabeça de Mató – o principal impulsionador do projeto – desde os 15 anos. Viajou pelo mundo, regressou ao Algarve, e inspirado pelos casos de sucesso de projetos deste género, onde participou no estrangeiro, avançou para a criação deste espaço, nas traseiras da Escola Superior de Saúde, do lado de lá da linha do comboio.

«Na minha cabeça este é um projeto que fazia sentido há muitos anos para colmatar uma carência que havia aqui. No país já existem outros projetos semelhantes, ainda que poucos. Este é um projeto cooperativo, inspirado nos movimentos cooperativos que surgiram na Europa a partir do Maio de 68. Em Portugal, apareceram também, no pós 25 de Abril, mas mais a nível de agricultura, não a nível artístico», explicou Mató, no programa Impressões da RUA FM, em parceria com o Sul Informação.

Para além de os artistas ganharem um espaço para mostrar e comercializar o seu trabalho, há outras vantagens que advêem da partilha de um espaço comum e já começaram a surgir projetos conjuntos. «Por vezes os artistas têm o defeito de desenvolver o seu processo criativo numa base individual. Até aqui, as coisas têm funcionado na base de “cada um por si”, mas quisemos contrariar essa dinâmica. A interligação entre trabalhos de artistas podem levar a novas formas de expressão, algo que já começou a acontecer na Fábrica dos Sentidos. O oleiro estava no outro dia a desenvolver um trabalho com cintos com a costureira e o cabeleireiro, que vai trabalhar com produtos naturais que atualmente só existem na Suécia e têm de ser importados, começou a falar com a pessoa que faz produtos naturais e já começaram a especular se podiam criar esses produtos aqui, inclusive para exportar», contou Mató.

Por isso, a Fábrica dos Sentidos pode ser, para Mató, um ninho de empresas artísticas. «A forma como vemos a Fábrica é sempre na perspetiva de pessoas que lutam por um lugar no mercado, com ofertas de produtos originais. A ideia é que consigam tornar-se marcas internacionais e que aquele espaço comece a ser demasiado pequeno para eles».

Ao todo, são 4500 metros quadrados de área coberta, cada artista com 15 metros quadrados para desenvolver o seu trabalho, mas a Fábrica dos Sentidos está em fase de desenvolvimento e há potencialidades do local que serão desenvolvidas com o passar do tempo. «Há uma área descoberta de 1800 metros quadrados que vamos requalificar, depois há uma área comum com as outras fábricas, que permite fazer qualquer evento ou montar qualquer estrutura, que tem 15 mil metros quadrados».

A Fábrica dos Sentidos vai ainda contar com estúdios, salas de dança, salas de ensaios e a companhia de artistas de circo contemporâneo Armazém 13 vai ali ter uma escola de formação de números aéreos.

Tudo a nível de espaço foi pensado ao pormenor, depois de uma primeira possibilidade que se gorou em Albufeira. «O espaço pareceu-nos interessante. Quase ficámos em Albufeira no antigo parque aquático em frente ao Hotel Montechoro, chegámos a ter contrato. No entanto, foi-nos pedido para a instalação para a eletricidade 60 mil euros para passar 30 metros de cabo. Contrapropusémos, mas acabámos por desistir do espaço devido aos custos e, por estratégia repensámos o projeto. Pensámos no local com o maior número de população residente fixa, que é Faro, com Tavira, Loulé, Olhão ou Quarteira, tudo muito perto. Além disso é a zona onde existe maior comunidade de estrangeiros no Algarve», explicou.

A razão pela qual pensou nos estrangeiros ao implementar o projeto foi prontamente explicada por Mató: «Os estrangeiros são pessoas, à partida, com maior know-how em termos de cultura e, à partida, mais interessados naquilo que fazemos. É uma comunidade ativa e organizada, têm uma dinâmica muito grande que nós, quando pensámos nisto, tivemos em consideração».

O impulsionador da Fábrica dos Sentidos realça ainda os benefícios que o projeto pode trazer àquela zona da cidade de Faro. «Estamos localizados no centro da cidade, mas numa zona que tem sido negligenciada. Em qualquer cidade onde exista água, temos de estar virados para o mar. A Câmara Municipal quer requalificar a zona e nós também o estamos a fazer, numa nova oferta credível para a cidade».

Para ter um espaço na Fábrica dos Sentidos, basta, segundo Mató, «ir lá, falar connosco, conhecer o sítio, escolher a zona onde se pretende instalar. A única limitação que temos é o princípio de não existir concorrência direta entre os artistas que lá estão instalados. Desde que sejam coisas diferentes do que já existe…».

O valor da renda, esse, é «simbólico»: 75 euros, com água e luz incluída.

 

 

Veja aqui as fotos:

 

 

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