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A associação Almargem pede, num comunicado divulgado esta quinta-feira, 19 de Outubro, que os «responsáveis do Município de Lagos promovam, com a máxima urgência, uma discussão pública alargada» em torno das obras, que já começaram, na Ponta da Piedade.

De acordo com aquela associação, «se, em 2015, a lamentável destruição da paisagem idílica e natural da Praia de Dona Ana se desculpou com a preocupação em garantir a segurança das pessoas face ao risco de desabamento das falésias, a intervenção em curso na Ponta da Piedade assenta numa suposta tentativa de reduzir o impacto dos visitantes sobre os frágeis ecossistemas costeiros».

O projeto, que avançou, agora, por iniciativa do Ministério do Ambiente, é apoiado pelo Município de Lagos, e foi concebido pela «HB, uma empresa de arquitetura paisagística – quase exclusivamente envolvida em projetos de parques urbanos e resorts turísticos, incluindo o “Cascade Resort” – que também se disponibilizou para apoiar financeiramente este projeto até porque os seus proprietários detêm boa parte dos terrenos em volta da Ponta da Piedade», diz a Almargem.

A primeira fase das obras, entre o “Cascade Resort” e a Ponta da Piedade, já está no terreno (com conclusão prevista para o último trimestre deste ano). A ideia é criar «passadiços de madeira e pisos de gravilha cobertos com betão poroso», diz a Almargem.

«Quer uma, quer outra destas intervenções têm impactos negativos relevantes sobre o ambiente», acrescenta.

Tais como? «A introdução de barreiras e elementos visuais desfiguradores da paisagem natural, uma maior impermeabilização do solo e alguma destruição do substrato rochoso e da vegetação envolvente».

«Por outro lado, não impedem, de modo algum, a continuação do acesso excessivo dos visitantes a outros caminhos, sobretudo os que ficam mais perto da beira das falésias», considera a associação.

A solução mais adequada, no entender da Almargem, «e, obviamente, muito menos custosa para o erário público, seria garantir a boa manutenção dos caminhos principais, balizando-os com pequenas estacas e cordas, além de promover o crescimento da vegetação natural sobre os restantes acessos e veredas de forma a desincentivar a sua utilização».

Logo que o Município de Lagos divulgou a sua intenção em avançar com este projeto, a Almargem propôs que ele fosse posto à consideração dos cidadãos através de uma apresentação pública.

«Infelizmente, tal proposta não foi aceite pelo Município, que se limitou a seguir as ideias da APA e da HB, com os resultados que estão agora à vista de todos».

Além das obras em curso, está prevista uma segunda fase de muito maior dimensão, «com a qual se pretende replicar o mesmo tipo de intervenções ao longo da orla costeira entre a Ponta da Piedade e a Praia de Dona Ana».

A situação aqui torna-se «ainda maior preocupante». É que, segundo a Almargem, «pelo menos dois dos proprietários dos terrenos envolvidos querem com isto assegurar um chorudo negócio, tendo já vedado ilegalmente os seus terrenos, o que impede a passagem de caminhantes pelos trilhos existentes, e procurando garantir que, de duas ou três velhas ruínas, situadas em pleno espaço de proteção natural das falésias, nasça o maior número possível de luxuosas moradias».

Juntando a isto, «está previsto o alargamento da estrada da Ponta da Piedade, o que iria potenciar um aumento insustentável do acesso a esta zona emblemática do concelho de Lagos».

Nesta discussão pública sugerida pela Almargem, a ideia era aproveitar para «se fazer uma análise crítica da primeira fase em curso, garantindo o melhor dos consensos sobre a segunda fase da intervenção que está prevista».

«Só assim, o nome de Sophia de Mello Breyner poderá ser associado, de forma respeitosa e justa, a esta obra», conclui.

Na tomada de posse para novo mandato à frente da Câmara de Lagos, na semana passada, Joaquina Matos (PS) também falou destas obras, prometendo: «continuaremos a requalificação da Ponta da Piedade», que apresentou como uma «intervenção sustentável», «dirigida à requalificação do espaço».

 

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