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Duas ameaças de greve de fome, uma das quais consumada, forçaram a administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) a agir rapidamente, para ir ao encontro das reivindicações de uma utente e de um médico.

A utente acabou por não consumar a ameaça, depois de lhe ter sido garantido o medicamento de que necessita para tratar o cancro que a afeta, mas o médico Pedro Larisma avançou com o protesto ontem, segunda-feira, tendo recebido garantias, esta terça-feira, que lhe iria ser paga uma dívida antiga por prestação de serviços no Hospital de Faro.

Pedro Larisma revelou ao Sul Informação que decidiu avançar para esta forma de protesto depois de esperar «mais de um ano» pelo pagamento de serviços prestados ao longo de mais de 8 meses, em 2012. «Fiz todas as tentativas para que me fosse pago esse dinheiro. Cartas, reuniões e advogados, mas não deu em nada», contou.

Cansado de aguardar por uma resposta, decidiu avançar para uma forma de protesto mais dura, algo que teve logo efeitos. «Na altura em que ameacei, pagaram-me logo seis meses. Mas ainda faltavam três meses, por isso avancei na mesma», referiu.

Esta terça-feira de manhã, Pedro Larisma afirma ter mantido uma nova reunião com o Conselho de Administração do CHA, durante a qual terá recebido a garantia de que o restante valor iria ser pago. «Apresentei todos os documentos, nomeadamente as folhas de serviço assinadas. Não há qualquer base legal para não me pagarem», disse.

Mas esta é uma versão diferente da manifestada ao nosso jornal pelo CHA, que garantiu que «nenhum dos elementos do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve [se] reuniu hoje (18 de Fevereiro) com o Dr. Pedro Larisma, não lhe tendo sido dada qualquer garantia relativa ao pagamento de trabalho prestado em 2012 e que, alegadamente, ainda se encontrará em dívida».

«O diferendo de valores em causa encontra-se a ser conduzido juridicamente entre ambas as partes e é nesse foro que será decidido. Importa ainda ressalvar que o médico em causa não integra atualmente os quadros médicos do Centro Hospitalar do Algarve e que foi na qualidade de prestador externo que desenvolveu anteriormente funções no Hospital de Faro», acrescenta o CHA num esclarecimento enviado ao nosso jornal.

Depois das alegadas garantias que recebeu, o psiquiatra continuou, ainda assim, frente ao Hospital de Faro, no local onde ontem começou a greve de fome, até «ter a certeza» de que a Administração cumpria a sua promessa, sem esconder que o seu desejo é voltar rapidamente para casa. «Acredito que tudo isto ficará resolvido em breve», disse.

Em causa, estava um pagamento de cerca de 20 mil euros. «Quando se faz um serviço, espera-se ser pago no final do mês. Quando isso não acontece, vejo-o como uma forma de maus-tratos», acrescentou o médico.

Já Maria João Reis Deus, que tem vindo a receber terapêutica no Hospital de Faro para combater um cancro da mama, decidiu avançar para greve de fome ao receber a informação, na Farmácia do Hospital, de que não havia o medicamento que tem de tomar todos os dias, o fármaco Letrozol.

Sem poupar elogios à forma como tem sido tratada nos serviços de Oncologia e aos profissionais de saúde que aqui trabalham, Maria João Deus apontou as suas críticas à administração do CHA, numa nota enviada à comunicação social.

A utente de 38 anos, que desde 2012 luta contra esta doença, descreve que se dirigiu à Farmácia do Hospital de Faro na passada quinta-feira, onde lhe foi dito não estar disponível o medicamento. Ficou agendada a sua entrega para o dia seguinte, o que não aconteceu.

Uma vez que o medicamento que ainda tinha só lhe chegaria até hoje, terça-feira, decidiu avançar com um protesto «esperando que, de uma vez por todas, se deixe de enganar as pessoas e se assuma que não há medicamentos para doentes oncológicos no CHA».

Esta não foi a primeira vez que a doente oncológica, residente em Lagoa, se deparou com o problema de falta de medicamentos. Segundo revelou ao jornal «Público», na última vez que tinha ido à mesma farmácia levantar Letrozol «antes da última quinta-feira», não recebeu, como habitual, uma caixa com 30 comprimidos (cada qual uma dose diária), mas «apenas cinco».

A Administração do CHA já admitiu que há «faltas» de medicamentos, nomeadamente de hormonas para o tratamento do cancro, mas que estas serão apenas «pontuais» e são supridas assim que a sua falta é detetada. Mas, no caso desta utente, tudo indica que a escassez do medicamento já fosse conhecida há algum tempo, dado que Maria João Deus já havia recebido uma dose “racionada” do medicamento anteriormente.

«Há muitas faltas pontuais, demasiadas, que na realidade são transversais a todo o hospital e a todos os serviços. O que há é falta de planeamento estratégico, porque senão isto não acontecia», revelou ao Sul Informação fonte hospitalar.

«Não fico descansada, preciso de ter a garantia da administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) de que isto não volta a acontecer», disse ainda Maria João Reis. Até porque, acrescentou, não se pode dar ao luxo de deslocações infrutíferas ao Hospital de Faro, já que está desempregada e não tem «condições financeiras» para isso.

 

(Atualizada às 17h30 com o esclarecimento do CHA sobre o médico Pedro Larisma)

sulinformacao

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