O Cineclube de Faro celebra hoje 58 anos, data festiva que é também de despedida de alguém que foi dirigente da instituição mais de 20 anos e que é sócia há praticamente 30 anos. Anabela Moutinho veio para Faro, vinda de Coimbra, «porque tinha um Cineclube», esteve ligada a um dos períodos áureos da associação e viveu também grandes dificuldades, quando era a presidente.
O Cineclube de Faro, não escondem o seu atual e a sua antiga presidente, atravessa um período bem difícil e não há grandes perspectivas de melhorias num futuro próximo. «Como o Carlos costuma dizer, as pessoas, hoje em dia, olham para os nossos boletins e dizem: Vamos lá ver quais são os filmes que o Cineclube sugere esta semana, para os sacarmos da Internet (risos)», ilustrou Anabela Moutinho.
A ex-dirigente do Cineclube e o seu sucessor Carlos Rafael Lopes foram os convidados desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM (102,7 FM). A entrevista está disponível, em podcast, no site da RU FM.
A ligação de Anabela Moutinho ao Cineclube, enquanto dirigente, terminou nas últimas eleições para os órgãos sociais da associação farense, realizadas em janeiro. Ainda assim, não deixa de ser, como sempre, cinéfila e uma sócia ativa.
Hoje, domingo, terá a oportunidade de apresentar um último filme, no Teatro Lethes, “hábito” que criou nos seus anos de dirigente. O «Filme de Despedida» que Anabela Moutinho escolheu para apresentar foi «Persona», de Ingmar Bergman, um dos mais importantes títulos do realizador sueco. A sessão começa às 21h30, tem entrada livre, mas é recomendada a reserva antecipada através do email cineclubefaro@gmail.com.
Faro, cidade de cinema
A ligação de Anabela Moutinho ao Cineclube começou em 1985, altura em que escolheu Faro para viver. «Sendo professora, podia escolher local onde dar aulas. E escolhi Faro, porque tinha um Cineclube. Quem vem de Coimbra, habituada a ver excelente cinema, só pode ir para uma cidade que lhe garanta o mesmo tipo de cinema», disse.
A década de 80, recorda, «foi uma época gloriosa do Cineclube, com o Eduardo Coutinho e o Fernando Leitão Correia». «Excelente programação e boletins magníficos. Cinema de qualidade, muito bem escolhido e ciclos muito interessantes», resumiu.
Durante alguns anos, usufruiu do trabalho desta direção, como sócia, mas, no começo dos anos 90, ambos os dirigentes decidiram passar o testemunho. Foi nessa altura que deu os primeiros passos como dirigente, recebendo dos anteriores principais dinamizadores o testemunho, da mesma forma que o fez agora, com a nova direção liderada pro Carlos Lopes.
Ao longo de mais de 20 anos, viveu momentos bem altos, nomeadamente durante o período em que a Câmara teve «o melhor vereador da Cultura que eu conheci», o arquiteto Porfírio Maia. «Ainda em contos, o Dr. Negrão Belo julgo que nos dava 200 ou 300 contos por ano. No primeiro ano do Dr. João Botelheiro/ Arquiteto Porfírio Maia passou para os 2 mil e no segundo estava nos 2800 contos», recordou.
Foi nesta altura que se fizeram «as primeiras homenagens nacionais a António Reis, Augusto Cabrita ou Mário Viegas», entre muitas outras iniciativas, que «projetaram o nome de Faro» e tornaram o Cineclube «uma referência nacional».
Depois da bonança, vêm as dificuldades
Depois deste período em que as associações «tinham dinheiro para fazer atividades em prol da cidade» e que conheceram um grande crescimento, nos anos 90, as dificuldades chegaram, para o Cineclube, devido a diversos fatores.
A falta de condições para a exibição de filmes, devido à degradação da sala do então Instituto Português da Juventude (que ainda hoje é usada pelo Cineclube de Faro) foi um dos primeiros golpes. Seguiu-se aquele que foi, provavelmente, o mais duro: a abertura dos cinemas comerciais SBC, no Fórum Algarve». A pirataria na internet é outro fenómeno recente, que tira público ao Cineclube.
O futuro, não é risonho, para mais porque, ao nível técnico, o Cineclube se debate com um grave problema. Hoje em dia, a maioria dos filmes só saem em formato digital, que o projetor existente no IPDJ não suporta. Aqui, só é possível passar filmes em película ou DVD.
Esta é mais uma contingência que leva a que o Cineclube se veja impedido de exibir a maioria dos filmes que vão saindo, tendo de esperar que sejam lançados em DVD. E, comprar um equipamento destes, custa «100 mil euros».
No passado recente, houve incentivos da União Europeia que permitiam comprar este equipamento fazendo um investimento de 20 mil euros. «Foi muito irritante, em 2005, quando se falou muito nisso, devia-se ter equipado o Teatro Municipal de Faro. O Instituto do Cinema tinha uma ideia de criar uma rede de cine-teatros com equipamento digital. As intenções são maravilhosas, mas, depois, nunca passam à prática», disse.
Segundo Carlos Lopes, há «autarquias que apostaram em dotar os seus equipamentos com projetores digitais», nomeadamente municípios onde existem Cineclubes. «O vereador da Câmara de Faro, seja feita justiça, ainda há pouco me comunicou que a autarquia se tinha candidatado a um programa de apoio, mas que não contemplava a projeção digital», disse Carlos Lopes
Um problema para o novo presidente do Cineclube de Faro tentar resolver. A solução poderá passar pela colaboração entre diversas autarquias, para comprar um equipamento de projeção digital portátil. «Já me disseram que, em Londres, é possível comprar um destes equipamentos móveis, em segunda mão, por 70 ou 80 mil euros», revelou Carlos Lopes.