O Governo anunciou a abertura de 51 vagas para médicos especialistas nos hospitais do Algarve, entre os quais «cinco anestesiologistas e quatro ortopedistas», e a Administração Regional de Saúde algarvia tem «fé» de que possam vir a ser todas ocupadas.
A falta de recursos humanos continua a ser o principal problema do Serviço Nacional de Saúde do Algarve, como admitiram esta terça-feira os responsáveis regionais pelo setor, numa audição parlamentar, mas, garante o presidente da ARS do Algarve João Moura Reis, estão a ser tomadas medidas para o atenuar.
«Ontem [terça-feira] saiu em Diário da República o aviso do concurso para 700 vagas, a nível nacional, para especialistas do setor hospitalar. Até final de Agosto, espero ter mais médicos aqui no Algarve», disse Moura Reis ao Sul Informação.
Para isso, há que convencer muitos médicos a mudar-se para o Algarve, algo que nem sempre foi fácil no passado, mas que João Moura Reis acredita que aconteça agora. «Claro que tenho fé que as pessoas concorram», disse.
Esta crença está ligada ao facto de, no recente concurso para médicos de Medicina Geral e Familiar, a maioria das vagas destinadas à região algarvia terem sido ocupadas. «Em termos percentuais, o Algarve teve mais candidatos que outras regiões, como por exemplo o Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo», assegurou.
Os 22 médicos a que o presidente da ARS do Algarve se refere vão entrar ao serviço no dia 25 de Julho, já na próxima semana, em diferentes Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Algarve. Estes clínicos foram contratados no seguimento de um concurso lançado a nível nacional, no âmbito do qual foram abertas 30 vagas para a região algarvia.
Esta foi, de resto, uma das informações avançadas por João Moura Reis na audição que teve lugar na terça-feira, na Assembleia da República. O responsável máximo pela ARS Algarve acrescentou, nessa altura, que 14 médicos serão afetos ao ACES Central e os outros oito irão para o ACES do Barlavento, o que irá permitir atribuir médico de família «a 42 mil utentes».
A entrada de novos clínicos, a título permanente, vai ao encontro daquilo que tem vindo a ser transversalmente exigido: o encontrar de soluções duradouras, que garantam uma boa assistência durante todo o ano. Resta saber haverá suficientes médicos interessados em vir para o Algarve.
E se antes uma das causas apontadas era a instabilidade vivida dentro do Centro Hospitalar do Algarve, com os representantes dos médicos a apontar o dedo ao anterior Conselho de Administração (CA) e ao seu presidente Pedro Nunes, com a entrada de uma nova equipa de gestão no Centro Hospitalar do Algarve o discurso da Ordem dos Médicos não se alterou muito.
Numa nota enviada às redações, esta entidade considerou que «a saúde no Algarve continua instável», dando a título de exemplo a substituição da diretora de Serviço de Neurocirurgia do CHA Alexandra Adams.
«Esta situação seria perfeitamente natural e aceitável, até porque a própria apresentou a sua demissão, se, na circular que formaliza a sua demissão, não fossem tecidos inesperados e inusitados comentários sobre a sua competência técnico-profissional. Não é admissível que qualquer Conselho de Administração e um qualquer administrador ponham em causa a competência técnico-profissional de um médico sem que para isso não haja sequer um processo de averiguações que o prove», considera a Ordem.
Uma atitude da parte do CA liderado por Joaquim Ramalho, que «gerou uma onda de protestos no CHA, manifestada pelos diretores de Departamento e diretores de Serviço», que se solidarizaram com Alexandra Adams. A Ordem recomenda, mesmo, que os administradores do CHA façam «alguma formação para melhorar a sua competência em gestão de recursos humanos altamente diferenciados».
Na audição parlamentar, Joaquim Ramalho admitiu que o ambiente interno hospitalar é «de alguma tensão e pouco colaborativo» e que há uma «fraca coesão institucional decorrente de um processo de constituição do Centro Hospitalar pouco participado». Também referiu «alguma frustração de profissionais geradora de desmotivações e descontentamento».
Apesar disso, mostrou-se confiante que conseguirá estabilizar a situação, revelando que é esse o seu «foco». «Propomos prestar mais e melhores cuidados de saúde de proximidade com maior integração de cuidados e tornar este Centro Hospitalar como uma referência para o desenvolvimento da região do Algarve e assegurar a sua sustentabilidade técnica e financeira», acrescentou o presidente do CA.
Além da demora em resolver o problema da falta de médicos, também foram lançadas críticas à produtividade do CHA, desde que tem uma nova administração. Na terça-feira, o deputado social-democrata eleito pelo Algarve Cristóvão Norte denunciou que «os indicadores de saúde no Algarve estão a cair em comparação com o mesmo período do ano passado».
Segundo o deputado do PSD, nos primeiros meses de 2016, o Centro Hospitalar do Algarve, «face ao mesmo período em 2015, realizou menos 12, 5 % de cirurgias programadas, 7,5 % de cirurgias urgentes, 7,5 % de primeiras consultas, entre outros indicadores que recuam e demonstram um menor volume de oferta assistencial».
Esta situação, justificou João Moura Reis, «está ligada à falta de recursos humanos», mas garante que «está a haver uma inversão desta situação», devido «à internalização de cirurgias», usando ao máximo os recursos públcio e evitando recorrer ao setor privado, e ao reforço sazonal de médicos vindos de outras regiões.