Aqui, não há caras pintadas, caloiros sujos, nem ordens gritadas. Há, sim, vontade de ajudar e de fazer a integração dos novos alunos da Universidade do Algarve de uma forma bem diferente do habitual: contribuindo para causas solidárias.
Esta quinta-feira, dezenas de novos alunos da Universidade do Algarve e os seus colegas mais velhos estiveram envolvidos em diferentes ações, cujo denominador comum era o objetivo de ajudar uma instituição solidária algarvia. Uma medida que foi idealizada pela Associação Académica da Universidade do Algarve (AAUAlg) e colocada em prática em parceria com os diferentes cursos aderentes e com IPSS de Faro e Portimão.
A ideia passa por proporcionar atividades de praxe diferentes, que causam um impacto na sociedade. E isto nem sempre significa que a atividade proposta seja mais fácil do que a chamada praxe tradicional. Ontem, o calor voltou a apertar e foi debaixo de um sol abrasador que alunos do 1º ano do curso de Turismo e os seus “académicos”, os estudantes mais velhos que pertencem às comissões de praxe, ajudaram a manter a horta do Banco Alimentar contra a Fome, nas instalações da Direção Regional de Agricultura e Pescas, no Patacão.
Carina Silva foi uma das caloiras que participou nesta iniciativa, organizada pela AAUAlg e pelo GATO- Gabinete de Apoio à Toxicodependência, cujos utentes também dão o seu contributo para esta horta solidária. E não se mostra incomodada com a exigência do trabalho, numa pausa da tarefa de arrancar as raízes secundárias de uma planta de batata-doce.
«Estou a gostar imenso. É bom fazer alguma coisa que sirva para ajudar a comunidade, é gratificante. Esta é uma praxe diferente das habituais e, pessoalmente, gosto de ambas, por diferentes razões. Mas estas têm um impacto na sociedade e só por aí, prefiro fazer isto», revelou ao Sul Informação a aluna de 1º ano da UAlg, residente em Quarteira.
E quem sabe se não fica o bichinho?… «Um dos meus objetivos pessoais é ajudar os outros e espero participar em projetos desta natureza muito mais vezes», assegurou Carina Silva.
Já David Lopes, que momentos antes tinha oferecido a Carina o chapéu de palha que trazia, como um bom cavalheiro, ainda fica um momento a pensar o que prefere: se a praxe dita tradicional, se o trabalho que está no momento a realizar. O estudante de Vila Real de Santo António confessa nunca ter tido contacto com trabalho agrícola e, afinal, as outras praxes são, por norma, realizadas «à sombra».
«É um bocado mais difícil, mas é mais gratificante. Não sei bem dizer qual é que prefiro, porque, com o sol que aqui está hoje, é um bocado mais agreste», disse, a rir.
À medida que o tempo passa, nota-se também uma melhoria da disposição entre os trabalhadores voluntários. E nota-se, igualmente, que os “académicos” não se furtam ao trabalho, colocando-se lado a lado com os “seus” caloiros.
Criar laços de camaradagem entre os alunos envolvidos na atividade é, de resto, o principal objetivo das praxes solidárias que a AAUAlg promoveu. Paralelamente, há cursos que idealizaram as suas próprias iniciativas.
Além da solidariedade, também o desporto foi uma forma de tentar integrar os novos alunos, fugindo ao estereótipo das praxes ditas tradicionais. Neste caso, houve diversas atividades dentro dos campi da UAlg, mas também aulas de surf e bodyboard na Praia de Faro, que tiveram grande adesão.
Neste último caso, a atividade foi feita em parceria pela associação que representa os universitários algarvios e pelo Centro de Surf da Praia de Faro, que forneceu os instrutores e todo o material necessário. Os alunos tiveram a oportunidade de aprender os conceitos básicos destes desportos e de entrar na água, para experimentá-los.
Tanto as praxes solidárias como as atividades desportivas estavam já há muito nos planos da AAUAlg, para a receção aos novos alunos do ano letivo 2016/17. Aliás, a pressão sobre os universitários era elevada, devido a uma praxe que acabou com uma aluna de 1º ano hospitalizada, no ano passado, na Praia de Faro. O incidente motivou a abertura de um inquérito interno, que culminou com uma advertência escrita aos alunos que a promoveram.
No mesmo dia em que anunciou a decisão do inquérito, o reitor da UAlg António Branco – que nunca escondeu ser defensor do fim das praxes tradicionais – lançou um despacho com regras apertadas para as atividades de praxe. Uma decisão que não caiu bem junto dos estudantes, que defendem que «proibir não vai resolver nada».
Veja as fotos da praxe solidária na horta do Banco Alimentar: