A tradição «é para manter», mas isso não impede o novo presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve Rodrigo Teixeira de pensar em formas diferentes de a viver, baseadas no respeito pelo próximo e numa atitude responsável.
A tomada de posse dos órgãos sociais da Associação Académica da Universidade do Algarve, para o mandato que dura até final de 2016, decorreu esta quarta-feira, no Campus das Gambelas da Universidade do Algarve.
Nas mensagens dos diferentes intervenientes, o denominador comum foi as praxes, tema quente, nos dias que correm, na academia algarvia, tendo em conta o incidente ocorrido no início do atual ano letivo, durante a receção aos novos alunos, na Praia de Faro.
O desejo comum é que situações como esta não se repitam. E se o reitor António Branco lembrou que a imagem e prestígio da instituição «também passam pelos seus alunos», o recém-empossado Rodrigo Teixeira pretende clarificar quais as responsabilidades de quem praxa e os limites desta prática, num novo regulamento de praxe.
«No nosso programa de candidatura, propusemos a revisão do regulamento do praxe e de traje. Caso consigamos produzir um bom regulamento, só por aí já obteremos um ganho de responsabilidade, já que os estudantes passarão a estar sujeitos a regras baseadas no respeito uns pelos outros», revelou ao Sul Informação o novo presidente da AAUAlg, à margem da sessão de tomada de posse.
«A AAUAlg é uma das associações que mais atenção dá ao processo de praxe. Todos os anos promovemos um período de formação de dois dias, dirigida aos alunos que vão praxar (comissões de praxe), de forma a que saibam a tradição, a história e os valores que estão por detrás disso», acrescentou.
Mais do que recomendar cuidado com as praxes, António Branco deixou bem explícito que a sua abordagem ao caso ocorrido na Praia de Faro, que colocou a Universidade do Algarve no centro das atenções, pelas piores razões, podia ter sido outra.
«Podia ter feito o que já se fez noutras universidades: mal fosse informado do sucedido, proibia as praxes. E, apesar das minhas crenças pessoais e políticas, não o fiz. Acho que nesta, como noutras situações, a solução deve ser participada e encontrada com base no diálogo», disse.
Apesar de não ter havido um ultimato de António Branco, estas palavras poderão servir de aviso à navegação, no futuro. Assim, as praxes continuarão a ser toleradas, mas como forma de integração e balizadas por «valores éticos e civilizacionais».
O reitor aproveitou a ocasião para fazer um elogio público à forma como o presidente da AAUAlg cessante, Nuno Lopes, lidou com todo este processo. «Agradeço o grande serviço que o Nuno Lopes prestou à UAlg, ao saber lidar com esta crise, não deixando que atingisse outras proporções», disse.
Na sua despedida, Nuno Lopes apenas se referiu a este episódio para considerar que houve um «mediatismo desproporcionado». Por outro lado, lamentou que a luta que travou, em conjunto com a reitoria, pelo alargamento do programa «+ Superior» ao Algarve, não tenha tido os frutos desejados.
Já o presidente da Câmara de Faro, cidade onde está sediada a universidade, lembrou o impacto das duas grandes festas estudantis, a Receção ao Caloiro e a Semana Académica, na vida da comunidade, e desafiou a AAUAlg a mudar algumas coisas, a bem da paz e sossego dos farenses.
Além de uma revisão dos horários das festas, o edil sugeriu que se revisse a duração dos próprios eventos. «O que é que ganhamos com uma Semana Académica de 11 dias? E com horários alargados, que deixam as pessoas sem dormir até de manhã? Não ganhamos nada, a não ser antipatias», considerou.
A questão dos horários da festa é algo que, garantiu Rodrigo Teixeira, tem sido uma preocupação da entidade que agora dirige. «No ano passado, a música no palco acabava às 3 da manhã, ao fim-de-semana, e às 2h30, no dias de semana. Depois, havia a Tenda Eletrónica, uma solução que arranjámos para que a diversão continuasse, mas abafando, ao mesmo tempo, o som. Penso que a população de Faro sentiu menos o barulho», acredita o jovem estudante da UAlg, que é farense.
«Há que haver um equilíbrio, pois estes são eventos que mexem com a economia da cidade e se rodeiam do espírito académico, que atrai mais estudantes para a Universidade do Algarve», considerou.
Já no que toca à duração do evento, o presidente da AAUAlg não se quis «estar a comprometer com uma resposta», poucos minutos depois de tomar posse, mas foi deixando “pistas”. «O modelo atual é o mais rentável. Há muitos anos que o modelo de 11 dias é o que está em vigor, com sucesso. Aliás, nós temos a maior Semana Académica do país», disse, sem esconder uma ponta de orgulho.
Até porque, lembrou, esta festa é determinante para o esforço de consolidação das contas da Académica, que promete continuar. «No ano passado, o nosso grande ganho foi a redução do custo de produção da Semana Académica, o que nos permitiu ter um lucro mais elevado. O importante é encontrar um orçamento equilibrado», lembrou.
«A AAUAlg está melhor do que há quatro ou cinco anos, mas ainda há dívidas, e temos de assumi-las. A maior parte do trabalho de redução das gorduras está feito, falta agora consolidar o que já foi feito para que a associação esteja livre de dívidas em breve», referiu Rodrigo Teixeira, que está bem consciente da situação que a AAUAlg atravessa, já que foi o Secretário Geral da anterior direção e dá início ao quarto ano consecutivo como órgão social desta entidade.