Não foi preciso equipamento especial nem de última geração, nem sequer um investimento avultado, para tornar a “Costa Segura”. A Autoridade Marítima Nacional (AMN) inaugurou esta terça-feira o posto local de Olhão desta rede de vigilância de barras e da zona costeira na capitania de Olhão, um sistema que já está em funcionamento noutros pontos do Algarve e do país e serve para melhor acudir a situações de emergência e aumentar a capacidade de resposta a acidentes.
Na região algarvia, além do posto local de Olhão, já estão a funcionar os de Vila Real de Santo António e da Ponta do Altar (Lagoa). Até «final do Verão» entrará em funcionamento a estação do farol do Cabo de São Vicente (Vila do Bispo), garantiu o vice-almirante Sousa Pereira em declarações ao Sul Informação, à margem da cerimónia de inauguração oficial e apresentação do sistema “Costa Segura” em Olhão.
«Já temos três estações instaladas no Algarve e em pleno funcionamento. Até final do Verão contamos ter a que nos falta, em São Vicente. No final do ano esperamos ter a cobertura completa do território nacional, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Ao todo serão 26 as estações», revelou o diretor-geral da AMN e comandante geral da Polícia Marítima.
«Este sistema tem a grande vantagem de nos dar olhos sobre as barras e, neste caso, para a própria Ria, onde há muita navegação. O objetivo primário deste sistema é a segurança dos marítimos e da navegação. Também nos permite coordenar melhor os nossos meios, nomeadamente quando uma embarcação está em perigo ou numa situação de poluição marítima. Podemos delimitar a área e mandar para lá os nossos meios, ganhando tempo de resposta e eficiência», acrescentou Sousa Pereira.
O mais importante, considerou, «é que nós não percamos o panorama». «Nestas questões de coordenação de meios o grande perigo é perder o panorama, não só do que está a acontecer, mas dos nossos próprios meios. Com este sistema, sabemos exatamente onde eles estão e podemos dirigi-los muito mais facilmente», explicou.
O “Costa Segura” assenta num conjunto de hardware de uso comum que recolhe dados que são tratados por um software próprio para o efeito. A “base” do sistema são faróis, «locais privilegiados para acolher as estações locais», embora os operadores possam estar em qualquer local, até mesmo dentro de um veículo, desde que tenham acesso à Internet.
Os operacionais da AMN só precisam de um qualquer computador para ir online e aceder à plataforma onde a informação de todo o país pode ser consultada. E há muito que ver.
O programa informático integra dados recolhidos por diferentes equipamentos, nomeadamente «um radar banda X, muito simples, e uma câmara óptica térmica com capacidade para visão noturna, igual às que se pode comprar em qualquer loja que venda este tipo de equipamento», aos quais de aliam um Sistema Automático de Identificação (AIS) e equipamento de seguimento de alvos (Automatic Radar Plotting Aid), segundo o Diretor de Faróis Guerreiro Cardoso, que apresentou o “Costa Segura” em Olhão. O alcance dos radares é de 24 milhas náuticas.
A aquisição deste equipamento não obrigou a um avultado investimento, garante a AMN, tendo em conta que se trata de equipamento de uso comum e generalizado, aquilo a que se chama, em inglês, commercial off-the-shelf. Também foi necessário adquirir as licenças do software utilizado, mas estas não implicam «qualquer pagamento adicional».
Outra vantagem é o facto deste sistema não obrigar «à afetação de pessoal específico», uma vez que o seu funcionamento é relativamente simples.
A junção da informação que emana destas ferramentas permite, desde logo, saber onde estão, com exatidão e em tempo real, todas as embarcações que circulam junto à costa, nas barras e, no caso específico de Olhão, na Ria Formosa. Os meios da Autoridade Marítima (Marinha, Polícia Marítima, Instituto de Socorros a Náufragos) também estão identificados, o que permite ao comandante do Porto geri-los melhor, em caso de necessidade.
Com este novo sistema, as diferentes entidades ganham «conhecimento operacional das zonas costeiras e litorais sob jurisdição das capitanias», o que lhes permite «promover a segurança da navegação, efetuando o seguimento de embarcações numa área restrita, como por exemplo a entrada de uma barra».
A criação desta ferramenta foi, de resto, motivada por um acidente numa barra. Em 2015, a embarcação de pesca “Olívia Ribau” naufragou ao entrar na barra da Figueira da Foz, causando vários mortos entre a sua tripulação, situação que levou a Autoridade Marítima a repensar a sua estratégia de resposta a este tipo de acidentes.
Além do “Costa Segura”, foi feito um investimento no reforço do pessoal das estações salva-vidas e adquiridos mais barcos e outro equipamento, para aumentar a sua capacidade de intervenção.
De caminho, as autoridades ganham meios para identificar e fazer frente a potenciais situações ilegais. «Esta ferramenta tem muita capacidade em termos de automação e permite fazer a vigilância no âmbito do que possam ser atividades ilícitas que são da competência dos capitães dos portos, nomeadamente a pesca ilegal em áreas não permitidas, ou outras», ilustrou o vice-almirante Sousa Pereira.