O bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva defendeu esta tarde, em Faro, que «é preciso que o Conselho de Administração do Hospital de Faro tenha mais respeito e consideração pelos profissionais» e que é igualmente necessário «enfrentar com verdade os problemas» do Centro Hospitalar do Algarve.
Ao mesmo tempo, denunciou que, apesar da reconhecida falta de recursos humanos nos hospitais algarvios e dos concursos lançados para atenuar as lacunas, «há um cardiologista e uma obstetra disponíveis para ir para o Hospital de Portimão, cujas contratações estão atrasadas e não se percebe bem onde estão os constrangimentos».
«Quando há profissionais, nomeadamente médicos, disponíveis para vir para o Algarve, é preciso facilitar a sua colocação e não dificultá-la. Até porque se isso não for feito, eles poderão acabar por se radicar noutra região do país», avisou.
O representante dos médicos falou aos jornalistas no Centro de Saúde de Faro, após uma visita ao Hospital de Faro, que deu o pontapé de saída para um périplo de dois dias pela região, durante a qual manteve «uma conversa cordial» com o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve Pedro Nunes e falou com «muitos médicos».
«Há claros problemas de relacionamento entre as pessoas, de gestão dos recursos humanos e até, em algumas circunstâncias, de desconsideração pelos médicos. Isso faz com que, muito naturalmente, perante falhas que existem também noutros hospitais sejam mais epidérmicas», disse.
Daí que defenda uma postura diferente por parte do Conselho de Administração. «Numa circunstância em que as retribuições do foro financeiro são substancialmente reduzidas, há que prestar mais atenção aos outros fatores motivacionais de todos os profissionais, nomeadamente, o respeito, a consideração, a verdade e a transparência», defendeu José Manuel da Silva.
Quanto às falhas de medicamentos que têm vindo a ser reportadas por diversos utentes, José Manuel Silva considerou que «tem havido uma gestão no limite e, tal como a Ordem tem chamado a atenção, a gestão dos stocks no limite faz com que, por vezes, estes terminem e não haja material disponível para alguns procedimentos».
«É verdade que houve algumas situações que houve falta material e isso impediu a realização de alguns atos». As razões para que isto aconteça, na visão da Ordem dos Médicos, prendem-se com «os efeitos dos cortes na saúde e da Lei dos Compromissos».
Bastonário viu «melhorias» no Hospital de Faro
Apesar de a sua visita à região prever passagens pelas principais unidades de saúde públicas de Faro e Portimão e uma reunião com alunos e docentes do Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Algarve, o Bastonário da Ordem dos Médicos apenas se quis pronunciar sobre a única ação que já tinha concluído.
«Aquilo que verifiquei é que houve algumas melhorias no Hospital de Faro, nomeadamente por ter aumentado a lotação em 87 camas, o que vai ao encontro do que a Ordem tem dito, que Portugal não tem camas hospitalares a mais, tem é a menos. Para manter o fluxo de doentes e evitar a sua acumulação nas urgências, há hospitais que precisavam de mais camas. O de Faro era um desses», disse.
Apesar de ter verificado estas melhorias, que estende «ao aumento do espaço na urgência», o bastonário não volta atrás na exigência de uma inspeção por parte da Inspeção-Geral de Atividades em Saúde ao CHA.
«Acho que isso é absolutamente essencial, pois é a única forma de conhecer a verdadeira extensão dos problemas. Nós falamos com os profissionais e temos acesso a algumas informações e falamos com o CA e a perspetiva é diferente», considerou.
A sua «opinião pessoal» é que «quando há um abaixo-assinado de mais de 300 médicos a criticar a gestão do hospital, é porque há fundamento para as críticas que lá são mencionadas». Mas, insistiu, a única forma de averiguar «a extensão, a verdade e a origem dos problemas» é através de uma inspeção.
Inquérito disciplinar mantém-se, mas Pedro Nunes já «pediu desculpa»
Pedro Nunes já terá pedido desculpa à médica que apelidou de «burra» e tonta», em declarações ao Sul Informação, revelou José Manuel Silva. Algo que não deverá impedir o avanço do inquérito do Conselho Nacional de Disciplina da Ordem dos Médicos, que já está em curso.
«Não sei de já foi notificado. (…). Mas o processo já foi desencadeado, irá seguir o seu percurso normal e, provavelmente, face ao pedido de desculpas, não terá consequências de maior», disse.