Nuno Campos Inácio tropeçou na história quando fazia pesquisas para o seu primeiro romance histórico (O Último Massacre). Escreveu um texto a contá-la, mas percebeu que não teria grande interesse editá-la apenas em texto. E foi então que contactou com Luís Peres, que conhecera através do Facebook, embora ambos sejam de Portimão, para que este contasse a história em ilustrações.
Foi assim que começou, há mais de dois anos, o projeto do livro «A Batalha do Arade», editado em dezembro pela Arandis. Lançado em quatro línguas – português, francês, inglês e alemão – conta a história (e os antecedentes) de uma batalha entre mouros e vikings, no Arade, corria o ano de 966 da Era Cristã.
Ao texto baseado em fontes históricas, escrito pelo investigador Nuno Inácio, Luís Peres confere uma dose de magia digna das mil e uma noites com as suas ilustrações digitais, uma técnica que desconhecia e que nunca tinha usado, até lhe ser proposto este projeto.
«O Luís veio ter comigo porque andava à procura de referências árabes para um trabalho que estava a fazer», recorda Nuno Inácio. «E ele disse-me: tenho aqui um livro pequenino para a gente fazer, uma coisa rápida», acrescenta Luís Sena. Mas, até o livro estar nas livrarias, passaram-se dois anos.
«Não dava para usar o traço que uso nos trabalhos de banda desenhada que faço. Por isso pensei em usar ilustração digital, mas não sabia nada sobre isso e tive que ser completamente autodidata. Fui aprendendo, fui tentando», conta o ilustrador.
Do desenho à informática…e ao desenho
Luís Peres conta que começou a desenhar «quando era miúdo». Quando saiu da tropa já tinha um portfólio dos seus trabalhos, sobretudo de banda desenhada, e foi com esse portfólio na mão que procurou o seu primeiro emprego. «Na altura, o Rui Tito andava à procura de uma pessoa para fazer o primeiro jogo para PC feito em Portugal. Fui falar com ele e acabei por ser contratado. Levei dois anos e meio a desenvolver o jogo e nunca mais parei».
A empresa, a Titus Informática, virou-se depois para o design de software para empresas e Luís Sena trabalhou nessa área durante 15 anos. «Fiz quase tudo o que se vê por aí nos touch screens de sofware produzido em Portugal», conta.
Com isso, esteve sem desenhar durante dez anos, ou antes, explica, «sem fazer o desenho de que gosto». Quando começou a crise, a empresa começou a ter problemas e Luís percebeu que, mais dia, menos dia seria despedido. «Organizei o meu portfólio de ilustração e fui à procura. Desde 2007 ou 2008 que só faço ilustração», em trabalhos para Inglaterra, para os Estados Unidos, para a Índia, Indonésia, Austrália…e Portugal.
Nuno Campos Inácio, por seu lado, é licenciado em Direito e trabalhou com oficial de Justiça no Tribunal de Portimão, conciliando essa faceta com a escrita e com a investigação, nomeadamente na área da Genealogia. Atualmente está com licença sem vencimento com prazo indefinido, já que a sua investigação genealógica foi considerada como sendo de interesse público.
Neste momento, está a reunir em livro a pesquisa genealógica feita sobre a freguesia de Alferce (Monchique). Só vai na letra J e já reuniu 700 páginas, «sem contar com fotografias e ilustrações». Depois irá passar para a de Porches (Lagoa).
Pelo meio de tudo isto, fundou, com Sérgio Brito, uma editora, a Arandis, que só publica obras de autores nascidos no Algarve ou sobre a região.
Uma batalha quase mítica
«O episódio que deu origem a este livro ilustrado encontrei-o quando andava a fazer as pesquisas para o Último Massacre [o seu primeiro romance]. Tinha o texto, mas sabia que era pobre para fazer uma edição só de texto».
«A Batalha do Arade» teve uma primeira edição de 500 exemplares, que tem estado a vender bem, sobretudo através da loja online da Arandis, mas também na rede de livrarias no Algarve que vendem as obras da editora. Uma rede a que se juntou agora a Livraria Ferin, em Lisboa. «O facto de o livro ser editado em quatro línguas tem ajudado», admite Nuno Inácio.
Mas os dois autores já estão a pensar fazer uma nova edição, um pouco diferente., Para já, porque será editada em português, espanhol, árabe e numa língua nórdica, que o editor Nuno Inácio ainda não decidiu «se será sueco ou dinamarquês».
Mas a nova edição terá também outras ilustrações. Porquê? Luís Peres explica que, apesar do projeto do livro ter começado há dois anos, a maioria das ilustrações foi feita em dois meses e meio, pouco antes da data para o lançamento da obra. Isso fez com que não tivesse tempo para refazer algumas das ilustrações, o que resultou numa variedade de estilos que não lhe agrada. «Não estou contente com essa variedade de estilos: tenho aqui aguarela, pastel, óleo. Não acho que seja visualmente coerente», explica o ilustrador. Daí que queira refazer muitas das imagens que surgem na primeira edição.
Apesar de se tratar de ilustração digital, não se pense que o computador é que faz tudo. De modo nenhum. A vantagem é, explica o artista, que «facilita o nosso trabalho e podemos voltar atrás muito mais facilmente, sem ter de recomeçar tudo do zero absoluto».
A inspiração para as imagens que ilustram esta «Batalha do Arade» vai Luís Peres buscá-la à sua imaginação, às referências que lhe são dadas por Nuno Inácio e ainda ao trabalho do artista Victor Borges, falecido recentemente, autor de extrapolações sobre a Silves islâmica que serviram de base a duas ilustrações e que é explicitamente citado no livro.
Camões e Ceuta estão nos planos
A dupla de criadores não pára e tem já ideias para outras publicações, juntando texto e ilustração. Um deles terá como tema um portimonense que participou na conquista de Ceuta, outro a estadia de Luís de Camões pelo Algarve. Não sabia que o bardo luso viveu uns tempos em exílio na região algarvia? Por uma questão de saias, esteve por cá uns tempos e até escreveu um poema dedicado à ribeira de Boina, intitulado «Por meio de umas serras mui fragosas». É este episódio pouco conhecido da vida do autor d’«Os Lusíadas» que Nuno Inácio e Luís Peres querem recuperar e divulgar.
E depois, quem sabe o que se seguirá. Luís Peres acrescenta «O romance do Nuno, “O Último Massacre”, dá uma banda desenhada muito boa. Já a tenho toda na cabeça, não tenho é tempo para a passar para o papel». Mas um dia…
Onde comprar o livro:
«A Batalha do Arade» custa 20 euros e está à venda nos seguintes locais:
Portimão – Livraria Algarve, Elifalma, César Alfarrabista e Galeria XXI
Lagos – Livros da Ria Formosa
Faro – Pátio das Letras
Guia – Loja FNAC
Lisboa – Livraria Ferin