A Câmara de Silves está «a avaliar as suas finanças para que se possa estudar a possibilidade de comprar a Fábrica do Inglês», atualmente propriedade da Caixa Geral de Depósitos, revelou Rosa Palma, presidente da autarquia, em declarações ao Sul Informação.
Em avaliação está, assim, a compra da totalidade do complexo da Fábrica do Inglês, «pelo valor a que foi a leilão», no passado dia 30 de maio. Nessa ocasião, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) arrematou o imóvel por 2.239.600 euros, enquanto o espólio do Museu da Cortiça, que funcionava numa das alas do edifício, no qual a Câmara de Silves estava interessada, acabou por ser comprado pelo Grupo Nogueira, atual proprietário dos Supermercados Alisuper e, por essa via, também grande credor do falido Grupo Alicoop/Alisuper, que em 1999 transformou a antiga fábrica de cortiça num espaço de restauração e lazer.
«Tendo em conta que estamos a pagar a dívida que herdámos do anterior executivo, temos de avaliar muito bem as nossas finanças para saber se será possível avançar com a compra do imóvel», explicou Rosa Palma, acrescentando que será, de todas as formas, «um grande esforço» por parte da Câmara.
Sabendo-se que o complexo está à venda pela CGD, e que só o estado do mercado imobiliário poderá atrasar o aparecimento de um interessado, a presidente da autarquia manifestou-se confiantes nas «boas relações que temos com a CGD».
A autarca adiantou ainda que o Município está também a «procurar obter a concordância» dos atuais donos da coleção do Museu da Cortiça (o Grupo Nogueira), «para a classificar como de interesse municipal». É que apenas o edifício em si foi classificado há alguns anos, deixando de fora o espólio, que está inventariado mas não protegido por qualquer forma de classificação.
«Ao classificarmos o espólio, estamos a agarrar o móvel ao imóvel», explicou.
Rosa Palma: temos de avaliar muito bem as nossas finanças para saber se será possível avançar com a compra da Fábrica do Inglês
Quanto à concentração pela defesa do património da Fábrica do Inglês e do Museu da Cortiça, marcada para sexta-feira, dia 18, às 11h00, a presidente da Câmara de Silves lamenta que nesse dia não possa estar presente, devido a compromissos «que já tinha assumido antes».
Mas defende ser «legítimo que as pessoas mostrem a sua preocupação face ao destino do espólio do Museu da Cortiça e do edifício da Fábrica do Inglês, que estão neste momento na mão de particulares».
«Há aqui interesses divergentes, mas as pessoas têm todo o direito de mostrar a esses privados que a população não vai deixar o espólio sair dali, nem deixar que a Fábrica do Inglês seja vendida para outros fins», concluiu Rosa Palma.
Grupo Nogueira quer reabrir Museu da Cortiça
João Nogueira, administrador do Grupo Nogueira, garantiu ao Sul Informação que a sua intenção é «manter e reabrir o Museu da Cortiça o mais rapidamente possível». «Já expliquei isso à Câmara e à Caixa Geral de Depósitos». No entanto, ressalva, «as instalações do Museu não são nossas, pelo que estamos dependentes do que a CGD nos possa dizer».
O gestor revelou mesmo já ter proposto à Caixa «o aluguer do espaço do Museu ou a sua venda». Mas a resposta terá sido negativa.
João Nogueira acrescentou que, aquando do leilão no dia 30 de maio, a empresa leiloeira o informou que teria 30 dias para retirar o espólio do Museu da Cortiça, que arrematou em leilão por 36 mil euros. Mas o administrador do Grupo Nogueira não só não retirou as peças, como «na segunda-feira a seguir ao leilão mandei fechar tudo com madeiras, reforçar as portas, recolher as peças mais amovíveis para dentro do espaço», de modo a «proteger todo o espólio».
«Em dois dias acabei por preservar melhor o espólio do Museu da Cortiça que a Câmara nestes anos anteriores», sublinhou.
«Só agora que nós ficámos com o espólio é que se preocupam e agora nós é que somos os maus da fita», desabafou.
João Nogueira: Só agora que nós ficámos com o espólio é que se preocupam e agora nós é que somos os maus da fita
João Nogueira aludiu ainda a um alegado «convénio» que teria sido acordado entre a Câmara e a CGD antes do leilão de 30 de maio e que passaria por «a Câmara autorizar a entrada de um supermercado Aldi naquele espaço, enquanto a Caixa cederia o espaço do museu à Câmara e quanto ao resto logo se via. Se o Grupo Nogueira não tivesse ficado com o espólio, o Aldi já estaria ali a ser construído. O Grupo Nogueira veio estragar esse negócio todo».
A presidente da Câmara de Silves, porém, nega tal acordo e sublinha mesmo que «o executivo já tomou uma decisão unânime de não permitir o avanço do Aldi ou de qualquer outra superfície comercial no espaço da Fábrica do Inglês».
João Nogueira: Não estamos aqui para complicar, queremos é pôr o Museu a funcionar
O administrador do Grupo Nogueira acrescentou, nas suas declarações ao Sul Informação, que «ficámos com o espólio porque a Alisuper tinha lá 7 milhões de euros de dívida a receber d a Fábrica do Inglês e nós, por essa via, éramos o principal credor. Não podíamos competir com a CGD e ficar com todo o imóvel, por isso optámos por comprar o espólio do Museu da Cortiça. Comprámos também porque somos o maior empregador de Silves».
«Não estamos aqui para complicar, queremos é pôr o Museu a funcionar. Agora não nos queiram fazer de anjinhos», comentou João Nogueira, para quem «a bola agora está do lado deles» (da Câmara e da CGD).
No meio de todos estes «interesses divergentes», como lhes chamou a presidente Rosa Palma, só há que esperar que o património não fique a perder.