A Câmara de Silves anunciou esta segunda-feira que não vai apoiar a Associação de Pescadores de Armação de Pêra na compra de um novo trator para alar as embarcações desta comunidade.
«Sem o trator, as 30 embarcações de pesca e de turismo ficam totalmente paradas, porque não as podemos pôr nem tirar do mar», explicou ao Sul Informação a presidente da Associação, Tânia Oliveira.
«O trator que tínhamos, e que foi escolhido pela Câmara, era todo eletrónico, não podia entrar no mar, apesar de, neste serviço, muitas vezes isso ser necessário».
Segundo Tânia Oliveira, até agora, a Associação, que ficou responsável pela sua manutenção, já gastou 34 mil euros em reparações frequentes. «Desta última vez que o trator avariou, a marca pediu-nos 6 mil euros pelo arranjo, mas disse que não podia garantir que não voltasse a avariar».
Por isso, a Associação de Pescadores resolveu pedir à Câmara de Silves não a compra de um trator novo, mas a troca deste veículo por outro mecânico, «que não passe a vida a avariar-se».
Ora, diz a dirigente da Associação de Pescadores, só hoje, mais de um mês depois do pedido ter sido feito à autarquia, é que o vice-presidente Rogério Pinto a recebeu para dizer não.
Em comunicado enviado às redações, a Câmara de Silves recorda que, ao longo dos anos, desde 1999, em diversos projetos, obras e candidaturas, já apoiou os pescadores de Armação de Pêra em meio milhão de euros.
Agora, depois de dar a entender que a avaria do trator é da responsabilidade da Associação responsável pela manutenção da viatura, a autarquia diz que se impõe «uma reflexão sobre este tema: tendo em atenção a atual conjuntura financeira, que nos impõe a todos a maior contenção e considerando a necessidade de aplicar a Lei 8/2012 de 21 de fevereiro, não poderá a CMS efetuar essa aquisição».
O comunicado assinado pela presidente Isabel Soares acrescenta que «seria de todo incoerente tal procedimento, sobretudo se se pensar que, neste concelho, existem muitas outras associações e grupos profissionais, que atravessam, também, momentos difíceis e, naturalmente, não estão à espera que o Município assuma os seus encargos financeiros».
Mas a Câmara de Silves lança alguma suspeição sobre as intenções da estrutura associativa, dizendo que «esta situação torna-se mais estranha, ainda, tendo em consideração que a Associação de Pescadores poderá, ela mesma, candidatar-se ao PROMAR».
Ora, responde Tânia Oliveira, uma candidatura ao PROMAR significa que «temos de pagar na totalidade o bem adquirido e só depois o Estado devolve 80%. Nós, sem a Câmara a avançar com esse montante, não conseguimos candidatar-nos, porque não há banco que nos empreste dinheiro, nem os pescadores de Armação de Pera, que há três anos estão a ser afetados pela grande escassez de pescado e estão muito endividados, têm capacidade para pedir empréstimos».
Por isso, «se a Câmara não nos apoia, isto é um grande contratempo, não sei como iremos sobreviver, porque sem a Câmara não conseguimos candidatar-nos ao PROMAR».
«Estamos entregues a nós próprios. A presidente está a parar uma comunidade inteira, está a ditar o nosso extermínio», desabafou.
«A Câmara demorou um mês para nos dizer que não. E nem sequer se disponibilizam para ir connosco falar com o secretário de Estado, com a ministra, para tentarmos desbloquear a situação», lamenta Tânia Oliveira.
Entretanto, as 30 embarcações de pesca e de turismo de Armação de Pêra continuam varadas na praia. A época balnear, quando os pescadores podiam ganhar mais alguma coisa a passear os turistas nos seus barcos, já começou. Mas as embarcações não podem sair para o mar.