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A Câmara de Silves vai pedir uma reunião com caráter de urgência ao principal acionista da Fábrica do Inglês, o Grupo Nogueira, para discutir o futuro possível deste complexo e, em especial, a situação do Museu da Cortiça, fechado há quatro anos.

A informação foi dada ao Sul Informação pelo presidente da Câmara Rogério Pinto que, esta tarde, com o antigo diretor do Museu e membros da vereação, visitou a Fábrica do Inglês, após as denúncias feitas pelo antigo responsável da estrutura museológica de que o complexo tem estado a ser alvo de furtos, vandalismo e pilhagem, pondo mesmo em perigo a maquinaria e demais equipamento ainda existente no seu interior.

Manuel Castelo Ramos, antigo diretor do Museu da Cortiça, apresentou, na segunda-feira, uma queixa-crime pelos furtos continuados no espaço da velha Fábrica do Inglês. Esta quarta-feira estiveram no local peritos da GNR a recolher indícios dos crimes.

O complexo da Fábrica do Inglês, no qual se integra o Museu, está fechado desde 2009, quando o grupo então proprietário da maior fatia unitária do capital da empresa, a Alicoop/Alisuper (28%), entrou em processo de insolvência. Estas empresas foram compradas no ano passado pelo Grupo Nogueira, mas as atenções deste grupo empresarial oriundo da zona do Douro têm-se concentrado, até aqui, na reabertura da rede de supermercados Alisuper.

Rogério Pinto, presidente da Câmara de Silves, revelou ao Sul Informação já ter mantido uma reunião com responsáveis pelo Grupo Nogueira, «há alguns meses», durante a qual lhe foi dito que o grupo «não tem vocação para gerir um complexo com as valências da Fábrica do Inglês».

Além do mais, sobre este antigo complexo de animação, restauração e museu, impendem inúmeras penhoras, sendo os maiores credores alguns bancos, em especial a Caixa Geral de Depósitos. Uma parte do complexo, a zona da tenda e da fonte cibernética, foi colocada em hasta pública pelas Finanças no ano passado, devido à falta de pagamento do IMI, tendo sido arrematada pela própria CGD. O valor da hasta pública era de cerca de um milhão de euros, mas desconhece-se qual o montante efetivo envolvido na compra.

No meio de todo este imbróglio, a Câmara de Silves confessa-se «de mãos um bocado atadas», como admite Rogério Pinto, que garante haver «um caminho longo a percorrer para tentar resolver o problema».

 

Cobre e metais roubados da Fábrica do Inglês

 

Enquanto o impasse se mantém, a Fábrica do Inglês tem sido alvo de furtos e de vandalismo. Segundo Manuel Castelo Ramos, foi já furtado cobre, bem como peças e componentes de aparelhos existentes no complexo, fazendo com que a instalação elétrica esteja já inoperacional.

«Já levaram daqui computadores, termoacumuladores e outras máquinas e têm desmontado as máquinas da cerveja e do tabaco para tirar peças», lamenta, temendo que a pilhagem possa agora voltar-se para o museu.

«Pelos vestígios que já lá encontrei, sei que já entraram dentro do museu, mas até agora ainda não roubaram nem destruíram nada. Mas isso pode acontecer a qualquer momento! E já avisei a Câmara, a GNR, o Grupo Nogueira que, depois, se acontecer aqui alguma desgraça e o espólio do museu for destruído, não vão ficar bem vistos aos olhos da opinião pública».

Devido ao fecho do museu e ao seu abandono, que só não é completo porque Manuel Ramos, mesmo sem ganhar um cêntimo com isso, continua a visitar o edifício regularmente, no ano passado o arquivo histórico da antiga fábrica de cortiça já tinha sido transferido para o Arquivo Distrital de Faro.

Mas o restante espólio, nomeadamente máquinas únicas no mundo e outros equipamentos que remontam ao período em que Silves era a capital nacional da indústria corticeira, permanecem lá.

O próprio edifício oitocentista que alberga o Museu, na parte norte do complexo da Fábrica do Inglês, está a degradar-se. Em novembro, o tornado que varreu Silves arrancou uma parte da cobertura e, apesar de a Câmara ter enviado pessoal para recolocar algumas das telhas, não foram repostas as muitas telhas partidas.

«Há uma zona de cerca de 25 metros quadrados que se mantém destelhada. Para já não tem chovido lá dentro, mas a degradação está a avançar», alerta Manuel Castelo Ramos.

 

Museu premiado corre agora risco de pilhagem

 

O Museu da Cortiça de Silves, que era considerado o mais importante museu dedicado a esta indústria existente em Portugal, ganhou, em 2001, o prémio Michelleti para o melhor museu industrial da Europa.

Na semana passada, a pedido da Retecork, que organiza na Catalunha o «II Encontro de Museus e Centros de Interpretação da Cortiça», Manuel Ramos enviou uma mensagem aos participantes, lançando «um grito de alerta, terrível de fazer, mas verdadeiro. Neste preciso momento a pilhagem da Fábrica do Inglês, fechada e abandonada, iniciou-se. Primeiro o cobre, valioso, mas em breve também a maquinaria será objeto de vandalismo. Maquinaria importantíssima, e em vários casos única, sobre a história da industrialização corticeira».

Enquanto se mantiver o impasse na Fábrica do Inglês, só o acaso poderá salvar o Museu da Cortiça de Silves de um fim ainda mais triste que a sua atual situação.

 

sulinformacao

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