A câmara hiperbárica, oferecida ao Algarve pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo Subaquático (Musubmar), e que custou 600 mil euros, já está instalada na nova ala do Hospital Particular de Alvor, em construção.
O reitor da Universidade do Algarve e a presidente da Câmara de Portimão, com as respetivas comitivas, foram os primeiros, na sexta-feira passada, a ver a câmara naquela que será a sua instalação definitiva, uma ampla sala no rés do chão da ala do HPA que está em construção e deverá entrar em funcionamento em setembro próximo. A visita foi acompanhada em exclusivo pelo Sul Informação.
A Musubmar tinha oferecido a câmara hiperbárica, um equipamento fundamental para tratar acidentes dos mergulhadores que procuram o projeto de turismo subaquático Ocean Revival, mas também importante para tratar outras patologias, como complicações da diabetes ou problemas respiratórios, ao Hospital do Barlavento Algarvio, em Portimão. Em maio do ano passado foi mesmo sido assinado um protocolo entre a administração do CHBA e a Musubmar. A ideia era que a câmara pudesse ficar acessível numa unidade hospitalar pública, de modo a facilitar o acesso de toda a população.
No entanto, quando foi criado o Centro Hospitalar Algarvio, resultando da fusão dos hospitais de Faro, Portimão e Lagos, o novo administrador, Pedro Nunes, comunicou a falta de interesse na receção deste equipamento, pelo que a Musubmar, que gere o Projeto Ocean Revival, teve que encontrar uma alternativa para a instalação da câmara hiperbárica, cujo concurso público para aquisição já estava em curso e até praticamente concluído.
Surgiu então a hipótese de a instalar na nova ala do Hospital Particular de Alvor, ou seja, em localização apropriada para ser utilizada, caso seja necessário, pelos mergulhadores de todo o mundo que procuram o parque subaquático criado ao largo da Prainha, no litoral de Portimão, com o afundamento de cinco navios desativados da Marinha de Guerra Portuguesa.
Luís Miguel Farinha, um dos responsáveis pelo Grupo HPA e braço direito do seu fundador, o médico João Bacalhau, revelou, durante a visita de sexta-feira, que, no total, a instalação da câmara hiperbárica custará 700 mil euros, entre os 600 mil necessários para a sua compra e mais 100 mil para as obras de instalação no Hospital de Alvor. «Há algumas especificidades técnicas a ter em conta nas obras necessárias para instalar a câmara», explicou um dos responsáveis técnicos pela construção da nova ala do Hospital, que acompanhava a visita do reitor.
«A esmagadora maioria do investimento, que era a compra da câmara hiperbárica, é assegurada por privados. E vem um administrador hospitalar dizer que prescinde disto, que isto não tem interesse nenhum para o Serviço Nacional de Saúde?…», comentou a autarca Isilda Gomes, que sempre criticou de forma veemente a opção tomada por Pedro Nunes, presidente do Conselho de Administração do CHA.
Novas áreas de investigação abrem-se agora
Além das utilizações mais imediatas e conhecidas, a instalação da câmara hiperbárica no Hospital Particular de Alvor poderá também potenciar novas áreas de investigação científica na área da Medicina. Ana Paula Fontes, consultora do Núcleo de Formação do HPA, que acompanhou também a visita do reitor à unidade de Alvor, salientou que «há novos desafios» que podem ser desenvolvidos em conjunto pelo Grupo HPA e a Universidade do Algarve, nomeadamente na «investigação sobre oncologia e demências», áreas onde «a terapia pelo oxigénio poderá ser muito importante».
O reitor António Branco respondeu a mais este desafio, dizendo que todas estas matérias poderão ser «aprofundadas», no âmbito do protocolo que o Departamento de Medicina da Universidade do Algarve e o Grupo HPA irão assinar em breve.
E tal protocolo, que permitirá, para já, que as unidades do HPA comecem a receber o internato médico (em Ortopedia, Obstetrícia e Pediatria) dos alunos do Mestrado Integrado em Medicina da UAlg, poderá até ser assinado em Portimão, na sua Câmara Municipal, de acordo com o convite que a autarca Isilda Gomes não deixou, logo ali, de fazer.
Câmara hiperbárica fica ao serviço de toda a população
A câmara hiperbárica, com capacidade para tratar oito pacientes em simultâneo, terá como principal finalidade o tratamento de vítimas de acidentes descompressivos (mergulhadores), mas também outras patologias como intoxicações por monóxido de carbono, surdez súbita, lesões do pé diabético e outras feridas crónicas, ou queimaduras. Será, por isso, aberta a todos os utentes e não apenas aos mergulhadores.
Até agora, sempre que há acidentes de descompressão com mergulhadores no Algarve, as vítimas têm que ser transportadas para o Hospital da Marinha, em Lisboa, onde funciona a unidade mais próxima. Ora isso, segundo Luís Sá Couto, responsável pelo projeto «Ocean Revival», não garante a segurança necessária para o desenvolvimento do parque subaquático criado ao largo de Alvor, que se pretenda que atraia todos os anos milhares de mergulhadores de toda a Europa.
«Para garantir a máxima segurança é imprescindível a aquisição, instalação e adaptação hospitalar de uma Câmara Hiperbárica», salienta o empresário.
A câmara ficará, assim, «ao serviço dos mergulhadores, permitindo manter uma pressão controlada em eventuais situações de emergência», mas «ficará sobretudo ao serviço da comunidade local e do país, constituindo assim um importante investimento na saúde e assegurando, em suma, outras aplicações medicinais noutro género de terapias».
Luís Sá Couto, responsável pelo Projeto Ocean Revival, explicou ao Sul Informação que, «no protocolo que assinámos com o HPA, acautelámos que será assinado um acordo com o Serviço Nacional de Saúde, para colocar a câmara à disposição dos utentes do SNS». O equipamento, garantiu este responsável, passará a ficar, assim, «disponível para situações de emergência no Algarve».
Ou seja, graças à teimosia do administrador do CHA Pedro Nunes, um equipamento caro, mas muito importante, que poderia ter sido instalado numa unidade pública, vai agora ficar num hospital privado.