A Igreja Matriz de Almodôvar depressa encheu, no sábado, dia 13, para receber o concerto inaugural do festival Terras Sem Sombra: o Stabat Mater de Pergolesi fez-se ouvir pelas vozes da soprano Raquel Alão e da mezzosoprano Marifé Nogales, emolduradas pelo Concerto Moderno, sob direcção musical de César Viana.
Também W. A. Mozart e Toru Takemitsu foram folheados nas estantes, numa viagem com mais de dois séculos de história.
Almodôvar é, desde há séculos, um marco na história da música alentejana; o enriquecimento da tradição polifónica por parte desta comunidade deixou diversos vestígios, fazendo parte do seu legado um importante pólo musical, o convento franciscano de Nossa Senhora da Conceição.
A edição deste ano, dedicada à Polifonia, encontrou nesta localidade, pois, um ponto de partida propício para uma viagem musical, que irá percorrer, desde a época gótica aos dias de hoje, algumas das obras de maior relevo da tradição polifónica.
Deram-se, assim, os primeiros passos para consolidar o caminho iniciado, no passado dia 9, com a assinatura do protocolo de cooperação entre o OPART (organismo da Secretaria de Estado da Cultura que tutela o Teatro Nacional de S. Carlos e a Companhia Nacional de Bailado) e o Festival Terras Sem Sombra, aquando da apresentação do programa da sua 9.ª edição, que prevê um trabalho conjunto no sentido da descentralização e democratização do acesso à cultura, focando com especial ênfase o Alentejo.
“Verificar que, a cada concerto que passa, os monumentos religiosos da nossa região se vão enchendo cada vez mais, como foi o caso do espetáculo em Almodôvar, é um sinal de que o projecto está a realizar o seu caminho e que o Festival começa a fazer parte da vida cultural e social dos territórios por onde passa”, assume José António Falcão, director-geral do Terras sem Sombra, após ter confirmado a “casa cheia” para o concerto de abertura.
A ação do Terras Sem Sombra estende-se, ainda, à preservação da biodiversidade local. O destaque do corrente ano privilegia a salvaguarda dos recursos aquáticos, uma vez que o Festival se associou às comemorações do Ano Internacional de Cooperação pela Água, iniciativa da UNESCO.
Deste modo, no domingo, a ação de biodiversidade decorreu na ribeira do Vascão, em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, o Município almodoverense e a Associação de Apicultores do Parque Natural do Vale do Guadiana.
Os artistas que haviam atuado no dia anterior juntaram-se a três dezenas de voluntários e, trabalhando lado a lado, uniram esforços no sentido de preservar o equilíbrio de um dos mais ricos e importantes habitats europeus (ou até mesmo mundiais), monitorizando as espécies de bivalves que abundam naquele local, como o mexilhão-do-rio.
Foi esta espécie, presente em diversas áreas europeias, que forneceu pérolas em grande quantidade, usadas para ornar as coroas de diversas monarquias europeias, como é o caso da austro-húngara.
Próximo concerto: Dia 20 de Abril, em Santiago do Cacém
A próxima paragem será Santiago do Cacém, já no próximo fim-de-semana. No dia 20, o agrupamento italiano laReverdie percorrerá as partituras de Pedro de Escobar e Guillaume Dufay, enchendo a igreja matriz desta cidade com as melodias renascentistas do Caminho dos peregrinos a Compostela.
No dia seguinte, a ação de biodiversidade decorrerá na Lagoa de Santo André, uma paragem obrigatória na rota migratória transcontinental das aves (entre a Europa e a África).