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A bienal cultural Monsaraz Museu Aberto vai decorrer na vila medieval de Monsaraz entre os dias 13 e 29 de julho com um programa dedicado ao Cante Alentejano, ao Fado e ao Património.

A celebração da recente escolha do fado como Património Cultural Imaterial da UNESCO e a forte afirmação da importância cultural, social e histórica do cante alentejano enquanto merecedor de igual estatuto, associados à monumentalidade da vila de Monsaraz e desta região, onde o Homem vem transmitindo os seus hábitos culturais há cinco mil anos.

No Monsaraz Museu Aberto, certame cultural organizado pelo Município de Reguengos de Monsaraz desde 1986 e que se realiza com periodicidade bienal desde 1998, pretende-se abordar o que de melhor se faz na cultura e nas artes do espetáculo a nível nacional e internacional.

Este ano, a 20ª edição do Monsaraz Museu Aberto vai abrir na sexta-feira, dia 13 de julho, pelas 19h00, no Jardim da Universidade, com o espetáculo “Fado sem Palavras”, por Fernando Vintém ao piano e Inácio Santos no saxofone soprano, seguindo-se a atuação do Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz.

O projeto “Fado sem Palavras” é uma reaproximação artística ao fado, por via da criação de um desequilíbrio no seu todo. Concretiza-se, por um lado, a partir da sua tradição primordial, com a utilização do piano como instrumento de acompanhamento, que alguns autores fazem remeter ao século XIX. Por outro lado, recorre-se a um instrumento, o saxofone soprano, cuja versatilidade e aproximação à voz humana permite suavizar o desequilíbrio criado.

Após a visita às exposições patentes na bienal cultural, segue-se às 21h a inauguração do Museu do Fresco. Neste museu pode apreciar-se o Fresco do Bom e Mau Juiz, pintura dos finais do século XV e descoberta em 1958 que representa a alegoria da justiça terrena, em que o bom e o mau juiz são os elementos principais e que evidenciam as fórmulas tradicionais de isenção e corrupção humanas.

A fechar a primeira noite, a fadista Cuca Roseta atua às 22h, no Largo D. Nuno Álvares Pereira. Cuca Roseta lançou no ano passado o seu primeiro álbum em nome próprio, homónimo, produzido pelo músico, compositor e produtor argentino Gustavo Santaolalla, autor das bandas sonoras dos filmes “Babel” e “Brokeback Mountain”, com as quais ganhou dois Óscares. Durante a gravação o produtor deu tempo e espaço para a voz de Cuca Roseta dizer a verdade que tem.

O resultado é uma coleção de temas que, dos mais clássicos como “Rua do Capelão” ou “Marcha de Santo António”, até aos musicados como “Porque Voltas De Que Lei” (letra de Amália Rodrigues, colaboração do tanguero Cristobal Repetto e do próprio Gustavo Santaolalla) ou “Maré Viva” (poema de Rosa Lobato Faria vertido para castelhano), torna este álbum um testemunho verdadeiro de uma vocação. E ainda com a mais-valia de apresentar uma fadista dona das suas próprias palavras, como acontece em “Homem Português” ou “Nos Teus Braços”.

Na bienal cultural Monsaraz Museu Aberto, Cuca Roseta vai estar acompanhada por Mário Pacheco na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola de fado e Rodrigo Serrão no contrabaixo.

No dia 14 de julho, às 22h, a Praça de Armas do Castelo de Monsaraz recebe o espetáculo equestre “Povos e Tradições”. Um espetáculo interativo em que os cavalos de trabalho nos volteios do gado se juntam às bailarinas de flamenco e a compasso dançam temas interpretados por fadistas e cantores de flamenco, acompanhados dos respetivos músicos.

No domingo, pelas 18h, no Jardim da Universidade, realiza-se um torneio do jogo Alquerque. O Alquerque era jogado no antigo Egito há mais de 3 mil anos, foi introduzido na Europa no século VIII pelos muçulmanos e o tabuleiro de jogo está desenhado em lajes dispersas por Monsaraz. Os habitantes da vila medieval deixaram de jogar o jogo há mais de meio século e a autarquia está a revitalizar o Alquerque, tendo produzido réplicas deste divertimento, considerado o antepassado do atual Jogo de Damas.

A partir das 22h, também no Jardim da Universidade, decorre o espetáculo “MalFADO ZECA”, pelo Gato Malvado Ensemble. Em 2010 João Rocha (trompete) e Tuniko Goulart (guitarra) resolveram criar um projeto que pudesse ir de encontro a diversas temáticas. Endereçaram o convite a Vasco Ramalho (percussão) e a Tiago Sequeira (piano) e nasceu o Gato Malvado Ensemble.

Do “Gato” vêm as sete vidas e as sete notas, do “Malvado” uma clave de irreverência artística, com vontade de fazer diferente. Para o grito do “Gato” foi convidada Ondina, cantadeira de eleição com uma voz malvadamente pura.

O dia 20 de julho é dedicado à cooperação transfronteiriça. Assim, pelas 22h, realiza-se no Largo D. Nuno Álvares Pereira, o espetáculo “Sons Ibéricos”. Uma noite preenchida com o flamenco da Peña Flamenca Esther Merino, o folclore do Grupo de Dança e Coro “Fuente de La Plata” e com fados de Lina Sardinha e Joaquina Canete, acompanhadas à guitarra por António Barros e à viola por António José Caeiro. Tal como o fado, neste espetáculo celebra-se igualmente a escolha do flamenco como património mundial.

A Festa do Cante nas Terras do Grande Lago decorre no dia 21 de julho, a partir das 21h, no Largo D. Nuno Álvares Pereira, com as atuações do Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz, Grupo Coral da Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz, Grupo Coral Associação Gente Nova de Campinho, Grupo Coral da Granja, Grupo Coral da Luz e Granjarte – Grupo Feminino de Cantares Alentejanos da Granja.

Neste espetáculo haverá também uma participação especial do grupo 4 ao Sul, que recria os ambientes das modas alentejanas acompanhadas pelas violas campaniças usando técnicas originais, e ainda poesia com Manuel Sérgio, seguida à viola por José Manuel Farinha.

No dia 22 de julho, na Igreja de Santiago, realiza-se às 16h30 o fórum do cante alentejano, sob o tema “Cante e salvaguarda: um diálogo urgente”. Neste fórum participam Ana Paula Amendoeira, Presidente da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), com uma comunicação denominada “Património Cultural Imaterial”, Paulo Lima, que pertence ao Comité Cientifico da candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da UNESCO e que vai falar sobre “A candidatura e o plano de salvaguarda”, e ainda Ceia da Silva, Presidente da Turismo do Alentejo – ERT, que vai abordar a temática “Turismo Cultural”.

Pelas 22h, no Jardim da Universidade, decorre o concerto “Guitolão: O Cante da Guitarra Portuguesa”, com António Eustáquio em guitolão e guitarra portuguesa, acompanhado por um quarteto de cordas, que apresentará um programa composto de originais e transcrições de obras de Carlos Paredes. O guitolão, um novo instrumento musical português, é um cordofone baseado na guitarra portuguesa, mas com um registo mais grave. Uma sugestão de Carlos Paredes tornada realidade pelo construtor Gilberto Grácio.

O último fim-de-semana do festival Monsaraz Museu Aberto abre no dia 27 de julho, pelas 22h, com a Gala do Cante. Este espetáculo de cante alentejano e fado em homenagem a Alberto Janes e Manuel Conde vai decorrer no Largo D. Nuno Álvares Pereira e conta com as atuações de Cuca Roseta e António Zambujo, mas também de Mário Moita que vai apresentar “Fado das Descobertas”, uma viagem pelos países do Mediterrâneo e do Atlântico com fusão de músicas locais e fado. Na Gala do Cante participa também o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz e haverá poesia com Manuel Sérgio, acompanhado à viola por José Manuel Farinha.

Jorge Roque & Projeto Madrugada apresentam no dia 28 de julho, às 22h, no Largo D. Nuno Álvares Pereira, um espetáculo único em que a fusão entre a sonoridade jazz/pop do grupo se junta ao fado e ao cante alentejano. Jorge Roque, que está a preparar o seu primeiro trabalho discográfico a solo, vai ter a participação neste concerto de três músicos de Reguengos de Monsaraz, nomeadamente Kajó Soares (saxofone), Herlander Medinas (baixo elétrico e contrabaixo) e Luís Lopes (clarinete).

A fadista Maria Ana Bobone vai fechar o Monsaraz Museu Aberto no dia 29 de julho, pelas 22h, com um espetáculo na Igreja de Nossa Senhora da Lagoa. Esta voz da nova geração do fado vai apresentar o seu quarto trabalho discográfico intitulado “Fado & Piano”, que pode ser considerado uma celebração do fado como património mundial. Neste disco, Maria Ana Bobone, para além de cantar acompanha-se a si própria ao piano, faz todos os arranjos, compõe temas originais, assina pela primeira vez algumas letras e liderou a conceção do projeto.

A bienal cultural vai proporcionar observações astronómicas nos dias 14, 21 e 28 de julho, a partir da meia-noite. O Grande Lago Alqueva é o primeiro destino no mundo a obter a certificação Starlight Tourism Destination atribuída pela UNESCO e pela Organização Mundial do Turismo.

O Monsaraz Museu Aberto terá exposições patentes diariamente durante as três semanas do festival. No Museu do Fresco vai estar a exposição “Monsaraz na História”, em que o Município de Reguengos de Monsaraz pretende mostrar alguns acontecimentos da história de Monsaraz que permaneceram desconhecidos. Ao longo de cinco séculos, desde a Idade Média até meados do século XIX, factos como a instituição da Misericórdia, o Celeiro Comum, a lenda dos dotes de casamento, o texto da aclamação de D. João IV, entre outros, serão apresentados ao público através de documentos, ilustrações, fotografias e textos explicativos.

A Art Brut do pintor-escultor italiano Moss vai poder ser apreciada pelas ruas de Monsaraz. A exposição de escultura “Totens” apresenta estátuas, faces de ilhas longínquas, da Páscoa, da Papuásia ou tribos de homens nus em totem-tríptico.

Na Casa Monsaraz vai estar patente o ateliê de trabalho ao vivo “Oficina da Terra”. Tiago Cabeça e Magda Ventura iniciaram a sua atividade em 1998 na Olaria Guimarães Velho, em S. Pedro do Corval, maior centro oleiro do país, tendo depois decidido dedicar-se ao projeto Aldeia da Terra, um jardim de esculturas localizado em Arraiolos e classificado de Interesse Cultural pelo Ministério da Cultura. Composta por milhares de pequenas esculturas em terracota, a Aldeia da Terra localiza-se numa área de três mil metros quadrados a céu aberto e está em permanente crescimento.

“Sementes do Universo”, assim se intitula o ateliê de pintura que Alice Alves vai apresentar na Igreja de Santiago. A natureza que temos de proteger é a sua fonte contínua de inspiração e o seu objetivo é que as pessoas que veem as suas obras reflitam sobre a existência e a exigência da vida, da natureza e dos seres vivos.

Sarah FitzSimons e José Carlos Teixeira apresentam fotografia e vídeo provenientes de projetos recentes, cujos conceitos em comum são a relação do corpo com a arquitetura (tanto física como psicologicamente) e a relação da arquitetura com o lugar. Para Sarah FitzSimons, lugar enquanto espaço natural, geográfico e geológico, e para José Carlos Teixeira enquanto espaço urbano, político e histórico. Reunidos pela primeira vez em colaboração artística, o seu objetivo é também dialogar com a arquitetura específica e a carga histórica da Casa da Inquisição, que acolhe esta exposição.

Os trabalhos que podem ser apreciados nesta mostra intitulada “Ponto e Coordenada” são “House for MandØ”, em que Sarah FitzSimons desenha com tubos de alumínio uma casa a três dimensões, em escala real, implantando-a numa planície de maré no Mar de Wadden (Dinamarca), e “Being Other (a new community)” que consiste num vídeo desenvolvido por José Carlos Teixeira e um grupo de colaboradores na Bienal de Kaunas 09 (Lituânia).

Na Torre de Menagem vai estar patente a exposição de fotografia “Gentes de Monsaraz”, elaborada a partir de fotografias cedidas por diversas famílias da freguesia de Monsaraz e do espólio do Arquivo Municipal de Reguengos de Monsaraz. Através destas imagens pode-se percorrer décadas da história de Monsaraz e da sua memória coletiva, relembrando as gentes e os ofícios, alguns momentos importantes e a transformação dos lugares, dos costumes, da sociedade e da vila de uma forma global.

A Casa Lagareiro recebe duas exposições de tauromaquia. “Mestre Batista – Uma vida, um património” reúne o espólio do cavaleiro tauromáquico que nasceu em S. Marcos do Campo, freguesia do concelho de Reguengos de Monsaraz e que conquistou os aficionados pela sua forma ousada de lidar os toiros. Rapidamente começou a lidar junto de grandes nomes da tauromaquia, tendo toureado em Portugal, Angola, Moçambique, Macau, Espanha e França. Ganhou três vezes o prémio “Bordalo” na categoria de tauromaquia como “melhor cavaleiro”, em 1963, 1964 e 1971.

A outra mostra patente na Casa Lagareiro é de Lucia Parra e intitula-se “Tauromaquia”. A exposição é composta por quadros a óleo e desenhos de momentos que se vivem numa corrida de toiros. A pintora espanhola tem explorado nos últimos anos a pintura taurina, um gosto enraizado na sua família materna e na sua localidade de nascimento, Villanueva del Fresno.

Uma viagem pelas paisagens, costumes e tradições de Monsaraz é a proposta que pode ser apreciada na Rua Direita. Trata-se de uma projeção de imagens que transporta os espetadores por recantos novos e antigos que caraterizam as vivências e estados de alma dos habitantes de Monsaraz.

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