O coletivo artístico Policromia, que integra o artista algarvio «El Menau», vai instalar-se no Mercado Municipal de Faro e trazer (ainda mais) criatividade a este espaço da capital algarvia.
Os muitos artistas que compõem este grupo, formalizado como associação há cerca de 3 anos, vão ocupar as duas únicas lojas que se mantinham vazias no edifício do Mercado e passar a ter um atelier e uma sala para exposições no terraço da infraestrutura, ao abrigo de um protocolo assinado ontem, segunda-feira, com a autarquia farense.
O acordo foi, de resto, rápido. Como ilustra o vice-presidente da Câmara de Faro Paulo Santos, que representou a Câmara nas conversas mantidas com a associação, desde do nascimento da ideia de trazer a Policromia para o Mercado Mercado até ontem, dia da formalização do acordo, «passaram pouco mais de três semanas».
Também do lado da associação, cujo núcleo fundador é composto por nove artistas de diferentes áreas – mas que já agregou muitos mais, desde a sua fundação – há vontade em mostrar trabalho depressa, até porque a criatividade não pára. «Penso que dentro de um mês ou dois, já teremos algo para mostrar», acredita Élsio Menau, presidente da associação Policromia e um dos seus fundadores.
Quem visitar o Mercado Municipal poderá, dentro de pouco tempo, deparar-se com o mais variado tipo de expressões artísticas. «As nossas áreas principais são as artes plásticas e a street art. Temos realizado exposições com pintura, escultura, vídeo, instalação, entre outros. Queremos fazer aqui exposições e dar formação, em diferentes áreas», descreve.
A instalação da Policromia no Mercado de Faro leva a que, pela primeira vez, esta infraestrutura tenha todas as suas lojas ocupadas e a funcionar, regularmente. E as últimas “contratações” foram entidades muito ligadas ao setor criativo e das artes -a escola ETIC e a associação cultural Policromia.
«Temos feito um grande esforço para ter todos os espaços do Mercado ocupados, e, a partir de hoje, isso vai acontecer. Isto traz uma vantagem muito grande para o equipamento e para as atividades que aqui se desenvolvem», ilustrou o presidente da Câmara de Faro Rogério Bacalhau, à margem da assinatura do protocolo de cedência do espaço.
«Esta é uma associação cultural que, penso, pode trazer uma mais valia não só ao Mercado Municipal, mas também à cidade. São todos artistas jovens, com grande potencial e uma ligação muito forte à Universidade. Conhecem, perfeitamente, a realidade farense, ao nível de outras associações e outros artistas que cá operam. Portanto, estão totalmente integrados, o que permitirá ter aqui um conjunto de sinergias que podem trazer uma mais valia para Faro e aumentar os nossos níveis de notoriedade», considerou o edil farense.
A associação Policromia vai para o mercado num regime de comodato, sem qualquer encargo associado, mas com a condição de ter de sair, caso haja uma proposta para a ocupação dos espaços «para o seu fim original», ou seja, estabelecimentos de restauração. «Se isso vier a acontecer, a breve trecho, teremos de equacionar uma alternativa. Mas este espaço estava sem interessados há muito tempo e não há perspetiva de que surjam propostas, num curto espaço de tempo», revelou Rogério Bacalhau.
Policromia tem raízes em Quarteira, mas aposta em Faro para crescer
A Associação Cultural Policromia tem raízes em Quarteira (o código postal desta localidade de Loulé, 8125, está inscrito no seu logótipo), mas é em Faro que quer crescer.
«Esta é a cidade perfeita. Tem a universidade e o público que nós queríamos, que não existe em Quarteira. Aqui temos jovens, a UAlg, o Aeroporto, o pessoal de Erasmus… pessoas a quem queremos chegar, que viajam pelo mundo. Queremos ter uma porta aberta para o mundo», ilustrou Élsio Menau.
Élsio Menau, cujo nome artístico é «El Menau» , é o artista mais conhecido de um grupo de jovens talentos, algarvios e não só, que há muitos anos colaboram.
«Começámos a trabalhar juntos em 1998 e somos um grupo formal desde 2001. Em 2012, decidimos criar a associação, até porque precisávamos de uma identidade, para crescer mais e dar o passo a seguir».
A evolução deste grupo não aconteceu apenas ao nível da personalidade jurídica. Grande parte dos seus membros estão intimamente ligados ao curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve, algo que aconteceu depois o coletivo Policromia ter sido criado.
«Somos quase todos licenciados ou mestrados no Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve. A associação não nasceu dentro da universidade, mas a maioria dos associados acabaram por associar-se à universidade. Também começaram a chegar mais membros, vindos da UAlg, que nós quisemos adicionar para ter um grupo mais eclético. Somos nove fundadores, mas, agora, seremos já 40 ou 50», revelou Menau.
«El Menau» até esteve em foco, este Verão, devido a um processo que lhe foi movido, por ultraje à bandeira nacional, devido à sua instalação «Portugal na Forca», o trabalho de final de curso do artista. Apesar de ter ido a tribunal, acabou absolvido pelo juiz, que considerou que a instalação, onde a bandeira de Portugal aparecia “enforcada”, não tinha a intenção de ofender este símbolo nacional, mas sim veicular uma mensagem, através da expressão artística.
O artista algarvio, que não esconde que saiu mais forte deste episódio, garante, agora, que o trabalho da associação de que é presidente e co-fundador não ficará fechado nos espaços que agora vai ocupar, nem sequer confinado ao Mercado Municipal de Faro.
«Queremos ter exposições patentes durante todo o ano. Depois daremos aulas de pintura, escultura, street art e vídeo, entre outras. Também queremos fazer projetos de reabilitação do espaço urbano e de edifícios abandonados. Queremos reinventar Faro, apagar a imagem do vandalismo que existe e tentar reencaminhar quem o faz para uma arte que seja mais reconhecida e menos suja, para a cidade, mas sem os reprimir», disse.
Esta intervenção que será feita na cidade, em si, também é salientada pelo vice-presidente da autarquia Paulo Santos. A instalação da Policromia no Mercado Municipal, considerou, irá contribuir para a dinamização do equipamento, mas também vai permitir «trabalhar a cidade e começar a “invadi-la”, gradualmente».