O corte de 4,1 milhões de euros que o serviço de transportes públicos urbanos de Portimão, designados como Vai e Vem, vai sofrer a partir de 16 de março, além dos transtornos para a população, vai significar o despedimento coletivo de quase metade dos motoristas da empresa que presta esse serviço à autarquia, a Frota Azul.
Segundo o jornal Correio da Manhã, a Frota Azul vai avançar ainda este mês com o processo de despedimento coletivo de 35 a 40 dos atuais 96 motoristas afetos ao Vai e Vem.
Esta será uma das consequências sociais mais dramáticas da reformulação profunda que o serviço está a sofrer e que passa ainda pela supressão das linhas com médias muito baixas de passageiros por viagem, fim da oferta no período noturno e em algumas zonas periféricas, redução da oferta no fim de semana e nos dias úteis durante os horários fora das horas de ponta, bem como dos percursos no período de verão. As alterações entram em vigor a partir de 16 de março.
Estes cortes, a que a Câmara de Portimão prefere chamar «reformulação» , resultam da necessidade de a autarquia reduzir em 4,1 milhões de euros as despesas com o Vai e Vem, para cumprir as metas do Plano de Ajustamento Financeiro em curso no município, e que decorrem da candidatura da autarquia ao PAEL (Programa de Apoio à Economia Local).
A Câmara sublinha que, a partir de 2009, suportou «um défice de exploração anual na ordem dos 4 milhões de euros, ao passo que as receitas geradas foram ficando aquém das previstas, apesar das constantes reformulações, o que impediu o sucesso da estratégia inicialmente delineada para a progressiva sustentabilidade do sistema».
«Acresce o facto de este tipo de investimento ter sido efetuado sem qualquer comparticipação estatal, pelo que foi exclusivamente assumido pelos cofres da autarquia, a que se juntam as atuais restrições impostas às Câmaras, o que torna inviável continuar a suportar este tipo de investimentos».
Esta reformulação, salienta a Câmara, «tem como objetivo otimizar os serviços do Vai e Vem, suprimindo linhas escassamente utilizadas, e racionalizar desta forma os custos para o erário público».
A autarquia, em nota de imprensa enviada às redações, assume «que a reestruturação em curso alterará o dia-a-dia dos utilizadores», mas garante ter feito «um grande esforço no sentido de minimizar esse impacto, por reconhecer a importância e o carácter social do circuito».
Quais as alterações?
Na prática, o serviço de transportes urbanos vai passar das atuais 17 linhas, 565 paragens e 44 viaturas, para 14 linhas, 395 paragens e 22 viaturas, sendo que, de segunda a sexta-feira, funcionarão 12 linhas.
Sempre que possível será garantida a articulação com o serviço interurbano rodoviário e ferroviário. Aos fins de semana e feriados serão três linhas a operar e no verão (de 1 de julho a 31 de gosto) está prevista uma linha noturna todos os dias.
Nos dias úteis, todas as linhas têm serviço das 7h00 às 20h00, sendo consideradas horas de ponta os períodos das 07h00 às 10h00 e das 17h00 às 20h00.
Os percursos foram reorganizados para garantir estabelecer as ligações entre o centro de Portimão e áreas escolares e de serviços, zonas de praias, zonas ribeirinhas e entre Portimão e Penina, Montes de Alvor, Alvor, Bemposta, Alfarrobeiras, Ladeira do Vau e Companheira.
No que toca à Mexilhoeira Grande, a oferta não é suprimida, embora seja «reduzida significativamente», assegurando-se contudo o transporte escolar e as principais horas de deslocação da população, que tem como alternativa a linha interurbana Lagos – Portimão.
Na prática, das 14 linhas que se mantêm, sete servem a freguesia de Portimão, seis a de Alvor e uma a da Mexilhoeira Grande.
Consciente dos transtornos que estas reduções e alterações vão trazer ao dia a dia dos portimonenses, a Câmara anunciou que, durante este período prévio e até 16 de março, vão decorrer várias ações de informação.
Haverá equipas de rua para esclarecimento de eventuais dúvidas, ao mesmo tempo que o site www.cm-portimao.pt ou http://vaivem.portimaourbis.pt/disponibilizam todos os dados sobre as novas linhas e as alterações.
Estão também marcadas ações de informação sobre estas alterações em diversas zonas do concelho, sendo que os pontos de venda e de informação estarão munidos de material informativo, em suporte de papel.
Numeração das carreiras também se altera
Também a numeração vai mudar, com a introdução de dois algarismos, sendo que o primeiro dígito passa a corresponder à freguesia de destino do autocarro e o segundo dígito é o número sequencial na freguesia.
Todos os números das linhas têm dois dígitos, correspondendo o primeiro dígito ao último algarismo do código da freguesia (INE) de destino: as linhas “10” terminam na freguesia de Alvor; as linhas “20” terminam na freguesia da Mexilhoeira, as linhas “30” começam e terminam na freguesia de Portimão.
Tarifário
Todas as linhas utilizam o tarifário Zona Única, o que permitirá ao utilizador regular optar pelo título de assinatura mensal (24€), enquanto o utilizador ocasional poderá optar pelo título pré-comprado (8€), título diário (3,5€) ou bilhete simples (1,5€).
Foi decidido manter o tarifário social, dirigido a estudantes, idosos e portadores de mobilidade reduzida e que representa um desconto de 40% no valor da assinatura mensal.
Alguns números
Entre 2011 e 2012, as paragens foram reduzidas de 450 para 440 e as linhas de 18 para 17, mantendo-se em circulação 44 viaturas, que percorreram no primeiro ano 3.323.321,39 quilómetros e no segundo cerca de 2.900.000 quilómetros.
Foram transportados 2.556.649 passageiros em 2011 e 2.121.192 no ano passado, que geraram um decréscimo do proveito, de 1.456.689,03 euros para 1.382.478,05 euros.
Neste período, a procura de passes subiu de 64,07% para 67,77%, os pré-comprados desceram de 19,39% para 16,19%, o bilhete simples desceu de 16,53% para 14,80%, e o bilhete diário subiu de 0,01% para 0,02%.