A Formosa – Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa inaugurou oficialmente esta quinta-feira a sua primeira unidade de depuração de bivalves, uma infraestrutura que vai permitir que tanto os sócios da cooperativa, como o consumidor, fiquem «a ganhar».
«Nós pagamos mais caro a quem produz e vendemos mais barato a quem consome. Daí que se chame Depuradora do Povo», ilustrou o presidente da Formosa Manuel Augusto da Paz.
A unidade de depuração ontem inaugurada no Porto de Olhão tem capacidade para depurar 1000 a 1500 quilos de bivalves por dia e acolherá a produção dos 117 sócios da Formosa, que verão a sua margem de lucro aumentar. Como tem a valência de venda direta ao público, também o consumidor beneficiará, já que a cooperativa, o único intermediário no processo, tira para si «uma pequena margem, de apenas dez por cento», sobre o preço de venda final.
Além da venda direta ao público, a «Depuradora do Povo» permitiu aos viveiristas internacionalizar-se e vender os seus bivalves além fronteiras, através da associação que os representa.«Agora somos nós que vendemos o produto dos nossos associados. Já temos uma carteira de clientes bem grande. Já vendemos para a Rússia, Angola e Bélgica, apesar de ainda não ser grandes quantidades», revelou Augusto da Paz.
O produto é vendido fresco e «vivinho». «Vai de avião. Sai daqui de manhã, apanha o avião em Lisboa e, em 24 horas, está no cliente. Se for bem tratado, este produto aguenta em boas condições 6 a 8 dias», revelou.
Antes da entrada em funcionamento, tudo era bem diferente. «Os produtores vendiam a quem tinha depuradoras e eles é que a depuravam e revendiam para outro lado», conta o presidente da Formosa. «O problema desta cooperativa, desde que foi fundada, era que os outros tiravam para si uma fatia de 50 por cento [sobre o preço final]», considerou.
Por esta altura, a «Depuradora do Povo» está já a trabalhar a cem por cento, fruto de um investimento de 280 mil euros, comparticipado em 80 por cento por fundos europeus e nacionais. Mas, para chegar desde o sonho dos viveiristas de Olhão até à sua realização, passaram-se «mais de dez anos».
«Umas vezes não estava bem de um lado, doutras vezes não estava bem de outro, papelada mal, depois bem, e enrola debaixo de um saco… não vale a pena comentar mais», contou.
«Mas, com este Governo que está ai, isto deu um grande salto. Todos deram um bocadinho, mas o atual foi o único que abriu a porta e deu um empurrão grande nisto», disse Augusto da Paz.
Governo que esteve representado na inauguração da «Depuradora do Povo» pelo secretário de Estado do Mar Manuel Pinto Abreu, que frisou o entendimento conseguido pelas diferentes entidades envolvidas neste processo, que permitiu abrir a nova unidade de depuração.
«Esta é uma obra notável, que vai permitir desenvolvimento económico. E, apesar de ter sido inaugurada hoje, já há planos para a ampliar», salientou o membro do Governo.
Mas, admite, até chegar aqui, percorreu-se «um caminho difícil». «Não se tratou só uma questão de licenciamento e financiamento. Havia uma questão estrutural. Encontrava-se uma solução e logo surgia uma nova dificuldade», disse Manuel Pinto de Abreu.
«Isto não significa que um processo com este tempo de execução possa ser a norma. Temos de melhorar e é por isso que eu estou aqui: saber todas as dificuldades e aquilo porque passaram, para a próxima vez ser muito melhor e mais rápido», acrescentou.
E, tratando-se de viveiristas e de Olhão, a cerimónia não terminou sem provar o produto depurado. À porta da depuradora do povo foi feita a típica Vila de Ameijoas olhanense, que mereceu os aplausos do membro do Governo.
De tal forma que, em conversa à margem da cerimónia, Manuel Pinto de Abreu, o diretor da Docapesca José Apolinário e o presidente da Câmara de Olhão António Pina chegaram a acordo para reeditar esta tradição olhanense, na Páscoa de 2015.
Fotos: Adilson Vicente_CMO