O deputado comunista algarvio Paulo Sá vai levar o caso dos salários em atraso no Clube Praia da Rocha à Assembleia da República, «questionando o ministro com a tutela do Trabalho».
Paulo Sá, que esta manhã foi o único parlamentar algarvio presente na manifestação de apoio à trabalhadora que, desde sexta-feira, se mantém acorrentada às escadas interiores daquele complexo turístico para exigir os salários em atraso, considerou o protesto como «uma atitude de desespero».
«Nunca tive salários em atraso, mas imagino que um trabalhador que tenha salários em atraso, meses e meses a fio, e que a certa altura não tem dinheiro para colocar comida na mesa, nem para pagar água, luz, gás, chega a uma situação desesperada e que, como esta senhora, se acorrente à empresa onde lhe devem os salários, para exigir aquilo que é um direito básico dela. A senhora não devia ter necessidade de se acorrentar para exigir os seus salários em atraso», disse o deputado, depois de ter conseguido entrar no edifício para conversar com Marilu Santana, a trabalhadora em causa.
«Não deveria ser preciso chegar a uma situação destas, os trabalhadores deveriam receber os seus salários e compensações como está previsto na lei. O problema é que essa lei não está a ser cumprida e, da parte do Governo, não tem havido uma intervenção decisiva e diligente no sentido de forçar o cumprimento da lei. O Governo devia intervir, através dos mecanismos de que dispõe, nomeadamente da ACT, para garantir que as entidades patronais cumprem as suas obrigações. Mas infelizmente há demasiada permissividade do Governo, lamentou Paulo Sá, em declarações aos jornalistas.
Esta manhã, o administrador do Clube Praia da Rocha aceitou finalmente ter uma reunião com o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, mas não permitiu que participasse qualquer dos trabalhadores lesados. No entanto, segundo disse ao Sul Informação o sindicalista Tiago Jacinto, «não se adiantou nada nessa reunião. O Sr. Paulo Martins limitou-se a repetir os argumentos que já tem usado antes, dizendo que não pode pagar já aos trabalhadores porque os proprietários dos apartamentos que a sua empresa gere não lhe pagam. E voltou a prometer que vai pagar em Junho».
Fartos de promessas e perante a determinação da trabalhadora Marilu Santana de não abandonar o seu protesto enquanto ela e os colegas não forem pagos, ao fim da manhã de hoje houve uma manifestação de apoio frente à receção do Clube Praia da Rocha, promovida pela União de Sindicatos do Algarve, que juntou cerca de duas dezenas de trabalhadores, bem como outras pessoas. Estiveram também presentes dois dos vereadores da oposição da Câmara de Portimão, João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda, e Nelson Freitas, da CDU.
Empunhando cartazes e faixas exigindo o pagamento dos salários, os manifestantes gritaram: «Isto assim não pode ser, trabalhar sem receber».
A administração do Clube Praia da Rocha, perante o barulho das palavras de ordem gritadas e da música de uma aparelhagem de som, mesmo à frente da receção do complexo, pediu a intervenção da PSP, que apenas solicitou aos manifestantes que evitassem a música.
Entretanto, Marilu Santana e os colegas mantêm-se no local em protesto, pelo quarto dia consecutivo.