A opinião dos membros da Comissão Parlamentar de Saúde é consensual: o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no Algarve, não é bom e há que encontrar novas soluções, nomeadamente no que toca à gestão do Centro Hospitalar do Algarve (CHA).
E, embora seja previsível a saída do atual Conselho de Administração, presidido por Pedro Nunes, no final do ano, altura em que o seu mandato termina, há a perceção, da Esquerda à Direita, que isso, só por si, não irá resolver os problemas dos hospitais algarvios.
«Ficaria muito feliz se o problema da saúde, no Algarve, ficasse resolvido com a saída do Dr. Pedro Nunes», disse ao Sul Informação o deputado do PSD eleito pelo Algarve Cristóvão Norte, um dos membros da comissão que participou na visita que os parlamentares fizeram ontem ao Hospital e Centro de Saúde de Portimão. Mas, na visão do social-democrata, bem como de deputados do PS, BE, isso dificilmente acontecerá.
A motivação desta visita, que colocou os deputados a falar com os responsáveis pela saúde, na região, com entidades representativas dos profissionais de saúde e funcionários públicos, e com os presidentes de Câmara da região, foi a ideia que já existia no meio daquela estrutura parlamentar de que «existem problemas no SNS, no Algarve», segundo o presidente em exercício da Comissão de Saúde Moisés Ferreira.
As reuniões, que «foram muito elucidativas da realidade», permitiram perceber, segundo o deputado do Bloco de Esquerda, que há muitos problemas, alguns dos quais graves, e que o principal é «a falta de médicos e enfermeiros», uma questão levantada por todos os interlocutores da comissão.
Na condição de coordenador do grupo, Moisés Ferreira revelo que também esteve no centro da discussão «a necessidade de haver mais formação de especialistas, no Algarve, como forma de atrair mais médicos».
Já numa análise mais política, na condição de deputado do BE, considerou que há «uma falta gritante de profissionais de saúde, na região». «Segundo o presidente da ARS, 23 por cento da população não tem médico de família, o que é grave. Também há falta de muitos especialistas no centro hospitalar, que tem um corpo clínico muito reduzido», considerou.
A solução passa, por um lado, «pela melhoria das condições de trabalho dos profissionais», resolvendo questões relacionadas com os horários, mas também «com a remuneração», os principais problemas apontados pelos representantes das diferentes classes.
Por outro, há que «haver mais formação de médicos especialistas». «Recentemente, houve 113 internos que ficaram sem especialidade, por não terem abertos vagas suficientes para a especialização. Houve uma tentativa de que se abrissem mais vagas, nos hospitais do Algarve, mas isso acabou por não acontecer», lembrou.
Para Moisés Ferreira, haver «essa formação e um aumento de vagas para especialização era fundamental» para atrair mais médicos para a região.
Já o deputado socialista Luís Graça, eleito pelo círculo do Algarve, defendeu que «é preciso virar a página e apostar num modelo em que, em vez de conflitos, haja cooperação, em vez de autoritarismo, haja diálogo». «Temos de envolver os diferentes parceiros e criar para o Algarve uma nova missão académica e assistencial», que coloque o CHA a trabalhar em conjunto e harmonia com a Administração Regional de Saúde (ARS) e com a Universidade do Algarve.
Neste momento, considera o deputado socialista, estas três entidades «estão de costas voltadas», com prejuízos para o setor da saúde, na região. E, apesar de considerar que as visões dos atuais responsáveis pela ARS e pelo CHA «não têm correspondência com a realidade», não coloca o seu afastamento como condição para que haja melhorias.
«O que é mais importante é perceber que o atual modelo de governação está esgotado, independentemente das pessoas que possam estar à frente das instituições. O que interessa é encontrar um modelo diferente, mais participado», defendeu. Quanto à atual administração do CHA, considerou que não é o papel da comissão «pedir demissões», mas lembra que o mandato está acabar e que acha que «os algarvios querem uma mudança».
Já Cristóvão Norte defendeu que os problemas do hospitais do Algarve, não estão ligados à administração do CHA, mas sim à organização deste centro hospitalar. «O que temos de perceber é se o atual modelo contribuiu para uma melhoria na prestação de serviços de saúde à população», defendeu.
O parlamentar social-democrata admite que nem tudo esteja bem e que «haja ajustamentos a fazer». Mas, diz, qualquer modelo que se venha a implementar, só será eficiente se se conseguir captar mais profissionais de saúde para o Algarve.
«Queremos que a falta crónica de médicos, no CHA, seja resolvida. Se as medidas de atração lançadas pelo anterior Governo se mostrarem insuficientes, estaremos do lado da solução e apoiaremos a construção de mais instrumentos que ponham cobro a essa situação», assegurou.
Outro ponto de honra, para o deputado do PSD, é o investimento na formação de médicos, no CHA, algo que passa pela abertura de vagas para especialização, como Moisés Ferreira também defendeu, mas também pela resolução dos problemas de perda da idoneidade formativa com que os hospitais algarvios se debatem, em algumas especialidades.
Aqui, a Ordem dos Médicos «tem uma palavra a dizer», já que é por este estrutura que passa «a decisão da abertura, ou não, de vagas para especialização». Por outro lado, considera Cristóvão Norte, também está na altura de reavaliar a idoneidade formativa das especialidades que a perderam, já que «entretanto, foram feitas diversas alterações, e a medida nunca foi revista».
O deputado algarvio do PSD promete fazer uma exposição à Ordem dos Médicos, onde abordará as duas questões.