Também se pode refletir e apontar soluções para contrariar o fenómeno da desertificação no interior do Algarve através da cultura. Foi este o exercício que a associação algarvia DeVIR lançou a 30 conceituados criadores nacionais e cujo resultado pode ser visto a partir de hoje, quarta-feira, no 1º Festival Encontros do DeVIR, que começa às 21h30, no Centro de Artes Performativas do Algarve (CAPa), em Faro.
A ideia para este festival já surgiu em 2004, mas a falta de financiamento ditou que só quase dez anos depois fosse realmente lançado. Para isso contribuíram apoios do Programa Operacional Algarve 21 e da Secretaria de Estado da Cultura, mas acima de tudo a abertura dos artistas envolvidos. «Todas as pessoas envolvidas, exceto uma, já haviam trabalhado com a nossa estrutura. Assim, lançámos o desafio e conseguimos que eles aceitassem, sem estar a receber uma fortuna», revelou ao Sul Informação o dirigente da DeVIR José Laginha.
Ao longo de quatro dias, vão passar pelo CAPa criadores nacionais que são referências nas respetivas artes. Carlos Bica, Gonçalo M. Tavares, Amélia Muge, Vera Mantero e o próprio José Laginha, para mencionar apenas alguns dos 30 criadores envolvidos nas 27 criações a apresentar, vão subir ao palco desta estrutura cultural algarvia e refletir, através da sua arte, sobre o tema da desertificação do interior.
Esta é apenas a primeira parte do 1º Festival Encontros do DeVIR, que se divide em dois momentos, o que hoje começa, designado «Encontros do DeVIR – Criação» e um outro momento que acontecerá «em data a anunciar», designado «Encontros do DeVir Ciência».
A ideia é refletir sobre a região, começando pelo seu interior. Daí que todos os artistas ligados ao projeto tenham sido desafiados a visitar a Serra do Caldeirão, guiados por «um técnico que trabalha naquele território, sem fomentar o contacto directo e o envolvimento com as populações, evitando o lado intrusivo e voyeurista», apesar de a componente humana estar bem presente nas criações. Além da música e artes performativas, todas as noites será levada à cena uma criação de um escritor luso, inspirada por esta passagem na Serra do Caldeirão.
Esta noite, vão ser exibidos quatro documentários criados a partir destas visitas, bem como 10 novos projetos fotográficos e o “making of” do festival. Também estará em destaque o trabalho do fotógrafo Luís da Cruz. O evento conta com o seu próprio jornal, onde se pode encontrar uma descrição detalhada de cada um dos projetos.
Na quinta-feira, dia 27, o festival abre com a criação do conceituado músico e compositor Carlos Bica, acompanhado por Norberto Lobo. Depois do jazz, vem a literatura, com o foco a ser apontado para o escritor Abel Neves. José Laginha e Marlene Vilhena encerram o programa do dia com um espetáculo de Dança.
Sexta-feira, 28 de setembro, começa com um concerto de Amélia Muge e André Martins. De seguida, dar-se-á espaço ao escritor José Maria Vieira Mendes, a cuja reflexão se seguirá o espetáculo de dança protagonizado por Vera Mantero.
No sábado, dia 29 a música estará a cargo de João Paulo Esteves da Silva. Na escrita, os convidados são Mickael de Oliveira e Mariana Tengner Barros. Nas artes performativas, será dado espaço ao Teatro, mais precisamente a uma criação de Maria João Luís e Daniel Gorjão.
A última noite dos «Encontros do DeVIR – Criação» começa com o espetáculo de dança de Cláudia Dias e Cecília Laranjeira, a que se seguirá a criação de Gonçalo M. Tavares. A encerrar a noite de domingo e o festival, estará a criação teatral de André e. Teodósio.
José Laginha não esconde que este festival pretende ser, mais do que um mero apresentar de criações nacionais, um «manifesto político». «A desertificação é uma questão premente para a nossa região», considerou, acrescentando que o festival «tem uma componente social, que está sempre agregada à cultura e aos problemas ambientais».
Uma característica que se manterá na segunda parte do festival, o «Encontros do DeVIR Ciência», que apesar de ainda não ter data definida, já começa a ganhar forma. Segundo José Laginha, deverá agregar «15 a 20 pessoas», que irão refletir sobre o tema «Descaracterização do litoral algarvio».
Apesar das dificuldades vividas pelas estruturas culturais, que levam José Laginha a afirmar que sem o fator de amizade e de colaboração no passado «seria impossível realizar este evento», a segunda edição tem «parte do financiamento garantido» e realizar-se-á em 2013 «se o mundo não acabar entretanto».