Subir a altura e aumentar a largura dos passeios laterais no túnel rodoviário que passa por baixo da linha férrea, em Olhão, diminuindo assim o declive e tornando mais fácil a sua utilização, mesmo para quem tem mobilidade reduzida. Esta é, em resumo, a proposta, com duas variantes, apresentada ontem à noite pela Câmara Municipal de Olhão, numa sessão aberta à população.
A sessão pública, que contou com a presença de meia centena de pessoas, destinou-se a apresentar e discutir as propostas estudadas pelos técnicos da autarquia para solucionar o atravessamento da via férrea, ligando as avenidas da República e Bernardino da Silva, em pleno centro de Olhão, após o encerramento da passagem desnivelada à superfície, feito em Setembro pela Refer.
Depois do fecho dessa passagem, o atravessamento só pode ser efetuado pelos passadiços para peões que ladeiam o túnel rodoviário.
Ora, esses dois passadiços têm, atualmente, uma inclinação que vai de 1,5% a 9,5% em cerca de 140 metros, não têm plataformas de descanso e, em alguns locais, são muito estreitos, com apenas um metro de largura, o que não permite, por exemplo, o cruzamento de dois carrinhos de bebé. À luz das regras atuais sobre a mobilidade, tais condições não são sequer legais.
Segundo as duas propostas apresentadas por técnicos da Câmara de Olhão – um engenheiro e uma arquiteta – esses passadiços laterais seriam alargados, o que obrigaria também a diminuir a largura das faixas de rodagem dentro do túnel dos atuais 4 para 3,50 metros. Isso garantiria que os passeios passariam a ter pelo menos 1,60 metros de largura.
Por outro lado, os passadiços seriam elevados, para diminuir o declive para limites aceitáveis. Assim, numa das propostas, que deixaria intactos os painéis do artista local Jorge Timóteo que decoram o túnel, o declive passaria a ter um máximo de 8%, seriam criadas plataformas de descanso e, na zona mais interior, durante 40 metros a passagem teria inclinação zero.
Uma segunda solução, obrigaria a «comer» cerca de 50 centímetros dos painéis, nas palavras do engenheiro Mário Alves. Mas aí, adiantou o técnico, «iríamos conseguir inclinações de 4 a 4,8%», o que já seria mais confortável. O único problema é, como foi referido, que esta solução iria destruir em parte os painéis decorativos do túnel, cuja retirada é «demasiado cara».
No entanto, admitiram os técnicos e o próprio presidente da Câmara, nenhuma destas propostas soluciona – até agrava, ao diminuir a largura do túnel – um problema cíclico: o facto de, por mais bombas que lá sejam instaladas, aquela passagem inferior inundar por completo sempre que chove com mais força. Ainda há poucas semanas isso aconteceu. Nessas ocasiões, não passam os carros e, como é óbvio, não passam as pessoas…
Mas surgiu ainda uma terceira proposta, feita por João Evaristo, um olhanense ligado à cultura local, que sugeriu que, em vez de aumentar a altura dos passadiços laterais, estes deveriam ser retirados e substituídos por um único passadiço elevado central, no meio das faixas de rodagem. Tal solução, argumentou, «até permitiria diminuir a largura total do passeio e, ao mesmo tempo, aumentar a largura das faixas de rodagem e, em consequência, do próprio túnel».
O passadiço central, a atravessar o túnel de um lado para o outro, mais não seria, assim, que um prolongamento do passeio central das duas avenidas. Esta terceira solução obrigaria, avisou João Evaristo, a rever o esquema do trânsito e da circulação de peões à superfície.
O autarca António Pina admitiu que esta é «uma boa hipótese a estudar».
António Pina: «Vamos dotar a zona de um atravessamento com quase os mesmos níveis de comodidade que o anterior»
Outras soluções apontadas pelos próprios técnicos da Câmara passavam pela criação de uma passagem superior, sobre a linha, com rampas que atingiriam «mais de cem metros, de cada lado da linha», a instalação de um elevador, que não daria vazão à quantidade de pessoas que a toda a hora atravessam a pé – «iriam formar-se bichas até ao pé das Finanças», ironizou António Pina – ou mesmo a criação de um segundo túnel, apenas para peões.
As propostas apresentadas na sessão pública e provavelmente também a terceira proposta serão em breve disponibilizadas na Câmara de Olhão, para consulta presencial ou por via eletrónica. «Depois da sessão de hoje, as propostas estarão em discussão durante um mês, até ao fim de Janeiro», anunciou o presidente da Câmara. O objetivo é que «quem quiser consultar, dar opinião, o possa fazer», acrescentou.
Por outro lado, as obras serão pagas pela Refer, garantiu o presidente António Pina, apesar de não ter respondido a vários dos intervenientes na sessão que queriam saber se há ou não um compromisso «escrito e assinado», por parte da administração daquela empresa.
No entanto, no fim da sessão pública, em declarações ao Sul Informação, António Pina recordou que «a Câmara e a Refer emitiram um comunicado conjunto em que esse compromisso é assumido claramente, além de termos a palavra dada pela administração da empresa na reunião que mantivemos em Lisboa».
Qual a solução escolhida, quanto custará e quando estará construída são questões às quais o autarca diz que ainda não pode responder. Mas assegura que terá de ser «uma solução razoável, com custos razoáveis, que possa ser estudada e concretizada em pouco tempo».
No túnel rodoviário construído há cerca de 30 anos para eliminar a passagem de nível para automóveis que cortava a meio a cidade e as suas avenidas principais, sempre houve dois passadiços para peões, um de cada lado. Mas, com a manutenção de uma passagem à superfície para as pessoas que se deslocavam a pé, esta passagem inferior raramente era utilizada. Com o fecho dessa passagem desnivelada para peões, por razões de segurança, em Outubro passado, tudo se alterou.
António Pina: apesar de todos os estudos, «não fica solucionado o problema da inundação do túnel em caso de chuva extrema»
«Se não queremos passar sete ou oito anos em tribunal, a lutar contra a Refer com um processo que provavelmente vamos perder, temos que tomar decisões e foi isso que a Câmara fez. Por isso, neste último mês e meio os técnicos da autarquia estudaram soluções e estamos aqui para apresentá-las», tinha dito o autarca António Pina no início da sessão pública.
«Já tivemos a fase da raiva, de achar que isto é uma prepotência da Refer e um desperdício de dinheiros públicos. Mas isso não nos resolve a situação. Cabe-nos definir os caminhos do futuro e é isso que estamos a fazer. Vamos dotar a zona de um atravessamento com quase os mesmos níveis de comodidade que o anterior», garantiu o presidente da Câmara.
Apesar de todos os estudos, uma situação ficará por resolver: «não fica solucionado o problema da inundação do túnel em caso de chuva extrema». Talvez, quando a linha férrea for eletrificada, seja então construída uma passadeira aérea na zona da vizinha estação de comboios, que possa ser utilizada em caso de necessidade. Mas, tal como no caso do atravessamento, não há prazos conhecidos para tais obras.