Há muito Algarve na exposição de peças de arte contemporânea do espólio do Museu de Serralves «O Regresso do Objeto: Arte dos anos 1980», que foi inaugurada ontem, quarta-feira, em Faro. Mas também passará a haver muito Serralves no Algarve, agora que o município de Faro aderiu ao Conselho de Fundadores desta instituição, estatuto que permitirá trazer mostras inéditas na região, de conceituados artistas nacionais e internacionais.
Até 19 de Fevereiro, o grande público terá a oportunidade de ficar a conhecer obras emblemáticas do movimento artístico contemporâneo português, de vários artistas com ligações ao Algarve, no Museu Municipal de Faro. Algumas delas, revelou ao Sul Informação o artista plástico Xana, que conta com diversas peças na exposição, até foram produzidas no Algarve.
«É bom matar saudades das obras que fiz na altura. A maior parte delas fiz quando estava a acabar o Curso de Belas Artes [em Lisboa], ou quando já estava em Lagos, onde ainda vivo. Vim para o Algarve em 1984 e penso que pelo menos metade fiz quando já estava aqui em Lagos, pelo que têm qualquer coisa do espírito do Algarve», recordou.
As esculturas e instalações artísticas de Xana pertencentes ao espólio do Museu de Serralves e as dos demais artistas representados – Pedro Cabrita Reis, Rui Aguiar, Gerardo Burmester, Rui Chafes, Harald Klingelhöller e Rui Sanches – foram criadas quando alguns dos artistas eram ainda muito jovens.
Como explicou Xana, no pós-25 de Abril havia uma forte interação entre os artistas, nomeadamente os que estudavam na Escola de Belas Artes de Lisboa, e uma grande sede de criar, mesmo que fosse com os materiais que estivessem mais à mão, também explanada nesta exposição.
«À distância, encontro outros significados e faço outras leituras, mas fico contente de ainda me reconhecer nessas peças e de as sentir como minhas», acrescentou.
Esta será, de resto, uma oportunidade rara de ver exposta a obra de Xana no Algarve, apesar de ser nesta região que são criadas as peças do artista plástico, com obra espalhada por importantes coleções a nível nacional e internacional. «Quase não tenho exposto no Algarve. Lembro-me de duas exposições em locais distintos de Tavira que integraram obras minhas», disse.
O ato de inauguração da exposição «O Regresso do Objeto: Arte dos anos 1980» é, assim, um espaço de reencontros – neste caso, de um artista com a sua própria obra – mas também de primeiros contactos, já que este foi o momento escolhido pela Câmara de Faro para anunciar a sua entrada para o restrito grupo de municípios fundadores da Fundação de Serralves. Uma parceria inédita, no que ao Algarve diz respeito.
«Uma das missões de Serralves é levar arte contemporânea junto de todas as pessoas do país. Por isso, para nós, este momento de aproximação e parceria com Faro é uma honra. Estamos muito entusiasmados com ela, já que Faro é um município muito importante, onde teremos todo o gosto em poder desenvolver a nossa atividade», ilustrou Ana Pinho, presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, em declarações ao Sul Informação.
«Já tínhamos trazido cá ao Algarve exposições pontuais, mas nunca tivemos uma parceria de longo prazo, como esperamos que esta venha a ser», acrescentou.
«Trata-se de utilizar a experiência, o know how e o espólio de Serralves, para colocar à disposição dos farenses, mas também dos algarvios, um conjunto de obras que a Fundação tem, que, de outra forma, não conseguiríamos cá trazer. Esta não é uma colaboração pontual, não se trata apenas de inaugurar uma exposição, porque, ao entrar para o Conselho de Fundadores, passamos a ser membros da Fundação de Serralves e a ter uma ligação forte que nos permitirá a ambos crescer ao longo dos anos», considerou, por seu lado, o presidente da Câmara Rogério Bacalhau.
O edil farense disse, ainda, que, com esta parceria, Faro «pode beber do que Serralves tem de melhor, ao mesmo tempo que permite que Serralves venha até ao Algarve, que é para nós o mais importante».
A esta primeira exposição seguir-se-ão outras, estando já acordado que a próxima será lançada em Março e, como o Sul Informação avança em exclusivo, juntará obras do conceituado artista português José Pedro Croft, que representará Portugal na Bienal de Veneza, em 2017.
A exposição «O Regresso do Objeto: Arte dos anos 1980» é apoiada pelo programa «365 Algarve».
Veja as fotos da inauguração da exposição:
Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação
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