O “travel-lift” dos estaleiros do porto de Portimão não pode ser utilizado há um ano para levantar barcos da água com mais de 150 toneladas, o que já levou as empresas que aí operam a perder trabalho numa vintena de arrastões que pesam cerca de 300 toneladas. E a situação deverá arrastar-se pelo menos por mais seis meses, fazendo com que os estaleiros navais portimonenses percam mais trabalho para o Norte e para Espanha.
O problema é que o “travel-lift”, um enorme veículo que serve para retirar as embarcações da água e transportá-las para o estaleiro em doca seca, há mais de um ano que tem os pneus quase a rebentar, completamente desgastados e até com fissuras.
O “travel-lift” pertence ao próprio porto, que estava, até ontem, sob jurisdição do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM), sendo a sua utilização paga pelos donos dos estaleiros navais.
António Lopes, da Equigesta, a empresa que normalmente “sobe” mais arrastões nesta época de janeiro, quando esses barcos são obrigados a parar e aproveitam para fazer manutenção, disse ao Sul Informação que «desde há um ano que estamos assim, sem poder usar o “travel-lift” para barcos maiores, e acabamos por perder esse serviço. Os clientes vão para Espanha ou vão para o Norte e nós perdemos esse serviço todo».
Joaquim Paulino dos Santos, da Portinave, acrescenta que, graças à falta de manutenção do “travel-lift”, «já levamos duas épocas sem poder trabalhar com os barcos maiores».
A continuar assim, garante, «teremos de despedir pessoal, porque os homens não têm trabalho». Subir um barco para reparação e manutenção dá trabalho a quem «pinta, solda, raspa». «Há muita gente envolvida nisto, mas continuamos a perder trabalho porque o IPTM não quer gastar 200 mil euros em pneus novos para o “travel-lift”», lamenta António Lopes.
Concurso para a reparação do “travel-lift” prestes a ser lançado, mas…
A espera dos estaleiros navais de Portimão poderá acabar «em breve», mas o prazo não deverá ser já suficientemente curto para salvar esta época de trabalho.
O Sul Informação contactou esta semana o gabinete do Secretário de Estado do Mar, cujo assessor de imprensa revelou que a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, entidade que recebeu recentemente as funções de proteção portuária que antes cabiam ao IPTM, «já está a preparar o concurso para a reparação do “travel-lift” de Portimão».
E quando estará o equipamento completamente operacional? Isso acontecerá «assim que sejam cumpridos os prazos legais» do concurso, o que levará seguramente «mais umas semanas», respondeu a mesma fonte, garantindo que «já foi dado início ao procedimento».
Esta garantia, para mais tão vaga quanto aos prazos, não tranquiliza os donos dos estaleiros do porto de pesca de Portimão. António Lopes adianta que, «em relação a cinco barcos, e para não perder o serviço, pedimos uma prorrogação de três meses», mas agora o concurso «não há-de demorar menos de seis meses e eu vou perder outro ano de trabalho com os arrastões».
António Soares, das empresas Rosa Cabral & Soares e Estaleiros de S. Lázaro, garante que «só em 2013 perdemos cinco ou seis subidas de barcos pesados, com cerca de 300 toneladas, e este ano vamos pelo mesmo caminho», porque as entidades responsáveis «não atam, nem desatam».
Pela utilização do “travel-lift” para levantar barcos da água, os estaleiros pagam entre 800 e 900 euros por cada operação, montante que antes revertia para os cofres do IPTM e agora, em princípio, há-de reverter para os da Docapesca, empresa pública que desde ontem assumiu a jurisdição dos portos de pesca e marinas em Portugal.
«Só as nossas duas empresas, no ano passado, pagaram à volta de 100 mil euros ao IPTM», recorda António Soares.
Por isso, pelo rendimento que as doze empresas de estaleiros navais garantem todos os anos ao Estado, os empresários estranham a falta de manutenção a que aquela zona tem sido sujeita pelo antigo IPTM. É que não é apenas o “travel-lift” a ter problemas, devido ao facto de, em 12 anos de serviço, nunca ter sido sujeito a manutenção.
Também o estado do pavimento interior da zona dos estaleiros é deplorável, cheio de buracos, tornando difícil a circulação do “travel-lift” carregado com os barcos. «Neste monte de buracos, vai aqui o “travel-lift”aos solavancos, sujeito a provocar danos nas embarcações. Se isso acontecer, quem é que paga esses danos? E se o ano estivesse de mais chuva nem o “travel-lift” conseguia passar, porque ficava atolado na lama», explicou ao Sul Informação um funcionário de uma outra empresa.
«Nós estamos fartos de enviar cartas e emails para o IPTM e nem resposta nos dão», garante António Lopes, da Equigesta.
«A nós tanto nos faz se o senhorio é o IPTM ou a Docapesca. Queremos é que nos oiçam e resolvam os problemas dos estaleiros, para que a gente possa trabalhar, criar emprego e riqueza para o país», desabafa, por seu lado, António Soares.