Quase um quarto da energia elétrica consumida na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Lagos é produzida na central de aproveitamento de biogás que, em março, começou a funcionar nessas instalações. A eletricidade produzida pelo biogás representa ainda cerca de 31 por cento das despesas totais com energia daquela instalação.
Estes são números que ilustram a aposta que a empresa Águas do Algarve SA tem vindo a fazer, nos últimos anos, no âmbito de aproveitamentos de energias alternativas para a produção de energia elétrica, integradas nos sistemas multimunicipais de armazenamento e abastecimento de água e ainda de saneamento do Algarve.
A central da ETAR de Lagos, com 50 kw de potência instalada, é, para já, «a única central de biogás criada nas instalações sob responsabilidade das Águas do Algarve», mas não quer dizer que os planos da empresa se fiquem por aqui, como revelou ao Sul Informação a administradora Isabel Soares.
«Temos intenções de instalar, na futura ETAR da Companheira [a construir em Portimão, para substituir a atual estrutura], uma central de produção de biogás», acrescentou a administradora, durante uma visita que o nosso jornal fez à ETAR de Lagos.
Por seu lado, Cristiano Rodrigues, técnico das Águas do Algarve e um dos responsáveis por esta área das renováveis, explicou que a produção de biogás resulta do próprio «processo de tratamento dos efluentes na ETAR». Antes, o metano produzido nesse processo era simplesmente queimado, ou seja, no fundo era desperdiçado, mas agora serve para produzir energia elétrica, usada nas próprias instalações da ETAR de Lagos.
«Assim, temos duas vantagens: em termos ambientais, porque produzimos biogás e não queimamos o metano, minimizando assim os efeitos ambientais e reduzindo a nossa pegada ecológica, e em termos financeiros, porque reduzimos a fatura de energia das instalações», explicou Isabel Soares.
E porque foi esta primeira unidade de produção de biogás instalada na ETAR de Lagos? «Porque em termos de instalação já cá tínhamos tudo», explica Nuno Silva, outro dos técnicos da empresa Águas do Algarve. Em 2000, esta estação de tratamento tinha sido remodelada, criando-se uma nova linha de tratamento de lamas, com digestor e gasómetro. «Por isso estava tudo preparado, só faltavam mesmo as turbinas» para a produção do biogás.
Na ETAR de Lagos, o sistema está dotado com duas turbinas. Na época baixa do turismo, uma das turbinas está em funcionamento constante, enquanto a outra funciona oito horas por dia, para a transformação do biogás (metano) em eletricidade.
Mas, na época alta, a partir de Junho, quando a população no concelho de Lagos aumenta graças aos turistas e veraneantes, «as duas turbinas trabalham 24 horas por dia e mesmo assim ainda temos de queimar o excedente do metano na tocha».
Investimentos nas renováveis continuam e compensam
Em fase de construção está agora uma central de 150 Kw na ETA de Almargem, perto da Conceição de Tavira, que é, segundo Cristiano Rodrigues, técnico das Águas do Algarve, «a maior central até agora instalada».
É que a empresa Águas do Algarve SA tem vindo a investir no aproveitamento de energias alternativas para a produção de energia elétrica, integradas nos sistemas multimunicipais de abastecimento de água e de saneamento do Algarve.
Até agora, foram instalados 55 sistemas de microprodução fotovoltaica – cada um com 3.68 kw de potência – e dois sistemas de miniprodução fotovoltaica (93 kw de potência unitária), aproveitando as benesses que eram dadas pela Administração Central para a produção de energias renováveis e injetando a totalidade da energia elétrica produzida na rede.
No seu conjunto, estas instalações produzem 609 Mwh por ano de energia elétrica, o que significa que evitam a emissão de cerca de 287 toneladas de Dióxido de Carbono (tonCO2e) para a atmosfera, bem como permitem poupar o equivalente ao consumo de 131 tep (tonelada equivalente de petróleo), considerando o rendimento elétrico médio das centrais termoelétricas que usam combustíveis fósseis.
A central de aproveitamento de biogás a funcionar desde março na ETAR de Lagos, por seu lado, terá uma produção anual de 250 Mwh, o que evitará a emissão de cerca de 118 tonCO2e, bem como o consumo de 54 tep. A energia elétrica aí produzida representa cerca de 21% da que é consumida nas instalações da ETAR e ainda 31% dos encargos totais nesta rubrica.
No total, segundo Isabel Soares, administradora das Águas do Algarve, a empresa gasta «6 a 7 milhões de euros por ano com energia. Se reforçarmos o investimento nas energias alternativas, poderemos poupar cerca de dois milhões de euros por ano».
A nível das renováveis, os investimentos mais significativos já feitos pelas Águas do Algarve foram na minihídrica na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Beliche, e ainda as fotovoltaicas nas ETA de Tavira e Alcantarilha, instalações que representam dois dos maiores consumos da empresa.
Mas a empresa tem ainda em carteira três projetos, no âmbito dos aproveitamentos solares fotovoltaicos que, quando estiverem concretizados, e em conjunto com os já instalados, «permitirão à empresa produzir aproximadamente 5% da energia elétrica total consumida e reduzir o seu encargo em cerca de 16%», acrescenta Cristiano Rodrigues.
Para lá das vantagens ambientais de reduzir a sua pegada ecológica, «estas medidas assumem especial relevância, reduzindo a exposição da empresa às variações de preços de energia, formadas em regime de mercado e que incorporam ainda variações emergentes das tarifas de acesso às redes, fixadas anualmente pela ERSE, trazendo valor acrescentado à nossa atividade», concluiu aquele técnico.