O Teatro das Figuras, em Faro, recebe este fim de semana um evento inédito na região, que promete deixar acordado quem aceitar o desafio de assistir a 24 horas non stop de propostas culturais.
A partir das 12h00 de amanhã, 29 de Abril, até às 12h00 de domingo, 30 de Abril, há espetáculos de música, poesia, novo circo, teatro, dança e produtos culturais para crianças e família, que vão ser apresentados em dois palcos no exterior do teatro, no Foyer, no grande e no pequeno auditório, no subpalco e até na fachada do espaço cultural farense, onde será exibida dança vertical.
«O objetivo do 24Horas Figuras é chamar público para a zona do Teatro e criar um produto cultural que se diferencia-se do que é feito na região», revelou Joaquim Guerreiro, diretor do Teatro Municipal de Faro, ao Musicália|Sul Informação.
A aposta é na música nacional, desde o representante português na Eurovisão, Salvador Sobral, passando por The Gift, Xinobi, D’Alva, Mike el Nite, Batida, Sensible Soccers, Branko ou os algarvios Reflect e Galopim, numa mistura de artistas criando «uma boa oportunidade para os locais se cruzarem com os nacionais e daí, até, nascerem futuras parcerias».
O regresso dos The Gift, que andam já a apresentar o seu último trabalho “Altar”, é um dos pontos altos do evento. Apesar de ter sido lançado apenas no início de Abril, os diversos festivais em que participaram e os muitos concertos que já deram, dentro e fora de portas, afinaram a “máquina” da banda, que está a comemorar os 20 anos de existência .
“Altar” é um registo que queria marcar a diferença e onde, pela primeira vez, Nuno Gonçalves delega a um terceiro, Brian Eno, a produção do disco. «Achei que uma banda com 22 anos de existência necessitava de estímulos, de ir para uma zona onde nunca foi, de novos caminhos. Os The Gift sempre tiveram ligados à experimentação, mas termos o Brian a conduzir-nos para essa diferença é a cereja no topo do bolo», confessou o músico.
O facto de ter trabalhado com algumas das bandas de referência dos músicos de Alcobaça – Talking Heads, U2, Depeche Mode – era uma das razões para escolha, mas que julgavam nunca ser possível. «Era um sonho, que o destino quis que se tornasse realidade. Soubemos aproveitá-lo bem, todas as sessões foram aproveitadas ao limite, desfrutámos imenso da companhia e da sabedoria do Brian, foi para nós um mestre», revelou Nuno Gonçalves, teclista e compositor da banda, ao Musicália|Sul Informação.
A experiência superou as expetativas, não só porque foi conseguido o objetivo de dar, a uma banda já com 20 anos, um novo desafio – ajudá-la a reinventar-se (algo que têm conseguido ao longo dos anos) – mas porque, depois de Brian Eno, os álbuns dos The Gift nunca mais serão os mesmos.
«Se o disco soava assim sem Brian? Tenho a certeza que não. E tenho a certeza que o próximo, com ou sem o Brian, não soará da mesma forma. As lições que aprendemos com ele foram tantas que este não foi apenas o trabalho de um disco, mas de mudança de carreira, de ótica e até de metodologia de trabalho».
A Faro, os The Gift trazem, na íntegra, as sonoridades de “Altar, mas também os clássicos, que não podem faltar. A banda faz-se acompanhar por Paulo Praça na guitarra, Mário Barreiros na bateria e Israel Costa Pereira na guitarra e teclados, num espetáculo com um cuidado trabalho de luzes e já bem “rodado”.
«É um concerto muito bonito, vibrante que aposta numa cenografia muito interessante. Musicalmente a banda está no seu melhor nível. É um concerto muito vibrante e tenho a certeza que quem for, vai sair de lá contente, por causa do serão bem passado», afirmou, em jeito de convite, Nuno Gonçalves.
Os D’Alva também fizeram um convite, mas para quem quisesse fazer parte do processo de criação e até colaborar na composição de um tema, através de conversas ao vivo via internet. O resultado foi uma experiência inesquecível para ambas as partes e o tema “Amor Missão”, que vão agora apresentar ao vivo.
«Conseguimos fazer um compromisso em criar, durante as duas semanas em que fizemos o stream, o interesse das pessoas, até nos momentos mais aborrecidos, com o resultado final conseguido entre todos», afirmaram Ben e Alex, membros da banda, ao Musicália|Sul Informação.
A partilha com o público é algo que afirmam estar na génese dos D’Alva e que, claro, vão trazer ao palco da Rampa do Teatro Municipal de Faro, até porque acreditam que «o concerto não se compõe apenas do que está a acontecer em palco mas em todo o recinto» e é importante conseguir envolver as pessoas.
A dupla encara o disco e os concertos ao vivo como dois universos unidos mas com o seu espaço próprio e explicação é óbvia. «Deixamos espaço para que seja ao vivo que os temas ganhem o seu pleno. Mesmo para quem já conhece as músicas garantimos que ao vivo vai ver bem mais especial. Nós investimos muito tempo para que os 60 minutos ao vivo sejam mesmo especiais».
As 24Horas Figuras também vão contar com a presença de “Batida“, o projeto de Pedro Coquenão que marca o início da madrugada de 30 de Abril e que há quase 10 anos mistura as batidas africanas com a música eletrónica.
A vertente internacional esteve presente desde a primeira hora, mas intensificou-se nos últimos meses, com passagens por Paris, Bogotá, Nova Iorque, Washington e Holanda e presença garantida em Amesterdão em Maio.
Reconhecendo o alcance mundial conseguido, Pedro Coquenão promete apresentar em Faro, e pela primeira vez em Portugal, o espetáculo preparado para os Estados Unidos.
Em palco, o músico é acompanhado por um baterista, procurando dar mais vida à atuação, com os ritmos e batidas em modo orgânico e não digital, para que seja apresentado um diálogo entre o autor, um percussionista, um instrumentista, um bailarino e o vídeo, e para que o público possa escolher qual quer seguir. Apesar de um horário tardio não é apenas uma espetáculo de DJ, casando o ritmo, a dança, a imagem e o discurso.
Pedro Coquenão deixa o manual de instruções: «É o público chegar e deixar-se levar pelo estímulo que lhe bater mais. Se for o som e as batidas deixem-se levar e dancem, se for a mensagem coloquem-se no que vão vendo no vídeo e no que eu for dizendo, se for o movimento, ignorem tudo o que vai passando à volta e sigam-no».
Outro Pedro que subirá ao palco é algarvio e é mais conhecido por Reflect. Depois de ter anunciado o regresso com “Eu Fico Bem”, apresenta-se pela primeira vez ao vivo nesta sua versão 3.0. O vídeo de apresentação do tema, produzido pela sua editora Kimahera, dá o mote para as apresentações ao vivo. As preocupações estilísticas e visuais que o caracterizam são a base para o que acontece em palco.
«Em Faro, vou ter a Laura Abel, que dançou no vídeo, e vamos tentar fazer com que aquilo que as pessoas viram no Youtube se traduza e se reproduza em movimento ao vivo e à frente dos seus olhos, com a música tocada ao vivo pela banda que me acompanha sempre», disse o músico algarvio.
Uma das características das atuações ao vivo de Reflect é a sua banda que, para além do DJ GI Joe, é complementada pelo multi-instrumentista João Mestre, por Dezman, pela violinista Mariana Viegas, a quem se juntam Napoleão Mira e Real Punch como convidados.
Pedro Pinto reconhece que não foi fácil chegar ao alinhamento para esta atuação de uma hora, que houve escolhas difíceis, mas deixa o aviso. «Será uma passagem pelos principais temas dos meus álbuns a solo, mas também alguns faixas que fui lançando avulso para unir estas pontas e construir em palco o que tenho vindo a construir como Reflect, nele e fora dele».
Os que marcarem presença nas 24Horas Figuras também poderão contar com uma novidade da realidade musical farense. Galopim é o nome do novo projeto de João Tiago Neto (Melomeno-Rítmica e NOME) e de Rui Daniel (Epiphany), surgido na fase final de NOME e que “tirou da gaveta” alguns dos textos e melodias que foram sendo guardadas ao longo dos anos.
Teve a sua estreia na passada segunda-feira num bem composto terraço do Hotel Eva, revelando a carga eletrónica do duo, numa atuação que mostrou bem mais que os quatro temas presentes no EP de estreia.
A presença no evento é, para João Tiago, uma confiança no que a banda tem para oferecer. «Foi uma aposta da direção do Teatro, ouviram os temas particamente acabados e decidiram apoiar-nos», considerou o músico farense.
Do Norte do país, viajam os Sensible Soccers, que parecem ter tomado o gosto às terras algarvias. Se só cinco anos depois do trio se estrear em palco conseguiram rumar a sul, regressam pela terceira vez, depois de terem marcado presença, o ano passado, no Som Riscado e no Festival F. Na mala trazem “Villa Soledade”, o seu segundo trabalho, que circula musicalmente pelas estradas nacionais nortenhas ainda presentes nas recordações de meninos dos membros da banda.
O álbum ficou marcado pela utilização, para ilustrar o vídeo de agradecimento, dos golos de Ronaldo, após receber a bola de Ouro de 2013. «Nada que nos tenha trazido grande notoriedade, há coisas mais pequenas e menos pomposas que nos dão mais notoriedade no nosso universo», comenta Manuel Justo, teclista da banda.
A Faro trazem não só a representação sonora das recordações das muitas viagens da meninice, mas um pouco da história do trio. «Claro que vai ser predominantemente “Villa Soledade”, mas vamos saltar até ao primeiro disco, ao segundo EP. Vai ser um concerto mais centrado no último, mas vai haver tempo para tocarmos outros temas que as pessoas pedem e gostam de ouvir», acrescenta o músico.
O evento 24Horas Figuras apresenta um cardápio da nova música nacional, nos seus diferentes géneros, sendo quase assumido como um Festival F de Inverno. A sua continuidade está dependente de apoios, já que esta é uma das 11 iniciativas que o Município de Faro apresentou ao programa 365 Algarve, obtendo o seu financiamento.
Para a edição do próximo ano, há uma nova candidatura que, no caso de não ser aprovada, levará a uma reavaliação do evento. «Mas a intenção é dar-lhe continuidade», assegurou Joaquim Guerreiro.
Os bilhetes custam 15 euros e dão acesso a todos os eventos menos ao concerto de The Gift, que tem um custo adicional de 20 euros (1ª plateia) ou 18 euros (2ª plateia).
Line Up 24Horas Figuras: