O festival de música sacra ‘Terras Sem Sombra’ 2012, promovido pela Diocese de Beja, quer ser um “grito” do “Interior esquecido”, disse hoje o seu diretor-geral José António Falcão.
O responsável falava no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, onde foi apresentada a oitava edição desta iniciativa, cujo programa inclui seis concertos “itinerantes” entre o próximo dia 24, em Sines, e 23 de junho.
Alertando para os “patrimónios que correm risco” no “Alentejo profundo”, o também diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da Diocese de Beja afirmou que o festival de música sacra pode funcionar como um “grito do Interior esquecido do país e dos centros históricos, que precisam de vida”.
José António Falcão diz que a iniciativa quer privilegiar a ligação entre “monumentos, a música e o território”, nas mais variadas expressões, como a gastronomia ou a biodiversidade, como “instrumento” ao serviço de comunidades que “não têm voz”.
O diretor do DPHA sublinhou, em conferência de imprensa, ser um “pequeno milagre” fazer um festival como este, num momento de crise, elogiando a sua lógica de parceria, “com grande envolvimento das comunidades locais”.
A música, o património e a biodiversidade foram apresentados como os eixos dinamizadores desta edição, promovendo o diálogo entre a música e a sociedade que a recebe e abraçando a “causa nobre” da defesa de alguns dos recursos mais ameaçados no território.
O ‘Terras Sem Sombra’ renova a aposta na preservação da biodiversidade, promovendo ‘ações-piloto’, com caráter pedagógico, com a colaboração do Instituto da Conservação da Natureza, no dia seguinte a cada concerto.
“Fazemos isto com muito entusiasmo”, disse José António Falcão, que recordou o potencial de valorização dos “produtos locais” como a cortiça, o vinho ou mesmo o “leite de burra”.
Sobre o programa musical, o diretor-geral do festival revelou a vontade de lançar “Uma ponte entre as grandes páginas musicais do passado” e a “criação contemporânea”, também em “chave ecuménica”.
Já o diretor artístico do Festival, Paolo Pinamonti, antigo responsável pelo Teatro Nacional de São Carlos e atual diretor do Teatro de la Zarzuela (Madrid), agradeceu às “muitas pessoas que fizeram possível esta oitava edição”, num ano de “crise significativa”.
“O modelo deste festival é um modelo saudável, que funciona” porque “se enraíza num território”, sustentou.
A edição de 2012, consagrada à importância do canto na música religiosa, intitula-se ‘Com voz suave e bem modulada’ e vai decorrer como uma espécie de “declinação das diferentes formas da vocalidade”, afirmou Pinamonti.
O ‘Terras Sem Sombra’ conta com o alto patrocínio do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que enviou uma mensagem à organização, mostrando-se “sensível à forma como este festival se desenvolveu e se expandiu, alargando o âmbito da sua programação”, com uma série de atividades paralelas “igualmente apaixonantes”, que visam dar a conhecer também “a natureza e a cultura alentejanas”.
Depois do concerto de Sines, seguem-se Almodôvar, Beja, Grândola, Vila de Frades e Castro Verde.
Em julho, na serra de Grândola, vai decorrer a entrega do Prémio Internacional ‘Terras Sem Sombra’, criado em 2011.