Mais um “Laboratório da Memória”, desta vez dedicado aos Folhados de Loulé, uma das iguarias da gastronomia local, vai ter lugar no próximo dia 20 de janeiro, pelas 18h00, na Sala Polivalente da Alcaidaria do Castelo de Loulé.
Luísa Martins, diretora do Departamento de Intervenção Local e Gestão de Informação, e Luís Guerreiro, chefe de divisão de Cultura e Museus, ambos investigadores de História Local, vão falar sobre o aparecimento deste doce no contexto concelhio
Segundo a investigação de Luísa Martins, de entre o variado leque dos produtos utilizados na alimentação e na vertente mais elaborada da gastronomia, a doçaria constitui um dos elementos mais apelativos.
Desde tempos mais antigos, o mel e os frutos, maduros ou secos, constituiriam o doce mais frequente nos momentos mais significativos da vida das populações. O açúcar, se bem que existente no Algarve, nomeadamente em Quarteira já no período medieval, raramente chegava às cozinhas mais simples e só se torna vulgar no século XX.
Os conventos, paralelamente ao quotidiano secular, mantinham autonomia necessária, criando animais e aves, desenvolvendo a agricultura e a fruticultura.
Se do gado bovino, ovino e caprino se aproveitava tudo, inclusive a pele para a produção de pergaminho, as aves também contribuíam para o bom funcionamento dos afazeres quotidianos do convento, assegurando-se as penas para a escrita e outros materiais e os ovos para diversas utilidades, inclusive na preparação de tintas.
Dos ovos aproveitavam-se ainda as claras para engomar o vestuário e as roupagens dos altares e das imagens, especialmente para a dobragem das vestimentas mais elaboradas e sua durabilidade. As gemas ficavam também para as experiências pecaminosamente deliciosas, que fariam o deleite das freiras, a quem devemos muito do prazer gustativo dos doces nacionais mais peculiares e pelos nomes que lhes foram dados: barriga de freira e papo de anjo, apenas para pequeno exemplo.
Neste imaginário e no decorrer do tempo, as receitas da doçaria foram ultrapassando a barreira dos muros conventuais e entraram nas cozinhas portuguesas, com maior intensidades nas localidades onde predominavam os mosteiros femininos e com maiores liberdades desde o século XIX. As famílias mais beneficiadas puderam recorrer a produtos mais caros e mais raros e as menos beneficiadas recorriam ao que conseguiam produzir ou comprar mais barato.
Foi neste percurso de gentes e de costumes que nas primeiras décadas do século XX surgiu o folhado de Loulé, derivado de encontros e desencontros de jovens raparigas que trabalhavam em casas das famílias economicamente favorecidas, que adquiriam conhecimentos de culinária, às vezes no Algarve, outras vezes no Alentejo, ou em outras regiões do país.
Graças a essas experiências e segredos guardados o Folhado de Loulé foi adquirindo vida e personalidade e foi chegando ao quotidiano dos louletanos que, nos cafés mais conhecidos da antiga vila, não dispensavam o delicado doce que tornava requintada a hora do chá ou do café, indica a investigação feita por Luísa Martins.
O percurso do Folhado de Loulé está a ser estudado e por isso, o “Laboratório da Memória” a si dedicado irá decerto ajudar a desvendar o seu segredo e o porquê da sua delicadeza de sabor e de textura.
A entrada é livre.