Há produtos para vários gostos e ocasiões, feitos com técnicas bem antigas e materiais da região, ligados às tradições algarvias. Têm todos um design moderno e estão adaptados às necessidades correntes do mercado.
O projeto TASA – «Técnicas Ancestrais, Usos Atuais» tem sido «um sucesso», na visão dos seus dinamizadores, mas é preciso sangue novo, para que o conhecimento dos artesãos que ainda existem, no Algarve, não se perca dentro de alguns anos.
A 2ª fase do TASA, projeto da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve que visou dar um impulso ao setor do artesanato algarvio, colocando designers e artesãos da região a trabalhar em conjunto, foi encerrada em Maio, numa cerimónia que teve lugar em Alcoutim.
Nesta sessão, fez-se um balanço do caminho que o projeto já percorreu, ao mesmo tempo que se deu conhecer os 15 produtos desenvolvidos nos últimos dois anos, altura em que a gestão do projeto esteve a cargo da empresa de turismo responsável ProActive Tur, que procurou aprofundar a componente de comercialização dos produtos TASA.
Esta fase 2 do projeto também serviu para proceder a uma expansão e envolver artesãos de regiões limítrofes, neste caso do Alentejo e da Andaluzia, que adicionaram componentes diferentes ao catálogo do TASA.
Artesãos das três regiões envolvidas, responsáveis e técnicos da CCDRA, autarcas, elementos que estão diretamente ligados aos projetos juntaram-se no novíssimo Auditório Espaço Guadiana de Alcoutim, numa sessão de trabalho em que também marcaram presença a diretora regional de cultura do Algarve Alexandra Gonçalves, o presidente da Região de Turismo Desidério Silva e a empresária Rita Severino, da loja Sardinha, de Loulé
O encontro serviu para dar a conhecer o que se fez até agora, no TASA, mas falou-se, sobretudo, do que poderá ser este projeto daqui para a frente. E antecipou-se aquilo que será a 3ª fase da iniciativa, na qual, segundo o presidente da CCDR do Algarve David Santos, já se está a pensar.
«Os desafios da próxima fase vão passar pela criação de mais produtos novos, mas teremos, igualmente, de encontrar uma forma de passar o conhecimento dos artesãos para as gerações mais jovens. Terá de haver uma componente clara de formação, para que estes saberes não se percam», considerou David Santos.
Enquanto não surge uma resposta estruturada (e financiada) para enfrentar este problema, há quem esteja a avançar por iniciativa própria, com resultados visíveis. Otília Cardeiro já começou a passar o testemunho à jovem Elsa Martins, que desde há dois anos está a trabalhar no atelier da conceituada artesã de Cachopo.
«Trabalho com a dona Otília Cardeiro, em tecelagem, lá em Cachopo. Comecei por fazer um ano de estágio e estou agora no segundo ano», revelou a jovem de 25 anos.
«Acabei a escola, o 12º ano, e estava desempregada. Conhecia a Otília e ela sabia da minha situação e desafiou-me. Eu não sabia nada sobre tecelagem, mas ela ensinou-me a fazer um pouco de tudo e gostei da experiência. Tudo o que sei, aprendi ali», contou Elsa Martins.
Estes dois anos serviram para Elsa aprender algumas noções sobre tecelagem, mas ainda está longe de se sentir uma tecelã. «Já vou fazendo algumas peças, mas ainda tenho muito para aprender. O meu desejo era continuar a aprender com a dona Otília», confessou.
Aqui entra outra grande questão com que se debatem os artesãos, na hora de ensinar os mais jovens: os apoios à formação. «Vamos lá ver se dá para continuar. Sem apoio será difícil manter-me ali», disse.
«A afirmação do artesanato como profissão de futuro está a ser conseguida, apesar das debilidades que ainda existem», considerou Catarina Cruz, que é a responsável pelo projeto, na CCDR do Algarve. O desafio, reforça, é «preservar este conhecimento e manter este fator de dinamização das zonas de baixa densidade».
Segunda fase adicionou novos produtos ao catálogo do TASA
O objetivo primário do TASA foi convencer os artesãos algarvios a criar novos produtos, adaptados às necessidades do mundo moderno. E basta olhar para o cardápio de produtos que já foram criados, para perceber que esse desígnio foi muito reforçado, nesta segunda fase do projeto.
É que há sugestões para todos os gostos, no catálogo do TASA, desde peças ligadas à cozinha e à gastronomia, como as tarrinas (tachos em barro e cortiça) à Pinga (recipiente para vinho bag-in-box), até produtos para decoração, como as almofadas e os coloridos candeeiros em cortiça e barro, passando por elementos mais relacionados com a vida ao ar livre, como bastões de caminhada e a cesta de piquenique, criada pelo artesão espanhol António Martinez.
Os novos produtos TASA foram desenvolvidos com a ajuda de vários designers, embora a criativa “oficial” da segunda fase do TASA fosse Joana Martins. A designer liderou esta componente do projeto e convidou três colegas para trabalhar com ela em três vertentes distintas: na ligação Algarve-Alentejo, na ligação Algarve-Andaluzia e na ajuda à criação de novos produtos na região algarvia.
Em quatro meses de trabalho, estes designers e os artesãos do TASA desenvolveram «mais de quinze novos produtos».«Investigámos a cultura e, pegando nas raízes, tentámos criar coleções com base na herança cultural de cada local», contou. Foi assim que surgiram produtos inspirados nas mantas de retalho alentejanas, nos instrumentos musicais andaluzes ou onde a cortiça é um elemento central, entre muitos outros.
«Trabalhámos com os artesãos que já estavam no TASA e procurámos incluir novas artes e artesãos, nesta segunda fase», acrescentou Joana Martins.
A angariação de novos artesãos não deverá parar por aqui, até porque há já quem se tenha mostrado interessado em fazer parte de uma futura fase do projeto. «Deixo o desafio ao TASA para que possa incluir artesãos de Alcoutim no projeto, no futuro. Estou disponível para ajudar no que for possível e necessário», disse o presidente da Câmara de Alcoutim Osvaldo Gonçalves, o anfitrião da sessão.
Da parte dos responsáveis oficiais pela cultura e turismo, a nível regional, Alexandra Gonçalves e Desidério Silva, respetivamente, também chegam palavras de incentivo e de apoio.
Da parte do presidente da Região de Turismo do Algarve, até foi lançado um desafio. «Nós estamos disponíveis para apoiar uma eventual Feira do Artesanato do Algarve, desde que a iniciativa parta de quem está no terreno e conhece bem a área», garantiu Desidério Silva.
Até porque esta atividade é, também, um fator de dinamização económica. Segundo João Ministro, da Pro Active Tur, as vendas de produtos TASA passou dos 8300 euros, em 2013, para os 35 mil euros, em 2014. «O TASA ainda não é totalmente sustentável, mas, aos poucos, começa a ser», ilustrou.
Para o futuro, os objetivos passam por «aumentar o volume de negócios em 50 por cento, aumentar as exportações e incrementar a oferta de produtos», resumiu. Também há a ideia de aumentar a oferta ao nível de atividades relacionadas com o turismo, como as visitas às oficinas dos artesãos e workshops de artes tradicionais.