A frota da sardinha está hoje parada em todo o Algarve, em protesto contra o novo modelo de venda desse pescado, «imposto de um dia para o outro».
Jorge Vairinhos, da organização de produtores Barlapescas, com sede em Portimão, revelou ao Sul Informação que a meia centena de embarcações de pesca de cerco algarvias se vai manter «parada até que a Docapesca arranje uma solução para o problema que criou».
Este dirigente explicou que ontem, «de um dia para o outro», a Docapesca impôs a venda da sardinha «ao quilo» nas lotas algarvias, um sistema para o qual, alega o armador portimonense, «a nossa frota não está preparada».
«Toda a vida os barcos do Algarve venderam o peixe por junto. Ontem a fiscalização disse para cessar essa venda, que já não era legal. O cerco apanha sardinhas, com cavalas e com carapaus, por exemplo, e até aqui estimava-se a quantidade de sardinha num barco, para fazer a venda. O peixe era vendido à dorna e não ao quilo».
É que, explicou Jorge Vairinhos, para vender ao quilo e separar o peixe, seria preciso escolher «à mão e um por um», «seis ou sete toneladas» de pescado, em cada barco, o que «não é viável».
«No Norte, fazem a escolha à mão, mas estão adaptados a isso. Nós não estamos e não é possível imporem-nos esse sistema de um dia para o outro», frisou.
Há mais de uma década, as embarcações de cerco da sardinha algarvias passaram a ser dotadas de um sistema que na altura foi considerado inovador, substituindo a descarga do peixe à cesta, por dornas ou contentores de maiores dimensões, onde a sardinha, mal era pescada, era acondicionada com água e gelo. As dornas também tornaram mais rápida a descarga e a venda em lota. Um sistema que é, todo ele, considerado como uma garantia de maior qualidade para a sardinha, mas com o qual, pelos vistos, agora se pretende acabar.
«A sardinha é um peixe altamente perecível e não se compadece por estar à espera horas para ser descarregado e vendido. A descarga à cesta causa problemas, as sardinhas perdem escamas, entre outras coisas». No fundo, esse sistema mais antigo, causa «perda de qualidade da sardinha».
«Tendo em conta a diminuição dos stocks, em Portimão, por exemplo, havendo menos quantidade, apostámos na qualidade e em melhorar os preços», acrescenta o dirigente da Barlapescas. Um trabalho de anos que agora parece ter os dias contados.
«A Docapesca criou o problema, dizem eles que por indicação da tutela, agora tem que arranjar a solução. Até lá, a frota de cerco fica parada no Algarve», garantiu Jorge Vairinhos.
Esta paralisação afeta um total de 51 barcos de cerco nos portos de Portimão, Quarteira e Olhão. «O que é cerco parou tudo, de Lagos a Vila Real de Santo António. O problema é do Algarve todo».
O Sul Informação já pediu esclarecimentos à Docapesca sobre as novas regras de venda da sardinha, mas até agora não obteve resposta. Atualizaremos logo que tenhamos mais informação.