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américo tomásAlcoutim foi a última sede de concelho em Portugal a ter luz elétrica. A inauguração deste melhoramento essencial, bem como do abastecimento público de água, só teve lugar a 12 de Julho de 1965, com honras da presença do Presidente da República de então. Foi, aliás, a primeira e única visita que um Presidente da República fez a terras alcoutenejas até ao restabelecimento da democracia.

O Almirante Américo Tomás aproveitou a inauguração do Aeroporto Internacional de Faro e do Liceu Nacional de Portimão, para uma deslocação de três dias ao Algarve, que incluiu ainda outras inaugurações, além das já referidas: da conclusão do abastecimento de água a Lagoa e do posto clínico em Vila Real de Santo António.

Foram três dias de um «acolhimento verdadeiramente triunfal», nas palavras do jornal “O Século”.

Quando Alcoutim viu, finalmente, acenderem-se as luzes elétricas pela primeira vez, Lisboa tinha já inaugurado a sua iluminação pública 87 anos antes.

O processo de Alcoutim arrancou em 1953, ficando a Companhia Eléctrica do Alentejo e Algarve encarregada de “levar a energia elétrica à sede do concelho de Alcoutim”, o que só viria a acontecer 12 anos depois.

O processo do abastecimento de água, por seu lado, iniciou-se em 1949, mas só a 12 de julho de 1965, uma segunda-feira, a população da vila pôde finalmente engalanar-se para receber a visita do Presidente Américo Tomás.

Mas, apesar da pompa e circunstância, a água e esgotos só seriam realidade nas casas da vila de Alcoutim em 1966 e 1967, respetivamente.

O jornal «O Século», do dia 13 de Julho de 1965, apresentava uma longa reportagem, de mais de uma página, da deslocação do Presidente da República do Algarve, nomeadamente da inauguração da eletricidade e da água em Alcoutim.

O jornal lisboeta salientava que Alcoutim era «uma das mais pequenas vilas em todo o País, com escassos trezentos habitantes, e sede de um concelho que não regista rendimento municipal superior a 300 contos anuais». Então, como agora, Alcoutim era terra pequena e vivendo com dificuldades.

«A inauguração da obra do abastecimento de água a Alcoutim foi feita simbolicamente junto de um dos dois fontanários instalados a meio da vila», contava o jornal, salientando que a obra custou «1526 contos» e iria satisfazer as necessidades «de uma população de mais de 600 habitantes», ou seja, o dobro da população da vila e sede de concelho.

«Sem demonstrar fadiga, apesar do intenso calor que se fazia sentir, o sr. Presidente da República preferiu a longa caminhada a pé, de modo a poder contactar mais de perto com a população da vila, que não cessava de lhe testemunhar manifestações de carinho e apreço».

E foi então a pé, resplandecente no seu uniforme branco de almirante, que Américo Tomás subiu até ao local onde estava a Central Transformadora da Companhia Eléctrica do Algarve e Alentejo, onde, junto do presidente do concelho de administração da empresa concessionária do serviço de eletricidade, o Presidente da República procedeu ao habitual «corte da fita».

o seculo 13 julho 1965_1Américo Tomás subiu então até ao Castelo de Alcoutim, «em cuja esplanada lhe foi servido um aperitivo, bem como à sua comitiva, à qual se juntara, entretanto, o sr. ministro das Corporações», continuava o repórter d’O Século.

Dali avistava-se, como hoje, no outro lado do Guadiana, a povoação espanhola de Sanlucar. «Naquela povoação espanhola e junta da margem do rio, divisavam-se muitas pessoas, acenando para o lado português, pois também elas desejavam saudar o Chefe de Estado de Portugal, que sabiam de visita à vila lusa da outra margem».

Apesar de não poderem atravessar o rio para participar na festa de Alcoutim, já que, como lembrava «O Século», «o acesso ao território português (que habitualmente lhes está franqueado) fora ontem especialmente negado pelas autoridades do seu país ao povo amigo de Sanlucar». Ainda assim, os vizinhos espanhóis estiveram representados, «pelo sei alcaide, sr. Ferreda Ojeda».

Para assinalar a efeméride, Alcoutim celebra este domingo, dia 12 de julho, o 50º aniversário da inauguração dos serviços de abastecimento de água e de distribuição de energia elétrica.

Devido à importância destas infraestruturas básicas, a autarquia vai assinalar a data com a realização de uma sessão comemorativa, que terá início pelas 20h30, no edifício da Câmara Municipal.

Após o descerramento de uma placa comemorativa, será inaugurada uma exposição alusiva ao tema, e, às 21h00, decorrerá, na Biblioteca Municipal, a tertúlia “À luz do tempo”, onde se conversará sobre este momento histórico para a sede de concelho, que contará com a presença de técnicos da autarquia e de ex-funcionários que, acompanhando o processo à época, prestarão o seu testemunho.

 

Nota: O Sul Informação agradece ao nosso colaborador Aurélio Nuno Cabrita a cedência das páginas do jornal «O Século» de 13 de Julho de 1965 e a ajuda na pesquisa.

 

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