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Sala Tratamentos Urgência Hospital de FaroHá jovens médicos internos do Centro Hospitalar do Algarve a fazer turnos de 24 horas na urgência e a acumular, logo depois, mais quatro horas nos seus serviços. Ou seja, «a trabalhar 28 horas de seguida».

A garantia foi dada por um médico em formação nos hospitais algarvios, que diz que esta é uma prática corrente, apesar da lei recomendar turnos de um máximo de 12 horas, que podem chegar às 18, mas só «com autorização expressa dos internos».

A denúncia foi feita diretamente ao presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos Jaime Teixeira Mendes, à margem de uma receção aos 149 internos que iniciaram funções em diferentes unidades de saúde do Algarve em Janeiro, e testemunhada  pelos jornalistas que entrevistavam o dirigente da Ordem.

O interno em causa não quis ser identificado, adiantando que «há um clima de medo» no CHA, mas consentiu que o seu testemunho fosse tornado público.

As muitas horas que os internos são obrigados a fazer nos hospitais algarvios foram um dos temas abordados por Jaime Mendes no seu discurso inicial, no qual arrasou o presidente do Conselho de Administração do CHA Pedro Nunes. Esta não é uma questão exclusiva do Algarve, mas a Ordem assegura que recebe muitas queixas, da parte de médicos em formação nos hospitais da região.

Ainda durante a sessão, o diretor de Internato do CHA, presente na sessão, insurgiu-se contra as palavras de Jaime Teixeira Mendes, garantindo não se rever nas palavras do dirigente da Ordem dos Médicos, que acusou de pintar um cenário que não corresponde à realidade. Talvez por isso, o jovem interno fez questão de ficar para trás e abordar o presidente do Conselho Regional do Sul, para assegurar que os problemas que aflorou existem mesmo.

«Revi-me em muita coisa do que disse. No que toca às horas de urgência, por norma serão as 12 horas, seguidas. É aquilo que humanamente e eticamente é mais indicado», considerou.

Jaime Mendes presidente Conselho Regional Sul Ordem MédicosMas, no CHA, bem como noutros hospitais do país, não funciona assim. «Eu presenciei isto, imensas vezes, na Medicina Interna e até noutras especialidades: depois de fazer 24 horas nas urgências, os meus colegas ainda iam lá acima ver as suas camas, ficando, muitas vezes, mais quatro horas. Vi isto várias vezes», assegurou o médico em formação no CHA.

Uma realidade que não apanhou Jaime Mendes de surpresa. «Tivemos um colega nosso daqui de Faro que nos disse que o doutor Pedro Nunes o queria obrigar a cumprir 36 horas seguidas», contou.

«O problema não é o individual. Como é uma comunidade médica, se os outros fazem, as pessoas veem-se obrigadas a fazer. É a pressão de grupo», ilustrou o jovem interno.

«Esta situação pode levar a erros e enganos. Se os camionistas têm horas obrigatórias para descanso, os médicos também deviam ter», considerou, por seu lado, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos.

 

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