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A criação do Centro Hospitalar do Algarve, por fusão do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio (CHBA) e do Hospital de Faro, hoje anunciada pelo Governo, vai trazer «mais encargos», «o encerramento de alguns serviços em Portimão» e mesmo «despedimentos».

Esta é a convicção de Luís Batalau, anterior presidente do Conselho de Administração do CHBA. Em declarações ao Sul Informação, Batalau disse que, apesar de não ter «conhecimento de pormenores, nem detalhes, sobre a orgânica do novo Centro Hospitalar do Algarve», não tem «dúvidas de que esta medida não vá diminuir os custos a curto ou médio prazo, antes pelo contrário, vai até aumentá-los».

«Se forem reduzidos serviços e valências no CHBA, como poderá estar a ser equacionado, esses doentes terão de ir parar a algum lado. E terão de ir para Faro, com todos os custos de deslocação que isso representa», sublinhou Luís Batalau.

Por outro lado, frisou, se a ideia é resolver as carências do HDF, «não estou a ver os médicos do Hospital do Barlavento, a não ser com uma metralhadora atrás, a irem fazer urgências a Faro».

O antigo administrador do CHBA receia ainda que diversos serviços sejam encerrados em Portimão para tentar resolver os problemas dos «serviços fragilizados em Faro», transferindo para aí os profissionais que hoje prestam serviço na cidade barlaventina. São os casos da Obstetrícia, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Radiologia ou mesmo Ortopedia.

«E depois o que acontece a uma grávida de Aljezur ou de Vila do Bispo que tem que ir ter o parto a Faro?», interroga.

«Se calhar, vamos estragar as coisas boas que existem em Portimão, e não vamos melhorar as coisa más de Faro», comentou.

Mas Batalau diz também ter poucas dúvidas de que se preparem «despedimentos» nos dois hospitais que até agora integravam o CHBA – Portimão e Lagos.

Também preocupado está Manuel da Luz, presidente da Câmara de Portimão, que diz desconhecer «concretamente o teor do projeto». «Temo que possa significar uma redução de valências clínicas no Centro Hospitalar do Barlavento», disse o autarca.

Manuel da Luz até admite que possa haver uma «gestão regional» das estruturas hospitalares, desde que isso não signifique «redução de serviços tanto nos hospitais de Portimão, como de Faro».

Mas afirma ainda não ter percebido «na prática como é que será feita a estrutura de gestão do Centro Hospitalar do Algarve», que o edil de Portimão desconfia que poderá não resultar «numa redução efetiva de custos».

 

Presidente da ARS/Algarve afasta receios

 

Apesar destes receios, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve já assegurou que não está prevista a extinção de valências nos hospitais de Portimão e Lagos, com a criação do Centro Hospitalar do Algarve.

Martins dos Santos garantiu que «não faria sentido haver extinção de valências, uma vez que o Barlavento continua a ter os seus doentes». O que vai haver é «uma melhoria na acessibilidade a essas valências porque vamos potenciar o número de especialistas na região», disse o presidente da ARS.

O mesmo responsável frisou que a fusão dos três hospitais da região numa só estrutura, segundo o modelo que foi proposto pela ARS/Algarve, aprovado na quarta-feira em Conselho de Ministros e hoje anunciado, pretende garantir uma melhor gestão dos recursos a nível regional. E deu mesmo o exemplo da Urgência, onde por vezes a prestação de cuidados de saúde em certas especialidades nessa área ficava a descoberto num ou noutro hospital, obrigando à transferência do doente para Lisboa.

Agora, «quando não houver possibilidade de o doente ser tratado no hospital de Faro será tratado em Portimão e vice-versa», explicou Martins dos Santos.

Com a reorganização de serviços que a fusão no Centro Hospitalar do Algarve pretende promover, o presidente da ARS considera mesmo que serão reduzidas as deslocações de doentes a Lisboa, ao mesmo tempo que se poderá cativar mais profissionais para a região, que carece de médicos em muitas áreas.

Estas palavras de Martins dos Santos foram esta tarde reforçadas em comunicado pelo Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde do Algarve, que considerou que «a criação do Centro Hospitalar do Algarve vai permitir uma resposta mais adequada aos crónicos constrangimentos do setor da Saúde na Região em termos de recursos humanos, nomeadamente, enquanto medida de reorganização assistencial e de reestruturação dos serviços existentes, favorecendo uma política mais eficiente de rentabilização dos recursos técnicos e humanos e o desenvolvimento de mecanismos de complementaridade assistencial, entre as três unidades hospitalares».

«A criação desta nova estrutura organizacional significa uma oportunidade para tornar o Algarve mais autossuficiente em termos de serviços de saúde hospitalares, no sentido de evitar as deslocações de utentes para fora da Região», garante aquele órgão.

Em simultâneo, defende o Conselho Diretivo da ARS, a medida «possibilita uma nova dinamização dos serviços com o reforço das diversas especialidades na área hospitalar, proporcionando uma melhoria significativa, mais rigorosa e mais eficiente a nível da gestão em termos de centralização de compras que permitirão ganhos em economia de escala».

«Ao reforçar a articulação da atividade assistencial dos hospitais, conseguir-se-á uma potenciação da eficiência e a racionalização da gestão dos escassos recursos disponíveis na Região, particularmente dos recursos humanos, com vantagens na acessibilidade dos doentes a cuidados de saúde de qualidade», conclui o comunicado da ARS.

 

Nova administração ainda não foi anunciada

 

Para já, ainda não foi anunciado quem será o presidente do Conselho de Administração do novo Centro Hospitalar do Algarve, nem qual a estrutura da nova administração, apesar de Martins dos Santos anunciar que haverá uma diminuição de despesas com cargos dirigentes, que passam para metade, de dez para cinco.

O comunicado do Conselho de Ministros de ontem, divulgado esta manhã após uma reunião do Governo que se prolongou madrugada dentro, diz que «as mais-valias decorrentes da criação do novo Centro Hospitalar do Algarve situam-se aos níveis assistencial, de qualidade clínica, organizacional e gestionário, com particular enfoque na racionalização e adequação de atos clínicos e referenciação de doentes».

«É, assim, concretizada uma política de maior equidade territorial, levando a cabo uma utilização mais racional e eficiente dos recursos disponíveis», diz ainda o comunicado.

 

Atualizada às 17h18, acrescentando o teor do comunicado da ARS.

 

 

sulinformacao

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