A Assembleia da República (AR) chumbou esta sexta-feira as propostas de suspensão das demolições nas ilhas-barreira da Ria Formosa apresentadas pelos partidos da oposição e aprovou uma da coligação PSD/CDS-PP, que prevê a continuidade do processo de renaturalização.
Uma decisão muito contestada pela comitiva de cerca de 300 pessoas que se deslocou, propositadamente, do Algarve ao Parlamento, parte das quais acabou expulsa das galerias pela presidente da AR Assunção Esteves. Da parte do público, ouviram-se muitos gritos de protesto e a máxima «Os ilhéus, unidos, jamais serão vencidos».
Este grupo incluía membros da plataforma de contestação às demolições «Je Suis Ilhéu», mas também autarcas eleitos em Olhão e Faro, que tem assumido publicamente a sua contestação ao processo de demolições. De Faro e Olhão saíram, ao todo, quatro autocarros cheios e houve mais pessoas a juntar-se ao grupo, já em Lisboa.
O Projeto de Resolução do PSD e o CDS-PP, forças que, em conjunto, tem maioria na Assembleia da República, previa a continuidade das ações de renaturalização das ilhas, no âmbito das quais estão a ser feitas as demolições. No entanto, deixa o núcleo habitacional da Culatra de fora da zona de intervenção da Polis da Ria Formosa, abrindo a porta à reavaliação do seu estatuto.
A proposta instava, ainda, o Governo a garantir intervenções na Ria formosa, no sentido de desassorear os canais da zona lagunar e fazer face aos focos de poluição que ali existem. Este Projeto de Resolução acabou aprovado, com votos a favor da coligação PSD/CDS-PP, abstenção dos Verdes e votos contra dos deputados das restantes forças políticas.
Pelo caminho, ficaram propostas do PS, da CDU e do Bloco de Esquerda, cujo denominador comum era o pedido de suspensão das demolições. No caso do PS, era ainda pedida a concessão dos núcleos habitacionais da Culatra à Câmara de Faro, a revisão urgente do POOC e, nesse âmbito, aplicação do «princípio da igualdade» entre os núcleos habitacionais das ilhas.
Todas elas foram rejeitadas, com votos contra do PSD e do CDS-PP e votos a favor dos restantes partidos. No final, o deputado social-democrata Pedro Roque, anunciou que os parlamentares do PSD eleitos pelo Algarve, nos quais se inclui, iriam apresentar uma declaração de voto.
Foi, precisamente, depois deste anúncio de Pedro Roque, que os ânimos se exaltaram nas galerias. «Uma pessoa também não é de ferro. Andamos nós aqui e nunca mais resolvemos a nossa vida. Nem sequer a questão do núcleo da Culatra ficou salvaguardada», ilustrou o habitante do núcleo dos Hangares José Lezinho, em declarações ao Sul Informação, já após a votação.
«Tínhamos esperança de que houvesse aqui uma decisão diferente. Mas a política prevaleceu às questões sociais», acusou.