18 anos, muitas dores de cabeça e 2,1 milhões de euros depois, o Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira já abriu esta sexta-feira ao público.
A inauguração do novo espaço museológico de Tavira, que decorreu na quinta-feira, dia 23, teve até o condão de juntar dois presidentes da Câmara da cidade – o atual (Jorge Botelho) e o anterior (Macário Correia) – de forças políticas diferentes.
Jorge Botelho recordou que, quando chegou à presidência da autarquia, «faltava lançar uma empreitada para acabar» o Núcleo Islâmico, em obras que custaram 750 mil euros mais outros 150 mil, para a musealização do espaço. No total, a Câmara de Tavira investiu, desde o início do processo, 2,1 milhões de euros.
O autarca fez questão de sublinhar o trabalho dos arqueólogos Manuel e Maria Maia, responsáveis pelas escavações arqueológicas no edifício da antiga Pensão Arcada e do Banco BNU, onde, em meados dos anos 90, haveriam de ser descobertos importantes vestígios islâmicos datados dos séculos XI e XII. O mais famoso desses achados é o «Vaso de Tavira», hoje a peça mais importante do novo Núcleo Islâmico do Museu Municipal, criado precisamente no local onde todo o espólio foi descoberto.
«Maria Maia sempre revelou grande disponibilidade para que o Vaso viesse para Tavira, porque ela considerava que as peças deviam ficar no sítio onde foram encontradas», recordou Jorge Botelho, evocando o papel da arqueóloga, falecida em julho do ano passado.
Manuel Maia, o marido, foi o anfitrião da visita inaugural deste Núcleo Islâmico. E recordou que, «seja lá onde ela estiver», Maria Maia há de estar agora a ver o resultado de mais de década e meia de trabalho, para mais porque, além de terem sido os responsáveis pelas escavações arqueológicas naquele sítio, o programa de musealização do Núcleo é também da responsabilidade do casal Maia.
Dália Paulo, diretora regional de Cultura do Algarve, e ela própria arqueóloga e museóloga, salientou, por seu lado, que «é importante que as peças tenham voltado à sua origem e que façam agora parte da contemporaneidade». É que, sublinhou, o trabalho dos arqueólogos e de quem investiga o património é mesmo esse, «trabalhar o passado mas na sua contemporaneidade».
Dália Paulo, que terminou a sua intervenção pedindo uma salva de palmas para Maria Maia, disse também que «este espaço só é útil a partir de hoje. É a partir daqui que se começa a ganhar a afetividade, que se começa a ganhar a comunidade».
Macário Correia, por seu lado, que participava na inauguração na dupla função de ex-autarca de Tavira e de presidente da AMAL, frisou a importância de «trazer o passado dos cascos históricos do Algarve para o conhecimento dos atuais, quer dos residentes, quer dos turistas».
O autarca acrescentou que o Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira é um bom exemplo do «aproveitamento de fundos europeus para a valorização do Algarve, coisa que não será tão fácil nos próximos anos».
Este tipo de investimentos, acrescentou Macário Correia, «traz mais gente à cidade, valoriza o património que é o nosso tesouro mais permanente, sobretudo em tempo de crise».
«É necessário que haja polivalências turísticas para valorizar a oferta ao longo do ano», acrescentou ainda o presidente dos autarcas do Algarve.
António Pina, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, salientou, por seu lado, que «este espaço é a cereja no topo do bolo do turismo de Tavira e do grande bolo algarvio». E prometeu que a ERTA, na sua nova brochura sobre o património algarvio, vai «ter que acrescentar este novo espaço».
É que, frisou António Pina, «o turista hoje é mais exigente e procura a identidade da terra que visita». «Somos conhecidos pelo sol e pela praia, pela gastronomia e pelo golfe, mas não somos ainda tão conhecidos como destino de cultura e de património». E espaços como o Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira dão um excelente contributo para mudar essa visão que os turistas têm do Algarve.
O investimento do património tem sido uma aposta constante da Câmara de Tavira, sobretudo na última década e meia. É um investimento que, como disse o presidente da autarquia Jorge Botelho na inauguração, vem «abrir uma porta de oportunidades tanto na vertente cultural, como na vertente turística».
E o autarca prometeu que a Câmara não irá ficar por aqui: «temos projetos para um Núcleo Fenício, temos projetos para a arte sacra cristã. Assim haja dinheiro!»
Que o património e a identidade são chamarizes importantes para o turismo podia, na quinta-feira, constatar-se nas ruas do centro histórico de Tavira. Centenas de turistas, sobretudo estrangeiros, calcorreavam as ruas, visitavam os monumentos, entravam nas lojas, nos cafés e restaurantes, aproveitando não só a beleza da cidade, mas o dia de quase verão deste fevereiro algarvio.
Agora têm mais um motivo para visitar Tavira. O Núcleo Islâmico situa-se no primeiro andar do edifício do novo posto de turismo, voltado para a Praça da República e para a Câmara, embora a entrada se faça pela rua de trás, junto à Igreja da Misericórdia.
Horário:
INVERNO – terça a sábado (das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30)
VERÃO (das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h30)