O João Pinto, de 30 anos, faz vela desde miúdo e não foi o acidente de moto, que lhe provocou uma lesão medular e o deixou paraplégico, que o afastou do desporto que adora. Esta manhã, quando forem 9h30, vai partir da Marina de Lagos, no seu barco à vela, para uma travessia do Algarve que o vai levar até Vila Real de Santo António, depois de percorridas 90 milhas náuticas em três dias.
O objetivo deste desafio é promover a prática da vela adaptada para pessoas com deficiência e dar a conhecer os benefícios diretos e indiretos desta prática. Para isso, o jovem praticante de vela adaptada, campeão nacional e vice-campeão europeu na classe Access 2.3 (embarcação individual), vai fazer paragens em Portimão, Albufeira, Vilamoura, Faro e Tavira. A última paragem deverá ser no Domingo de Páscoa, dia 20, às 17h30, em Vila Real de Santo António.
A acompanhá-lo, o João terá uma embarcação onde irá Luís Brito, seu treinador, e responsável pelo projeto Vela Solidária, promovido pela associação portimonense Teia d’Impulsos, que agora está também a promover este novo projeto, o “Algarve Há Vela” (escrito assim mesmo, não é erro), mais dedicado à vertente da vela adaptada.
A embarcação à vela (da classe 3.03) está adaptada a pessoas com deficiência, como é o caso do João. «Em vez da cana de leme, temos um joystick, o patilhão tem peso acrescido para garantir maior estabilidade, o casco é duplo para impedir que o barco se afunde ou vire e as velas dão para enrolar, para, no caso de termos muito vento, não termos tanta área vélica». Mesmo com essas adaptações, velejar não é fácil, nem mesmo para quem já tinha tanta experiência. «Há sempre muito, mas mesmo muito, para aprendermos».
O sonho do João Pinto é conseguir chegar a uma classe paralímpica, já que em Portugal, neste momento, não há nenhum velejador dessa categoria. «Mas uma embarcação dessas custa 15 mil euros e depois há todas as despesas, nomeadamente com o transporte para as provas».
Apesar de ser um sonho difícil de concretizar, com a força que o caracteriza, o João diz que «é preciso criar as oportunidades e aproveitá-las». É o que ele faz, bem como outros praticantes de vela adaptada, como o Guilherme.
Entretanto, João Pinto não está parado e afirma-se com vontade de «fazer a diferença na área do desporto adaptado». Por isso mesmo vai «tirar uma formação de treinadores de vela».
Vela Solidária expande-se para Lisboa e para o Porto
O evento “Algarve Há Vela” foi ontem ao fim da tarde apresentado em Lagos, cuja Marina é um dos grandes apoiantes do projeto Vela Solidária.
Luís Brito explicou que este projeto destina-se a jovens e crianças de instituições e ainda a pessoas portadoras de deficiência. Nascida em Portimão em 2011, a Vela Solidária já se expandiu para Lagos e este ano até para Lisboa e Porto.
«Lançámos ao João Pinto um desafio, que era mostrar que uma pessoa com deficiência pode navegar à vela. E é um desafio que vamos agora mostrar ao Algarve inteiro», salienta Luís Brito, acrescentando: «há ainda muitas barreiras, a maior parte delas psicológicas, para ultrapassar, no que diz respeito à vela adaptada».
O João abraçou o projeto com entusiasmo até porque, como disse na apresentação em Lagos, «considero que nasci para o desporto, é por isto que gosto de viver». «Deem-me oportunidades que eu não vou desiludir», concluiu o jovem velejador, que hoje parte para um aventura nunca antes tentada em Portugal.
Nota: O Sul Informação, com a ajuda dos responsáveis pelo projeto Vela Solidária e do evento «Algarve Há Vela», vai acompanhar a viagem de João Pinto de Lagos até Vila Real de Santo António, publicando um resumo de cada jornada ao final do dia. Mantenha-se atento!