O João Porfírio e a Catarina Fernandes têm 19 anos e são ambos de Portimão, mas estão agora a estudar em Lisboa. Foi lá que estes dois amigos resolveram dedicar-se ao projeto «Sempre Quis Ser», uma exposição de fotografia a preto e branco que pode ser vista na estação de Metro Cais do Sodré, até 28 de Dezembro.
«Este projeto começou há cerca de um ano (o dia da inauguração – 25 de novembro – foi o dia em que se tirou a primeira fotografia do projeto) e a ideia foi fotografar pessoas sem abrigo com o seu sonho não realizado! Pedimos a todos o sonho profissional, mas houve um, de 22 anos, que nos surpreendeu quando nos respondeu “feliz”», contou João Porfírio ao Sul Informação.
«Esse rapaz não nos quis explicar o porquê de estar na rua, mas, na altura de responder à nossa pergunta, foi claro e direto: “feliz”», recorda. «É isto que eu gosto de fotografar, realidades, nuas e cruas, e consegui isso com este projeto!»
João Porfírio, que muita gente de Portimão e, no fundo, de todo o Barlavento algarvio, conhecerá, de quando ele, ainda estudante da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, era o jovem repórter fotográfico que acompanhava o jornalista do Jornal do Algarve para todo o lado, está agora a estudar fotografia na ETIC em Lisboa.
João começou a fotografar aos 15 anos e foi com essa idade que publicou a sua primeira imagem no Jornal do Algarve: «uma fotografia do Campeonato do Mundo de Ginástica Rítmica, no Portimão Arena, nunca mais me esqueço!».
Catarina Fernandes, também de 19 anos, estuda cenografia no Chapitô. «Somos amigos de longa data e somos “doidos” e temos vários projetos em mente juntos!», conta João, entusiasmado. Este conjunto de 10 fotografias em registo a preto e branco, do projeto ««Sempre Quis Ser», é apenas o primeiro de muitos, garante.
E como surgiu a ideia de fotografar os sem-abrigo e os seus sonhos? «Em conversa com um sem-abrigo, ele disse-nos: “eu sempre quis ser professor”. Fomos para casa a pensar nisso e lembramo-nos de pegar nessa ideia e procurar outras pessoas, para sabermos os sonhos delas», explicou o jovem fotógrafo ao Sul Informação.
Esta mostra nasce da vontade e empenho destes dois jovens estudantes de 19 anos, de querer dar voz a alguns dos sonhos e expectativas que ficaram perdidos, algures no percurso de vida de quem, hoje, se vê na condição de sem-abrigo ou pedinte.
E é assim que estas pessoas, fotografadas nas ruas e becos de Lisboa, onde vivem, seguram um pequeno quadro de ardósia onde respondem à pergunta «O que sempre quis ser?»: «professor», «pedreiro», «arquiteta», «engenheiro civil», «informático», «jogador de futebol» ou, simplesmente, «feliz».
Chegar à fala com as pessoas, para mais de máquina fotográfica na mão, deu muito trabalho. «A Catarina fazia a parte comunicativa, o contacto com a pessoa, como se fosse a “jornalista”, e eu era o repórter e consegui estas fotos! As fotografias da exposição são todas da minha autoria, mas a Catarina tem tanto mérito quanto eu!».
João Porfírio confessa que o projeto foi, «na maior parte das vezes, bastante difícil» de concretizar. Mas isso, salienta, até «era bastante bom, porque, como gostamos de desafios, era mais um para ultrapassar! Hoje em dia, passamos por algumas das pessoas que fotografámos na rua e elas falam connosco e trocamos algumas palavrinhas! Eu considero um ou dois como amigos!».
E foi assim que, através de uma pergunta, uma ardósia e uma máquina fotográfica, o projeto «Sempre Quis Ser» ganhou vida, estando agora disponível para visita até 28 de Dezembro num dos locais de grande movimento de Lisboa. Isso permitiu aos autores cumprir um dos objetivos deste projeto – levar a exposição ao encontro das pessoas, neste caso aos clientes e transeuntes da estação Cais do Sodré, e levá-las a refletir sobre o fenómeno dos sem-abrigo e fazê-las lutar pelos seus sonhos, não permitindo que os seus objetivos caiam no esquecimento.
Para a realização desta exposição, os autores contaram com o apoio da ETIC e do Metropolitano de Lisboa, bem com a parceria ao nível da divulgação da Associação CASA – Centro de Apoio ao Sem Abrigo.
A exposição tem entrada livre. E será que algum dia a exposição poderá ser mostrada no Algarve, região de origem dos dois jovens criativos? «Para já, ainda só pensámos em levá-la ao Porto». Mas logo se verá.