O projeto fílmico «How to Become Nothing», do músico Paulo Furtado, vai ser apresentado num formato de filme-concerto este sábado, dia 11 de Março, às 21h30, no Teatro das Figuras, em Faro.
No espetáculo de amanhã, a banda sonora do filme será tocada ao vivo por The Legendary Tigerman e as imagens manipuladas em tempo real pelo realizador Pedro Maia.
O projeto «How To Become Nothing» junta The Legendary Tigerman (alter-ego de Paulo Furtado), a fotógrafa Rita Lino e o realizador Pedro Maia numa road trip pelo deserto da Califórnia. Quando lançou o projeto, o músico português tinha em mente lançar um disco.
«Eu decidi começar o álbum com um filme, de uma maneira bastante invertida, e convidar o Pedro e a Rita para escrevermos este projeto, que teria a ver com Tigerman, mas, para quem não conhecesse Tigerman, poderia ter a ver com qualquer outra coisa. É um filme completamente autónomo que não se limita ao meu universo musical», afirma Paulo Furtado ao Musicália/Sul Informação.
Esta é uma aventura, assumidamente a três, que foi sendo construída ao longo do próprio processo. É um falso diário em Super8 e fotografia, com textos de Paulo Furtado e fruto de três visões sobre a viagem de um homem pelo deserto que, mais do que desaparecer, procura chegar a nada, procura ser nada. O resultado final é uma longa metragem mas, no início, a ideia era outra.
«Nós tínhamos dois pressupostos: filmar uma média metragem e dois vídeo-clips para canções que ainda não existiam…(risos)». Porém, a meio da viagem, houve um momento determinante, que levou o mentor do projeto a uma tomada de decisão «técnica, na altura», mas que alterou todo o processo e que é, na realidade, resultado de uma paixão e da escolha de Paulo Furtado contrariar o digital e filmar em Super 8.
«Decidi: vamos abdicar dos vídeos-clips e focar-nos no filme, isto está a ficar muito sólido e nós precisamos de toda a película para filmar o filme. Essa é a decisão que permite que se torne uma longa metragem», contou.
As filmagens no deserto foram depois complementadas com outras, em Berlim, marcando a entrada no projeto de Rodrigo Areias e do Bando à Parte, como co-produtores, o que deu outra dimensão ao empreendimento e tornou possível terminar o filme e fechar a longa metragem.
«Acabou por ser um processo longo, quase um ano, mas muito interessante para os três. Foi um momento de aprendizagem muito grande. Fomos para o deserto em Maio do ano passado e só fechámos o filme há pouco tempo», afirma o músico.
A escolha por rumar ao deserto californiano teve, por um lado, uma razão muito prática, já que foi o local onde, mais tarde, Paulo Furtado gravou o seu novo disco, no Rancho de La Luna, no centro Joshua Tree. Ao mesmo tempo, encaixava na escolha estilística do autor, neste caso, no explorar de alguns conceitos e imaginários.
«O deserto é uma grande influência artística, que estive a estudar no últimos 3 anos, fiz produções, por exemplo para os Keep Razors Sharp, que, se olharmos para trás, não foram coincidência, já havia pressupostos que vim a utilizar», ilustrou o músico.
O deserto é também uma grande influência no próximo disco de Legendary Tigerman «que sai em Setembro e que não tem nada a ver com esta banda sonora, é algo completamente diferente». O músico confidencia que todo o seu novo álbum é composto durante a rodagem, muito influenciado por este personagem a que deu corpo e cujo sentido o público perceberá quando vir todos os objetos juntos. «Porque isto começa com um filme e com uma viagem, irá continuar com um disco e o filme irá fazer depois a sua carreira», enquadrou.
As bandas sonoras têm sido uma parte importante da vida artística de Paulo Furtado, que já compôs para cinema (Fuligem, The Secret Agent, Organização do Espaço, Estrada de Palha), teatro (Nós Somos os Rolling Stones, O Jogador) e até dança (O Baile) e, só este ano, tem mais três obras encomendadas para filmes nacionais e outra para um internacional.
Este tipo de trabalho é algo que, confessa, lhe dá imenso prazer. «Procurar uma sonoridade que tenha a ver comigo mas que sirva, de uma forma conveniente, um bem maior. É importante, para mim, estar desfocado, não ser o centro das atenções e ser um aparte numa máquina maior», disse Paulo Furtado.
No caso de «How To Become Nothing», o músico afirma que as influências de música eletrónica de Pedro Maia e Rita Lino o levaram a querer aproximar-se daquele que não é o seu universo, por sentir que era algo importante para eles. Mas, afima que nem sempre lhe é fácil encontrar o que chama o tom do filme.
«Posso passar semanas a procurar ao que é que o filme vai soar, quais é que são os instrumentos que vou usar, de que modo é que vai ser uma sonoridade particular. Isso é que demora muito tempo, é o processo mais intelectualizado, depois fazer a música é mais intuitivo», explicou.
No regresso à realidade dos discos originais de Tigerman, reflete-se o tempo passado a fazer bandas sonoras. O tempo gasto a procurar outras sonoridades, ou a explorar os instrumentos alarga o conhecimento do instrumentista e abre outros caminhos, que rumam a novas composições.
«O novo disco de Tigerman tem muito mais teclados, sintetizadores e eletrónica, porque eu os tenho usado cada vez mais nas bandas sonoras. Não gosto de me repetir de projeto para projeto, não gosto de fazer uma banda sonora e depois as pessoas ouvirem um acorde e pensarem, ah é ele! Gosto que elas sejam diferentes, mas que haja transpiração de aprendizagem e de coisas que vão acontecendo de umas coisas para as outras», revelou.
O músico confessa que, do contacto que tem tido com o público no final dos espetáculos, a reação tem sido positiva, com curiosidade por partes do filme e uma identificação como algumas das referências.
Mas Paulo Furtado deixa um pequeno alerta. «O filme é radical em alguns momentos e tem separado as águas, há quem goste muito e quem não goste nada. Mas é um filme honesto e uma procura de contar uma história que teria de ser contada assim e pela junção do meu universo, do da Rita e do do Pedro, tinha de ser, de alguma forma, radical», avisou.
O multifacetado artista assume que a atitude é encarar este, como outros projetos, como um manifesto de arte. Como tal, há um processo de produção dos seus autores, mas é importante que o público não saia indiferente.
«Desde que as pessoas, no final, estejam a pensar e que se questionem sobre o que viram, e até podemos falar sobre isso, acho que cumprimos a nossa função. Isso é mais importante do que passarem uma hora e meia tranquila e isso faz parte do pressuposto deste projeto», concluiu.
Os bilhetes para o espetáculo «How To Become Nothing» custam 12,5 euros para a 1ª plateia e 10 euros para a 2ª plateia.
Oiça a entrevista completa com Paulo Furtado: