António Lobo Antunes esteve este sábado à tarde na livraria Pátio de Letras, em Faro, onde lançou críticas ao estado da Cultura em Portugal e referiu que o poder político não quer que as pessoas leiam.
Frente a uma casa completamente lotada, com mais de uma centena de pessoas, o escritor veio a Faro no âmbito da promoção do seu último livro, “Comissão das Lágrimas”, e até começou por ironizar: «[Porque estou aqui?] Perguntem-lhe a ele», afirmou, apontando para o seu agente, dando a entender ter vindo obrigado.
Mas emendou a mão. «Não posso deixar de estar grato aos leitores, eles são a razão de eu estar aqui: mas numa altura tão difícil e injusta, em que tudo afasta as pessoas da Cultura e dos livros, estar aqui, hoje, é também, um ato de protesto», afirmou António Lobo Antunes.
Numa conversa informal que durou mais de uma hora, o escritor respondeu a todo o tipo de questões da audiência e lamentou que, em Portugal, não se faça «nada para trazer pessoas com valor para o País». «Não convém», adianta. «O que é que o partido antes deste fez pela Cultura? Nada. Este? Pouco», atirou Lobo Antunes, realçando que quem ainda faz alguma coisa pela Cultura em Portugal «são as autarquias e os livreiros».
Segundo um dos escritores mais importantes da atualidade, «é altamente importante para o poder político – que na verdade é económico – que as pessoas não leiam…», disse, explicando que «um povo culto exige outras coisas».
«Um povo culto não consente este tipo de existência em que vivemos agora e tem tendência para exigir. A cultura é perigosa e assusta o poder», afirmou António Lobo Antunes.