O Arquivo Municipal de Loulé recebe a 10 de novembro, pelas 15h00, a conferência “Compromissos, solidariedades e condutas de governação no Algarve Medieval”, apresentada por Maria de Fátima Botão.
No Algarve, o universo medieval plasma a vulnerabilidade da existência humana, as privações e as suas fragilidades, na regulação de formas de estar, de interagir e de governar as cidades e os concelhos.
Cada município exarava um conjunto de normas, de forma a assegurar os direitos e os deveres das populações, a segurança, a justiça, o trabalho, as atividades, o lazer, o aprovisionamento, o controlo dos preços, e disputando com entidades extrínsecas, o seu aproveitamento. Num mundo laboral crespo e difícil, não eram raros os constrangimentos colocados pelos compromissos para com a comunidade, a que cada um se via obrigado, de que é exemplo um alfageme louletano, coagido ao transporte e venda de peixe, em 1403, entre outros casos que se poderão referir.
A articulação dos concelhos com os respetivos espaços rurais, e com o nacional a que pertenciam, traçava, por sua vez, os compromissos com as demais estruturas urbanas regionais. Nenhuma podia dispensar a fusão de sinergias para reagir a decisões institucionais, financeiras ou económicas, que lhe feriam direitos e interesses próprios; essa fusão de esforços era sobretudo importante, quando as embarcações que ferravam num ou noutro porto trazendo o elementar cereal, obrigavam, como moeda de troca, a quantias avultadas de figos ou de passas que, individualmente, cada município não tinha como arranjar.
Cooperava-se, assim, em nome de uma ideal “harmonia”, numa rede de partilha e de solidariedade, oportunamente evocada, quando a associação de forças se tornava decisiva.
Maria de Fátima Botão é doutorada em História, com distinção e louvor, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem repartido as suas atividades profissionais entre o ensino, e a investigação, sendo Investigadora Integrada do C.E.H. da Universidade Nova de Lisboa.
Marcada pela orientação e influência de historiadores como A.H. de Oliveira Marques e Iria Gonçalves, iniciou cedo, ainda estudante, as suas atividades de investigação sobre o Algarve, no período medieval. Desde então, os seus trabalhos têm confirmado um especial interesse pela História medieval da região, bem como pela Didática da História, procurando, muitas vezes, aliar as perspetivas históricas à sua operacionalidade pedagógica, refletindo-se tal facto nos seus estudos sobre Cidadania ou sobre História Regional e Local.
É autora de diversos livros e artigos, podendo, entre outros, citar-se Silves, a capital de um Reino Medievo (CMS), O Foral de Porches (Focus Algarve Editora), O Foral de Loulé.1504 (CML/Caleidoscópio), Particularismos do Regime Senhorial no Algarve Medievo. Para uma Abordagem Pedagógica da História Local (A.P.H.), “Ciência e Didática da História. Alguma Reflexões”(in O Ensino da História, A.P.H.), Conflitos de Poder e Práticas de Cidadania em Silves Medieval (AEDPHCS), entre outros.
O seu último trabalho, A Construção de uma Identidade Urbana no Algarve Medieval. O Caso de Loulé (CML/Caleidoscópio) alcançou, em 2010, a primeira distinção, no prémio Almeida Fernandes, o único do país a galardoar obras sobre História Medieval Portuguesa.