O presidente da Câmara de Vila Real de Santo António saiu em defesa dos médicos cubanos que trabalham em Portugal, na sequência de declarações do Bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel da Silva, que alega que o Ministério da Saúde nunca ofereceu aos médicos portugueses as condições que está a oferecer aos clínicos cubanos, que ganham três vezes mais do que os seus colegas portugueses.
«Enquanto jovens e menos jovens especialistas portugueses estão a emigrar porque são pagos com vencimentos líquidos de cerca de oito euros à hora, os colegas cubanos sem especialidade são pagos por valores três vezes superiores», frisou José Manuel da Silva à TSF, ao mesmo tempo que garantia que, caso fossem oferecidas as mesmas condições aos médicos portugueses, não haveria problemas em preencher vagas no Algarve e Alentejo.
«O Bastonário da Ordem dos Médicos ignora o resultado global da parceria dos médicos cubanos a exercer funções no Serviço Nacional de Saúde, bem como os benefícios que isso trouxe para a população portuguesa. Só em 2014, os médicos cubanos a exercer funções em Portugal efetuaram mais de 131 mil consultas. Se recorrermos ao histórico, desde 2009 foram efetuadas pelos médicos cubanos mais de 1,5 milhões de consultas», contrapôs Luís Gomes, um dos primeiros autarcas a apostar em acordos com Cuba, na área médica.
Segundo o Bastonário, haverá um «acordo secreto» entre o Governo português e cubano, que prevê um pagamento de mais de 4200 euros a Cuba, do qual apenas cerca de um quarto é, efetivamente, pago aos clínicos. Neste momento, haverá 52 médicos cubanos a trabalhar em Centros de Saúde de todo o país.
Já Luís Gomes, lembra que há outras situações em que médicos são pagos bem acima do que é prática habitual no SNS. «É sintomático que o Bastonário da Ordem dos Médicos não comente os contratos de prestação de serviços sistematicamente mantidos pelo Serviço Nacional de Saúde com algumas empresas que agenciam médicos, esses sim com preços absolutamente pornográficos e com resultados e desempenho desconhecidos», alegou o autarca vilarealense.
«É igualmente estranho que o Bastonário fale dos contratos efetuados com os serviços médicos cubanos e em momento algum os compare aos contratos que o Estado mantém com as empresas que agenciam médicos a preços exorbitantes», reforçou.
Para Luís Gomes, as declarações de José Manuel da Silva foram «deselegantes», tendo em conta que os médicos cubanos «estão a exercer funções em locais onde os médicos portugueses não querem estar». «Prova disso são os concursos abertos para zonas como o Algarve terem vagas por preencher e não merecerem qualquer comentário do senhor Bastonário», acusou.
«Como presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e autarca que contactou com outros municípios que têm médicos cubanos ao seu serviço, posso atestar a elevada qualidade dos clínicos e a satisfação dos serviços prestados, o que levou outros autarcas e as próprias populações a solicitar a vinda de mais clínicos», assegurou Luís Gomes.